'Jornalistas' acusam Bolsonaro de ser o inimigo da liberdade de opinião, mas quem agride a imprensa é Renan Calheiros
Quase todos os jornalistas brasileiros estão convencidos, há muito tempo, de que o presidente Jair Bolsonaro é o principal inimigo da imprensa no Brasil.
É, por isso, a maior ameaça à liberdade de opinião que a sociedade brasileira está tendo de enfrentar no momento, e sua conduta nessa área é, justamente, uma das maiores provas — segundo a mídia — de quanto ele trabalha para destruir a democracia neste país.
É indiscutível, também há muito tempo, que o presidente não vai com a cara da imprensa e dos jornalistas — da mesma forma como a imprensa e os jornalistas não vão com a cara dele.
É uma clássica soma zero, e será mais fácil o camelo da Bíblia passar pelo buraco de uma agulha do que um e outros possam mudar de opinião.
Mas tirando essa questão de sentimentos mútuos, quais as ações concretas que Bolsonaro ou o seu governo, até agora, tomaram contra a imprensa — fatos concretos, e não xingamento de mãe?
O que interessa é isso, e só isso.
É por aí que vai se ver como está, na vida real, a liberdade de imprensa no país.
O governo federal, desde que começou a funcionar, já praticou atos objetivos contra a imprensa?
Sabe-se muito bem que atos são esses — censura, prisão de jornalistas, discriminação entre veículos, pressão econômica, processos na justiça, perseguições pessoais, agressões e o resto dessa procissão tão típica de todas as ditaduras.
De duas uma: ou praticou ou não praticou.
Se praticou, está agindo contra a liberdade de imprensa. Se não praticou, não está fazendo nada.
Para a oposição, a esquerda e a mídia, o governo não faz outra coisa a não ser perseguir a imprensa — na verdade, quase não tem tempo para fazer mais nada.
O levantamento, recentemente publicado, de uma organização apresentada como técnica e neutra na área de monitoramento das liberdades chega a dizer que Bolsonaro, desde a posse, tomou exatamente 464 decisões públicas contra a imprensa — nem mais nem menos.
Essa mesma organização se declara a favor do incêndio à estátua de Borba Gato, em São Paulo, age em conjunto com o “movimento negro” e acredita que a vereadora Marielle é a “vanguarda da transformação política no Brasil”.
Mas as suas contas são apresentadas pelos meios de comunicação como verdade cientifica e definitiva, publicadas como fato indiscutível — um modelo de isenção e de precisão jornalística.
E na vida como ela é — o que está acontecendo? Na vida como ela é, o senador Renan Calheiros, o novo herói dos jornalistas brasileiros, pratica, aí sim, um ato objetivo de agressão contra um veículo de imprensa: pediu a quebra do sigilo bancário da rádio Jovem Pan de 2018 para cá, com a desculpa de investigar se ela estaria ganhando dinheiro para divulgar “notícias falsas” sobre a covid.
O requerimento é grosseiramente ilegal; além disso não tem pé nem cabeça.
O que o ano de 2018 poderia ter a ver com uma epidemia que começou em 2020? Que notícia “falsa” a emissora divulgou até hoje?
É tudo mentira, unicamente isso: Renan está atacando a Jovem Pan porque quer calar programas jornalísticos independentes que o incomodam.
É essa a “liberdade de imprensa” que os atuais defensores “da democracia” querem no Brasil.
A única pergunta decente que se poderia fazer a respeito disso é: “Quantas vezes, naqueles ‘464’ atos de ataque à imprensa, o governo Bolsonaro pediu a quebra do sigilo bancário de um veículo ou de algum jornalista?”
A resposta é: nenhuma.
Da mesma maneira, o único jornalista preso hoje no Brasil está privado da sua liberdade por ordem do Supremo Tribunal Federal, acusado de ofender a “democracia”.
A mídia brasileira de hoje vive no meio de uma mentira gigante.
Publicado originalmente na Gazeta do Povo
Revista Oeste