Não é incomum em Brasília que presidentes joguem auxiliares no óleo quente. Mas Jair Bolsonaro decidiu inovar. Trocando a frigideira pelo facão, ele submete os hipotéticos poderes do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) a um inédito processo de fatiamento. Ainda na fase de transição, o capitão arranca lascas da Casa Civil da Presidência da República antes de entregar o posto ao futuro ministro.
Bolsonaro ainda era candidato quando informou que Onyx seria o seu chefe da Casa Civil. Como o enxugamento do organograma da Esplanada dos Ministérios era um compromisso de campanha, criara-se a expectativa de que o deputado do DEM viraria um superministro, absorvendo outras pastas com gabinete no Planalto. Sucede, entretanto, algo bem diferente.
Onyx coordenava sozinho a transição de governo quando, de repente, Bolsonaro incluiu no jogo o advogado Gustavo Bebianno, ex-presidente do PSL. Indicou-o para o posto de ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência. Será o gerente do pote de verbas publicitárias do governo. E passou a ser visto como interlocutor alternativo no Planalto para congressistas que não suportam o futuro chefe da Casa Civil.
Onyx apressou-se em informar, ainda na semana passada, como ficaria o organograma dos ministérios palacianos com a chegada de Bebianno: “Tem a Secretaria de Governo, a Casa Civil e a Secretaria-Geral da Presidência da República. Então, ficarão apenas duas estruturas: a Secretaria-Geral da Presidência e a Casa Civil. A Secretaria de Governo não vai mais existir.”
Sob Michel Temer, a Casa Civil coordena os demais ministérios e a Secretaria de Governo cuida da articulação com o Congresso. Com suas declarações, Onyx dera a entender que acumularia as duas tarefas. A ilusão que rapidamente desfeita pelos fatos.
Nas pegadas dos comentários de Onyx, Bolsonaro atribuiu ao vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, a tarefa de coordenar, a partir do Planalto, os programas estratégicos dos ministérios. Fez mais: nesta segunda-feira, indicou outro general, Carlos Alberto dos Santos Cruz, para comandar a Secretaria de Governo, aquela pasta que Onyx dissera que deixaria de existir.
O general Santos Cruz especializou-se em segurança pública. Faltam-lhe roldanas na cintura para cuidar da articulação política com o Congresso. Assim, o mais provável é que o militar passe a ajudar Mourão na tarefa de suprimir de Onyx a pretensão de atuar como preposto do presidente na cobrança de resultados dos demais ministros.
Considerando-se a desenvoltura com que Bolsonaro maneja o facão, Onyx faria um bem a si mesmo se solicitasse uma audiência com o futuro chefe para perguntar: “Afinal, que diabos de atribuições deseja que eu exerça no seu governo?”
Com Blog do Josias, UOL