Economistas alertam que descaso com política fiscal torna o mandato do petista semelhante ao de sua criatura
ReproduçãoA Moody’s subiu a nota de classificação de risco do Brasil, o que deixou o país a um passo do grau de investimento. No entanto, já há quem vaticine que haverá novo rebaixamento em dois ou três anos. É o que destaca o jornal O Estado de S.Paulo em editorial desta quartafeira, 10, O motivo, segundo a publicação, está na constatação de que o crescimento brasileiro está sendo puxado pelo aumento dos gastos públicos e, por isso mesmo, é insustentável. + Leia mais notícias de Imprensa em Oeste “É um crescimento de uma economia a pleno-emprego, turbinado pelos gastos públicos, com salários correndo além da produtividade do trabalho, exportações líquidas como proporção do PIB em queda e rentabilidade das empresas em queda”, disse ao Estadão o economista Samuel Pessoa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). “Tudo isso aponta para uma trajetória de crescimento insustentável.” “O Brasil está correndo severo risco fiscal”, alertou o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Márcio Holland. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Holland lembrou que em 2012 os problemas fiscais que levariam à recessão já eram “identificáveis”. Mas, naquela época, disse o economista, o governo foi adiando medidas dolorosas de ajuste para não comprometer a popularidade de Dilma.
Segundo o economista, o mesmo está acontecendo agora. “Nós estamos adiando um ajuste fiscal”, afirmou. “E eu estou antecipando, com riscos de análise, que, como há eleições em 2026, (…) existe uma chance de a gente adiar esse ajuste de novo.” Para Holland, “a gente vai ter um Lula 3 muito parecido com Dilma 1, que foi um período em que, em certo momento, já havia a necessidade de ajuste fiscal”. Samuel Pessoa é ainda mais pessimista: “É um cenário muito parecido com o governo Dilma 2″ – aquele em que o Brasil mergulhou na recessão. Mas Pessoa considera que a desorganização da economia não começou com Dilma, e sim com o próprio Lula em seu segundo mandato. “Ou seja, o descuido com o equilíbrio fiscal é uma espécie de marca registrada do lulopetismo, que Dilma apenas acentuou em razão de suas teimosias ideológicas”, diz o Estadão. Escalada do endividamento do governo Lula é fruto de negligência Para o jornal, a negligência com a política fiscal se traduz na escalada do endividamento público a um ritmo que impressiona, devendo chegar a até 82% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2026, um nível de comprometimento muito superior ao dos países emergentes. Tudo isso num cenário de juros altos e sem uma arrecadação que garanta solvência.
Caso a projeção se confirme, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai deixar como saldo um aumento de 14 pontos porcentuais do PIB para a dívida. “E não conseguimos enxergar nenhum processo de estabilização, de reversão dessa tendência”, afirma Pessoa. Não foi à toa, portanto, que a avaliação otimista da Moody’s surpreendeu todo o mercado. “A Moody’s deu um voto de confiança 09/10/2024, 07:52 Lula está cada vez mais parecido com Dilma, diz Estadão https://revistaoeste.com/imprensa/lula-esta-cada-vez-mais-parecido-com-dilma-diz-estadao/ 4/8 muito grande ao governo”, disse ao Valor o economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida. Entre 2016 e 2020, ele ocupou as secretarias de Acompanhamento Econômico e do Tesouro Nacional.
Mansueto colocou em dúvida a capacidade do governo de tomar medidas para fortalecer o arcabouço fiscal, de modo a conquistar o desejado grau de investimento, como recomendou a Moody’s. “É uma incerteza”, disse. “Já há acordo político? Qual a concordância, na base do governo, com essas medidas, e quais são elas? A gente escuta da área econômica que há, sim, um esforço e que, possivelmente, serão apresentadas medidas para mudar a dinâmica do gasto obrigatório, mas ninguém sabe quais são essas medidas.” Leia também: “Lula diz que Netanyahu ‘mata inocentes’ para se manter no poder” Assim, segundo o Estadão, é compreensível o comedimento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que, em vez de comemorações efusivas, preferiu aproveitar a deixa para pedir ao “governo como um todo” – Lula inclusive – que leve a sério a necessidade de equilíbrio fiscal. “O que se tem visto até aqui, no entanto, é uma batalha quase solitária de Haddad e sua equipe para fechar as contas”, avalia a publicação. “O problema é que, num governo notoriamente gastador, sobrou para o ministro basear seu esforço na arrecadação – mas esse espaço, politicamente, já acabou.”
Revista Oeste