Eles precisam acertar o alvo 100% das vezes. Os snipers , atiradores de elite que o governador eleito Wilson Witzel quer usar para “abater” traficantes durante operações, têm como principal missão salvar vidas. São treinados pela Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil e pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM para atuarem como último recurso, em momentos de crise. Caso típico é quando um bandido ameaça matar um refém.
A última vez que isso aconteceu no Rio foi em setembro de 2009, na Tijuca. Na ocasião, um bandido foi morto depois de fazer uma mulher refém dentro de uma farmácia. Ele roubou um carro e, na fuga, entrou num estabelecimento, onde rendeu a dona da loja e passou a usá-la como escudo e a ameaçá-la com uma granada. Acabou morto por um tiro de fuzil, disparado do alto de um prédio, por um oficial da PM, lotado, à época, no Bope. A comerciante não sofreu ferimentos.
Ser um atirador de elite não é fácil. Na Core, é preciso estar há dois anos na unidade especializada para se candidatar ao curso. Além disso, deve ser aprovado no Curso de Operações Especiais e no Curso de Operações Táticas Especiais. Por ser uma informação estratégica, as corporações não divulgam o total de snipers lotados hoje em cada força de segurança.
Provas difíceis
As exigências são grandes. No último curso da Core, 56 candidatos foram submetidos a provas eliminatórias, com testes físicos e questões de matemática e física (para saber, por exemplo, se o candidato é capaz de calcular dados como distância e velocidade). Desse total, apenas 14 foram aprovados, e só 12 chegaram ao fim do curso, conquistando o título de atirador de elite.
O treinamento de snipers é responsabilidade de professores habilitados pela Polícia Federal. A média de disparos feita por cada candidato varia de 800 a mil tiros durante o treinamento. As armas mais usadas durante o curso são fuzis de ferrolho (que tem alta precisão e pouco recuo) e semiautomáticos, como o AR 10, de fabricação americana. Só são aprovados os policiais que conseguem 100% de acerto nos disparos em provas como tiro noturno, tiro em movimento, tiro em ambientes fechados e disparo com barricada.
A decisão de atirar ou não durante uma situação com refém é exclusiva dosniper . Mas a medida extrema é tomada a partir de uma conjunção de fatores que inclui, por exemplo, a análise de um centro de comando. Em geral, dois ou mais snipers são posicionados em pontos com ângulos diferentes.
— Todo local de evento tem um centro de comando, que é integrado inclusive por negociadores. Esgotadas todas as possibilidades e situações, o centro de comando dá sinal verde e se comunica com o sniper melhor posicionado. A decisão de atirar ou não é dele. Nosso lema é: se houver risco para o refém, não se dispara. O tiro tem de acertar o alvo. Por isso, apenas são aprovados os que alcançam 100% de acertos — explica o policial civil Cláudio Leão, um dos instrutores de tiro do curso de sniperda Core, que está na corporação há 30 anos.
Ao ser submetido a uma situação de forte estresse ou caso não tenha um desempenho satisfatório em treinamentos, o sniper é submetido a uma rigorosa avaliação psicológica.
Marcos Nunes, O Globo