Fazendeiros de Idaho enfrentam um racionamento de água que pode levá-los à falência. Mas há algo além por trás disso
Imagem ilustrativa.| Foto: Rogério Machado /Gazeta do Povo
A vilanização dos produtores de alimento segue em larga expansão mundo afora. Desde que alguns especialistas concluíram que os gases liberados pelos bois e vacas estão destruindo o mundo por meio do aquecimento global, uma nova máxima surgiu: “Se você come carne, você está financiando o fim da humanidade”. Já escrevi artigos aqui contestando essa interpretação.
No presente artigo, gostaria de trazer um novo episódio dessa “novela”. E o palco agora é o estado norte-americano de Idaho. A informação oficial apresentada pela mídia explica que os agricultores no leste do estado estariam enfrentando uma situação crítica, devido a uma limitação severa no acesso às águas subterrâneas, após supostamente quebrarem um acordo de 2016 sobre uso de água, o que deixou em situação crítica 500.000 acres de terras agrícolas. Segundo matéria de ontem (19), os fazendeiros conseguiram chegar a um acordo com os órgãos estaduais para encerrar o racionamento. Porém, um fato estranho está acontecendo simultaneamente, e que pode ter desempenhado um papel na imposição das restrições. E há uma estranha conexão com a Ucrânia. Vamos lá.
Matt Kim pergunta se a estratégia seria não apenas garantir o uso de água pela empresa exploradora de cobalto, mas também quebrar financeiramente os fazendeiros
O apresentador Matt Kim levantou informações estranhíssimas num episódio recente de seu podcast. Ele explica que a recente ajuda de 4,5 bilhões de dólares liberados para Kiev acabou destinando 15 milhões para uma empresa de exploração de cobalto realizar pesquisas exatamente no estado de Idaho, segundo informação veiculada no último dia 15 no próprio site oficial do Departamento de Defesa dos EUA. O orçamento foi organizado pelo setor de defesa porque o exército norte-americano utiliza o cobalto para baterias de alta capacidade para seus veículos elétricos, conforme explicado por matéria recente da agência Reuters no último dia 15. O objetivo de reorientar para Idaho um valor destinado ao conflito na Ucrânia seria diminuir a dependência dos EUA da importação do cobalto, aumentando sua capacidade militar relacionada a seus veículos elétricos.
Sabemos que o cobalto também é utilizado nas baterias de telefones e computadores, além dos veículos elétricos comerciais. O detalhe é que a exploração de minerais dessa natureza, como é o caso do cobalto, demandam uma enorme quantidade de água, conforme explica um estudo no site do “World Resources Institute”:
“A maioria dos métodos usados para extrair minerais críticos hoje em dia requerem quantidades significativas de água para separar os minerais, resfriar máquinas e controlar a poeira. Os resíduos da mineração e do processamento, incluindo minerais e produtos químicos residuais, também podem contaminar a água nas comunidades próximas”.
O estranho é que o anúncio do racionamento de água para os fazendeiros foi realizado pelo Departamento de Água de Idaho no dia 31 de maio deste ano. Ao mesmo tempo, foi anunciado que em junho de 2024 a empresa começaria a perfurar o solo em busca do cobalto “24 horas por dia”. Isso tudo, no mesmo momento em que foi anunciado em abril que a empresa Micron receberia um financiamento de 6 bilhões de dólares para criar três fábricas de chips exatamente em Idaho. Seria coincidência?
Partindo da informação veiculada na mídia de que os fazendeiros declararam que iriam à falência se o racionamento de água continuasse, Matt Kim pergunta se a estratégia seria não apenas garantir o uso de água pela empresa exploradora de cobalto, mas também quebrar financeiramente os fazendeiros, de modo que a exploração do mineral pudesse acontecer também em suas terras.
Independentemente das reais intenções, fato é que a vida dos produtores de comida não está nada fácil. Num mundo em que os maiores produtores de grãos e fertilizantes estão envolvidos numa guerra que já dura anos (estou falando sobre Rússia e Ucrânia), parece que o Brasil vai se destacando como uma das últimas fronteiras para garantir a segurança alimentar do planeta. Mas até quando?
Daniel Lopes, Gazeta do Povo