TEL AVIV - O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, declarou a um jornal israelense que planeja transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.
Se o fizer, o Brasil se tornará o terceiro país, depois da Guatemala e dos Estados Unidos, a tomar a decisão, que contraria resoluções da ONU segundo as quais o status da cidade sagrada para as três religiões monoteístas deve ser decidido em negociações com os palestinos.
Questionado pelo jornal "Israel Hayom" sobre sua intenção de transferir a embaixada brasileira para Jerusalém, mencionada durante sua campanha eleitoral, Bolsonaro disse que Israel deveria ter liberdade para escolher sua capital. Israel, que ocupou o setor oriental (árabe) de Jerusalém na Guerra do Seis Dias, em 1967, considera a cidade sua capital "única e indivisível", mas os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como capital de seu futuro Estado.
"Quando me perguntaram, durante a campanha, se eu faria isso uma vez que me tornasse presidente, eu respondia que 'sim, cabe a vocês decidirem qual é a capital de Israel, não a outras nações'", declarou Bolsonaro em uma entrevista publicada nesta quinta-feira pelo jornal, que é favorável ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
Netanyahu estimou que a eleição de Bolsonaro "levaria a uma grande amizade entre os povos [dos dois países] e ao fortalecimento das relações entre Brasil e Israel".
Provavelmente, o primeiro-ministro israelense comparecerá à cerimônia de posse de Bolsonaro em janeiro, segundo informou à AFP um funcionário de seu gabinete.
O presidente americano Donald Trump rompeu em dezembro de 2017 com décadas de tradição diplomática dos Estados Unidos, ao reconhecer Jerusalém como a capital de Israel e posteriormente transferir para lá sua embaixada. A medida levou o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmud Abbas, a interromper negociações com Israel mediadas pelos Estados Unidos.
O então chanceler brasileiro Oswaldo Aranha presidiu a Assembleia Geral da ONU que, em 1947, aprovou a Partilha da Palestina, que estava sob controle britânico desde o fim do Império Otomano, em dois Estados. Desde então, o Brasil procura se manter equidistante no conflito e apoia a criação de um Estado palestino.
Diplomatas têm advertido que uma eventual mudança da embaixada pode isolar diplomaticamente o Brasil e provocar retaliações comerciais de países árabes, grandes compradores de alimentos brasileiros.
A posição de Trump em relação a Jerusalém, na qual Bolsonaro se espelha, visa agradar sua base evangélica. Há setores neopentecostais que acreditam que Jerusalém deve estar na mão dos judeus para que Cristo volte à Terra.
O Globo, comAFP