O Ocidente falhou no teste moral de 7 de outubro. Nunca mais devemos falhar dessa forma | Foto: Reuters/Mariana Nedelcu
Chegou o momento: o aniversário do retorno do fascismo. O ataque do Hamas completou um ano. Um ano desde que esse exército de antissemitas invadiu o Estado judeu e causou um terror indescritível ao seu povo. Um ano desde que os ódios atávicos do século passado saltaram das páginas dos livros de história e se imprimiram violentamente no nosso mundo complacente. Um ano desde que o pacto que a humanidade fez depois da Segunda Guerra Mundial — “Nunca Mais” — foi transformado em areia no deserto de Neguev e nos kibutzim do sul de Israel.
Primeira e principalmente, é tempo de lembrar os mortos. Os judeus e seus aliados vão acender velas em homenagem às mais de 1,1 mil vidas extintas pelos fascistas do Hamas. As pessoas vão dizer “Nunca Mais” de novo. No entanto, ao mesmo tempo que relembramos a desumanidade do que o Hamas fez em Israel em 7 de outubro, vamos pensar no que aquele dia tão sombrio revelou sobre nossas próprias sociedades também. O que isso nos revelou não apenas sobre o Hamas, a máquina de matar judeus que se disfarça de movimento de libertação nacional, mas também sobre nós. Sobre quanto nos afastamos do caminho da razão. Sobre nossa traição à civilização. Na minha opinião, houve dois horrores em 7 de outubro do ano passado. Houve o horror do que o Hamas fez. O estupro, sequestro e assassinato de mais de mil judeus. A execução do pior ato de violência antissemita desde os nazistas.
O sadismo arrogante e jubiloso — nunca nos esqueçamos de que essa milícia racista se deleitou com suas atrocidades, filmando-as para a posteridade e até mesmo ligando para casa para se gabarem diante de seus entes queridos de quantos judeus haviam sido massacrados. Depois, houve o horror da reação do Ocidente. O horror do nosso fracasso — nosso imperdoável fracasso — em dar apoio aos judeus contra seus perseguidores.
Eu sabia que a reação dos formadores de opinião e das elites autodenominadas “progressistas” do Ocidente seria ruim. Aliás, no próprio dia 7 de outubro de 2023, quando o número de mortos confirmado era apenas 20, eu avisei aqui mesmo na Spiked que os comentaristas do Ocidente falsamente celebrariam esse ataque como uma “rebelião”, como um “ato de resistência”. E ao fazer isso, argumentei, eles exporiam ao mundo “a real extensão” da “decomposição moral” do Ocidente. No entanto, nem mesmo eu poderia imaginar quanto as coisas iam piorar. A profunda crise moral do Ocidente
Nem mesmo eu previ que, na cidade de Nova York, alguém espalharia merda em um pôster que dizia “sequestrado” com a imagem do judeu de 12 anos que foi sequestrado pelo Hamas. Nem eu imaginei que bigodes de Hitler seriam pintados no rosto dos gêmeos de três anos sequestrados pelo Hamas. Nem eu imaginei que os ativistas “próPalestina” glorificariam os terroristas de parapente que desceram no Deserto de Neguev para massacrar jovens judeus. Nem mesmo eu previ que as nossas mais altas cadeiras na educação seriam invadidas por gangues de simpatizantes privilegiados do Hamas, que rotulariam o Estado israelense de “os porcos da Terra” e mandariam os judeus “voltarem para a Polônia”.
Nem eu poderia imaginar que os esquerdistas do meu próprio país descreveriam a matança de judeus pelo Hamas como um “dia de celebração”. Nem eu poderia ter previsto multidões de jovens de classe média-alta nas nossas ruas aplaudindo o Houthi, um movimento violento e racista cuja bandeira grotescamente diz “uma maldição sobre os judeus”. Nem eu poderia ter previsto multidões de odiadores de Israel se reunindo do lado de fora da Opera House, em Sydney, para gritar “fodam-se os judeus!” e, pior ainda, sem que a esquerda dissesse nada sobre isso. Uma esquerda que passou a última década condenando tudo o que a desagrada e chamando de “fascismo”vergonhosamente em silêncio diante do verdadeiro fascismo. Diante do massacre de judeus e da sua apologia nas nossas próprias cidades.
Repreensível não é o suficiente.
O que vimos no ano passado é que, quando são convidados a rejeitar a civilização ocidental, os jovens em especial podem muito bem cair na tentação de se jogar nos braços de seu oposto: a barbárie. Quando se educa uma nova geração para desconfiar do Ocidente, para ver nossa pretensão de sermos iluminados apenas como arrogância e bravata do homem branco, você pode simplesmente empurrá-los para o colo dos inimigos do Ocidente.
Quando se retrata a sociedade ocidental como decaída, racista, fóbica, uma merda — como muito do pensamento da moda faz agora —, o antiocidentalismo e até mesmo o antiocidentalismo violento passam a parecer exóticos, atraentes. A simpatia pelo Hamas nos nossos campi universitários e nas ruas é fundamentalmente uma extensão da própria crise de significado do Ocidente, da negação de nossas próprias percepções, da nossa traição à nossa história.
Uma batalha pela alma da humanidade deve ser travada agora. Em duas frentes. Na frente física das fronteiras de Israel, onde alguns dos movimentos mais regressivos da Terra, patrocinados pela República Islâmica do Irã, desejam e promovem abertamente a destruição da única nação judaica do mundo. E na frente intelectual aqui em casa. Na Academia, na política, nos corações e nas mentes. Apenas uma defesa veemente das virtudes e das maravilhas da civilização ocidental pode combater o desarranjo moral dos nossos tempos e o ódio aos judeus que ele alimenta. Devemos aos mortos de 7 de outubro o apoio a Israel e o consertar de nossas próprias sociedades destruídas.
Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Seu novo livro, After the Pogrom: 7 October, Israel and the Crisis of Civilisation, foi lançado em 2024. Brendan está no Instagram: @burntoakboy Leia também “A desonestidade do Ocidente em relação ao Líbano”
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