Ministro da Fazenda, Fernando Haddad| Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda
O ministro Fernando Haddad, quando se faz direito as contas, não tem inimigos fora do governo. Muita gente atira contra ele, e há muito tempo, mas o tiroteio para valer não vem da oposição. Vem justamente de onde não deveria vir – dos colegas do “Brasil Voltou”, os gatos gordos que se movem 24 horas por dia no Palácio do Planalto, dão tapinhas nas suas costas e gostariam que ele caísse morto o mais depressa possível. Faz sentido.
De um lado, Haddad não pode ser demitido pelo “bolsonarismo”, pelos “terraplanistas” e por ninguém que não tenha crachá de petista graúdo. Ao contrário: quem tem condições objetivas de acabar com ele é a chusma que roda em volta de Lula, de Janja e de seu sistema. De outro lado, o ministro da Fazenda dá de vez em quando a impressão de que está tentando acertar alguma coisa – uma vela, aqui e ali, numa casa sem luz. Não há nada que deixe o mundo de Lula e do PT tão transtornado quanto isso.
Entende-se que Haddad não possa se defender em público do pelotão de fuzilamento que está na sua cola. Mas parece bobo, francamente, ele ficar batendo boca com deputado da oposição que pode falar um monte de coisas, mas não pode assinar a sua exoneração. Ainda agora, Haddad se estressou num debate na Câmara dos Deputados em que foi chamado de negacionista por negar alguns números negativos da economia – pelo que deu a entender, a palavra só pode se referir a quem “é contra a vacina” ou acha que “a terra é plana”.
Por conta disso, acusou os críticos de inconformismo com os preceitos da ciência, quando estavam falando apenas de números. Provavelmente na mesma hora, como acontece nos dias pares e nos dias ímpares, alguém do próprio governo estava armando mais alguma crocodilagem contra ele. É aí, e sobretudo nas realidades do mundo material, que está o seu verdadeiro problema.
O ministro da Fazenda, desde o seu primeiro dia no cargo, vem tentando fazer tudo o que consegue para levar adiante o único programa econômico do governo Lula: gastar mais do que pode e socar imposto em cima da população para não ficar em situação de bancarrota explícita. “Gasto é vida”, diz Lula. Não é nada disso, como se sabe.
Gasto é encher o bucho de uma máquina estatal que consome doze refeições por dia e vive querendo mais; o “povo” e os “pobres” nunca veem, na verdade, um tostão disso tudo, como nunca viram os últimos 50 anos de despesa, dívida e déficit. Vale qualquer coisa. Imposto sobre tudo que se move. Imposto sobre tudo o que está parado. Imposto sobre “grandes fortunas”. Imposto sobre pequenas compras. Enfim: tudo serve.
O problema é que nada é suficiente. O ministro tem de arrumar dinheiro para Lula. Mas também tem de atender as exigências da sua demagogia. Haddad, para ficar só num exemplo, inventou de taxar as compras de até 50 dólares na internet, que estavam isentas de imposto. Contou, na ocasião, com o apoio até de Janja – a quem convenceu da prodigiosa noção de que o imposto seria pago “pelas empresas”, e não pelo consumidor.
É claro que quem tem de pagar é quem compra – mas é claro, ao mesmo tempo, que isso é uma das piores ideias que alguém pode ter para agradar as pessoas “em situação de pobreza”. Como se diz no turfe, “deu a lógica”. Quando achou que isso pode lhe custar votos, Lula já saiu dizendo que o imposto é ruim, porque só vai pegar “bugiganga”, segundo explicou, e prejudicar “as meninas pobres”. Haddad, agora, que dê um jeito. O esquadrão que quer a sua cabeça bate palmas, mais uma vez.
J.R. Guzzo, Gazeta do Povo