Dick Morris, analista político, jornalista e assessor de candidatos presidenciais à Casa Branca, escreveu o livro Jogos do Poder – Ganhar ou perder: As estratégias dos grandes líderes da história (Ed. Record, RJ – 2004).
Na introdução, emite dois conceitos cuja simplicidade arrepia os cientistas sociais: “A política é a busca do poder. A história é o relato dessa busca”. Estamos conversados.
Mais adiante, menciona: “Em cada geração política, o primeiro que dominar uma nova forma de tecnologia da comunicação leva imensa vantagem”. Exemplifica com Roosevelt que utilizou o rádio, a partir de 1933 até 1945, com um programa chamado “conversa ao lado da lareira” (fireside chats) em tom intimista e direto com a população. Roosevelt manteve o povo americano mobilizado em momentos críticos – a grande depressão e a segunda guerra mundial – e foi o único presidente americano a se reeleger por quatro períodos de governo.
Kennedy deu-se bem com a televisão: sua imagem jovial derrotou o taciturno Nixon por uma pequena maioria de votos.
O uso pioneiro da internet elegeu Obama. O twitter foi fundamental na vitória do outsider Donald Trump.
A nossa eleição presidencial entrou com força na onda internáutica. Há uma leitura consensual da vitória do Candidato Bolsonaro sem estrutura partidária e com os minguados oito segundos no horário eleitoral: os votos anti (PT, o stabilishment, sentimentos difusos de medo, raiva e insegurança) e o uso intensivo do aplicativo WattsApp.
Agora, não há mais candidato. O lugar é de presidente eleito. Mudou o lugar, muda o poder da palavra. Na política, a palavra, o silêncio, o gesto, o olhar, o riso, o aceno, tudo tem significado e potência. É possível ganhar a eleição navegando nas nuvens da internet, mas é impossível governar sem o poder da palavra, cuja potência se legítima quando apoiada no valor democrático do diálogo.
E governar impõe ao líder o dever de escutar, anunciar, explicar, convencer e compreender que o diálogo pressupõe uma teia de relações com o Congresso, o Judiciário, aliados e oposição, imprensa, movimentos sociais, a população, enfim, com os “corpos intermediários” que integram a dinâmica da democracia política.
Na experiência atual das sociedades em rede, as mídias sociais empoderam e mobilizam a cidadania para o bem ou para mal das democracias. Para o bem, fortalecem o governo de proximidade e favorecem a transparência. No entanto, para enfrentar o desafio da velocidade das mudanças e cumprir a missão transformadora do poder não basta tuitar.
Gustavo Krause é ex-ministro da Fazenda no governo Itamar
Com Blog do Noblat, O Globo