O DEM vai condicionar a adesão ao governo de Jair Bolsonaro ao apoio do Palácio do Planalto à recondução de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara ou ao menos à neutralidade da equipe do PSL nessa disputa. A eleição que renovará o comando do Congresso está marcada para 1.º de janeiro de 2019 e Maia já recebeu sinais de que Bolsonaro não quer avalizar um novo mandato para ele.
O presidente eleito tomará café da manhã com Maia, nesta quarta-feira, 14, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, e pretende desfazer o que chama de mal-entendidos. Sua intenção é dizer ao comandante da Câmara que o governo não pretende interferir na sucessão do Congresso.
“O governo não vai intervir nas definições do comando da Câmara nem do Senado”, afirmou o futuro ministro da Casa Civil, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). “Todos os governos que forçaram a mão e fizeram intervenção se deram muito mal com isso. Essa decisão tem de ser dos parlamentares.”
Maia não esconde o incômodo com críticas feitas até mesmo por aliados sobre o tamanho do DEM no governo de Bolsonaro. Nos bastidores, deputados do Centrão argumentam que o partido já está bem contemplado no primeiro escalão e, nesse cenário, não precisa mais ocupar a chefia da Câmara.
Atualmente, o DEM tem dois filiados nomeados para o governo Bolsonaro: Onyx e Tereza Cristina, que assumirá o Ministério da Agricultura. O deputado Luiz Henrique Mandetta, também do DEM, é cotado para a Saúde.
O presidente do DEM, ACM Neto, vai se reunir com Onyx na próxima quarta-feira, 21, em Brasília, para acertar como será a relação do partido com o novo governo. “O apoio estará relacionado à agenda de projetos para o País, e não a cargos”, disse ACM Neto, que é prefeito de Salvador.
Para ele, as críticas sobre o espaço do DEM na Esplanada são improcedentes. “Não cola essa história de quererem tirar o partido da presidência da Câmara com base em intrigas. Todos sabem que as escolhas foram feitas pelo presidente Bolsonaro. Não foram indicações do partido”, argumentou.
Atritos. As movimentações para a sucessão de Maia já provocam atritos no Congresso. Embora Bolsonaro tenha orientado seu partido, o PSL, a não entrar nesse confronto, aliados do presidente da Câmara acham que o futuro governo está agindo nos bastidores para queimá-lo e emplacar um nome que possa “tratorar” o Legislativo.
Na prática, o PSL de Bolsonaro resiste a apoiar a reeleição de Maia, mas pretende endossar outro nome. “Se o Luciano Bivar (presidente nacional do PSL) quiser ser candidato, será. Caso contrário, vou fazer gestões para que o PSL apoie Capitão Augusto”, afirmou o senador eleito Major Olímpio (PSL-SP), em referência ao deputado do PR.
Major Olímpio admitiu haver um vácuo na atual articulação política, mas disse estar certo de que assumirá alguma missão nessa área, ao lado do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente eleito. “Nessa transição, a mochila é pesada demais. Até o celular do Onyx deve ter travado”, brincou.
A portas fechadas, interlocutores de Bolsonaro dizem que o nome preferido dele para a presidência da Câmara, atualmente, é João Campos (PRB-GO). Delegado e pastor da Igreja Assembleia de Deus, o deputado integra tanto a “bancada da bala” quanto a frente parlamentar evangélica.
“Eu tenho a convicção de que o PSL fecha comigo, mas quem vai definir mesmo é o zero um”, resumiu Capitão Augusto, recorrendo à expressão militar usada para se referir a Bolsonaro. No MDB, há dois pré-candidatos: o atual vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (MG), e Alceu Moreira (RS), da frente parlamentar de agropecuária.
“Se o governo Bolsonaro não mudar o tratamento com os deputados e com os partidos, terá uma derrota histórica na Câmara”, afirmou o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), presidente do Solidariedade e aliado de Maia. “Esse modelo de negociar com frente parlamentar e insuflar o lançamento de candidatos por fora, contra Maia, não vai funcionar”, emendou.
Vera Rosa, O Estado de S.Paulo