segunda-feira, 26 de novembro de 2018

'Duro de matar' 30 anos: como a soneca de um escritor no cinema inspirou um clássico dos filmes de ação

Bruce Willis em 'Duro de matar' (1988) Foto: Reprodução
Bruce Willis em 'Duro de matar' (1988) Foto: Reprodução


LONDRES — Esta semana marca os 30 anos do cerco no Nakatomi Plaza, um superprédio fictício em Los Angeles tomado por uma gangue de terroristas alemães. O edifício serve como cenário para "Duro de matar", de John McTiernan, um dos filmes de ação mais cultuados de Hollywood.

Como sabemos, os planos malignos dos bandidos foram frustrados pelo policial John McClane (Bruce Willis), que estava no prédio por acaso — ele foi à festa de Natal do escritório de sua ex-mulher Holly (Bonny Bedelia), para tentar uma reconciliação.

Apesar da ação se passar no fim de novembro de 1988 (era um filme natalino, afinal), o longa foi lançado inicialmente no dia 12 de julho daquele ano, em Los Angeles, antes de chegar ao demais cinemas americanos três dias depois — no Brasil, o lançamento foi no dia 27 de outubro.
O filme custou, à época, apenas US$ 28 milhões, mas arrecadou mais de US$ 140 milhões, uma marca significativa que serviu como parâmetro e influência para diversos blockbusters de ação que o seguiriam — desde "A força em alerta" (1992) e "Velocidade máxima" (1994) a "A rocha" (1996), "Con Air: A rota da fuga" (1997), até, mais recentemente, "O ataque" (2013), com Channing Tatum e Jamie Foxx.
O último longa de Dwayne "The Rock" Johnson, "Arranha-céu: Coragem sem limite", lançado em julho, é a mais recente e uma das mais evidentes imitações de "Duro de matar" até hoje.
"Duro de matar" fez de Bruce Willis uma estrela de Hollywood — até então, ele era mais conhecido por seu papel cômico como um detetive particular na série "A gata e o rato" (1985-89), contracenando com Cybill Shepherd. O longa ainda consagrou internacionalmente o britânico Alan Rickman (1946-2016), por sua atuação memorável como o grande vilão Hans Gruber.
Dennis Hayden, Alan Rickman e Bonnie Bedelia em 'Duro de matar' Foto: Reprodução
Dennis Hayden, Alan Rickman e Bonnie Bedelia em 'Duro de matar' Foto: Reprodução

O filme de John McTiernan tornou-se um fenômeno da cultura pop, gerando quatro sequências até o momento e cultivando uma base de fãs fiel, muitos dos quais afirmam que "Duro de matar" é o melhor filme de Natal de todos os tempos — poucos deles são mais fervorosos que Jake Peralta (Andy Samberg), o protagonista da série de comédia "Brooklyn Nine-Nine".
O que talvez seja menos sabido é que o filme foi baseado em um romance: o thriller "Nothing lasts forever", de Roderick Thorp, lançado em 1979, que não chegou a ter edição brasileira. O livro é uma sequência do trabalho anterior de Thorp, "The detective" (1966), que acompanha o detetive novaiorquino Joe Leland, contratado por uma femme fatale e envolvido numa teia de mentiras.
"The detective" também foi adaptado para o cinema: "A lei é para todos" (1968), de Gordon Douglas, teve Frank Sinatra no papel principal.
Capa do livro 'Nothing lasts forever', de Roderick Thorp Foto: Reprodução
Capa do livro 'Nothing lasts forever', de Roderick Thorp Foto: Reprodução
A ideia para fazer uma sequência com o mesmo personagem veio a Thorp enquanto ele assistia a "Inferno na torre" (1974), filme de John Guillermin sobre um arranha-céus em chamas estrelado por Paul Newman e Steve McQueen. Segundo a lenda, Thorp cochilou no cinema e sonhou com o seu Joe Leland sendo perseguido em um arranha-céus por bandidos armados.
O resultado disso, "Nothing lasts forever", é bastante similar ao enredo da obra-prima de McTiernan, exceto algumas mudanças de nomes. Leland obviamente virou McClane; Gruber também está no livro, mas é conhecido como Anton "Little Tony the Red" Gruber; a torre em si é a sede da Klaxon Oil Corporation, não o prédio comercial Nakatomi. O sargento Al Powell, interpretado por Reginald VelJohnson no cinema, também está fidedignamente nas páginas.
O sargento Al Powell, interpretado por Reginald VelJohnson Foto: Reprodução
O sargento Al Powell, interpretado por Reginald VelJohnson Foto: Reprodução
Produtores tinham a esperança de que Sinatra voltaria a fazer Leland na sequência, mas o crooner alegou estar muito velho na época — o convite foi feito em meados de 1980, quando Sinatra já tinha seus 70 anos — e o papel foi oferecido para Arnold Schwarzenegger. O fortão também recusou a oferta, e Willis acabou sendo escalado como protagonista.
Embora Bruce Willis não tenha aparecido proeminentemente nos primeiros cartazes do filme devido à sua relativa obscuridade, sua atuação impecável para o papel se mostrou central para o apelo que "Duro de matar" viria a ter. Como o trailer dizia: "John McClane é um homem fácil de se gostar, mas um homem duro de matar".
Bruce Wilis foi John McClane após Sinatra e Schwarzenegger negarem o papel Foto: Reprodução
Bruce Wilis foi John McClane após Sinatra e Schwarzenegger negarem o papel Foto: Reprodução
O romance de Thorp, porém, não foi a única influência literária surpreendente de "Duro de matar". No roteiro original, o cerco de Gruber durou três dias. Mas McTiernan decidiu mudá-lo para que a ação se passasse ao longo de uma única noite depois de ler o clássico de Shakespeare "Sonho de uma noite de verão".




Joe Sommerland, do 'Independent'