terça-feira, 27 de novembro de 2018

"A volta da confiança", editorial do Estadão

Nos últimos oito anos, os empresários industriais nunca estiveram tão confiantes como estão agora. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) alcançou 63,2 pontos em novembro, 9,5 pontos mais do que o registrado no mês anterior. É o maior índice desde setembro de 2010 (de 63,3 pontos), quando o País ainda vivia a euforia do fim do segundo mandato de Lula. Essa euforia se esvairia nos meses seguintes, após a primeira vitória eleitoral de Dilma Rousseff, e se transformaria em pesadelo para o empresariado, para os trabalhadores e para a sociedade na desastrosa gestão do poste que Lula da Silva escolheu para suceder-lhe na Presidência da República.
Quanto mais acima de 50 pontos estiver o Icei, maior e mais disseminada é a confiança do empresário. Os números do Icei mostram que a confiança da indústria está acima da média histórica (de 54,2 pontos) e podem prenunciar uma mudança para melhor no ambiente econômico. É como se, finalmente, os piores efeitos da maléfica política dilmista começassem a ser superados de maneira firme.
“Empresários mais confiantes têm mais disposição para investir, tomar riscos, contratar trabalhadores e comprar mais matérias-primas”, disse o gerente executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. “Isso torna o ambiente mais propício ao crescimento.”
É lenta ainda a recuperação da economia. Segundo o Monitor do PIB elaborado mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 0,4% em setembro, na comparação com agosto. No terceiro trimestre do ano, o crescimento foi de 1,0% na comparação com o trimestre anterior. É o sétimo crescimento trimestral consecutivo desde o fim da recessão, o que mostra uma recuperação firme, embora modesta. Na comparação com igual trimestre de 2017, o aumento do PIB foi de 1,7%.
O índice mensal da FGV, baseado nas mesmas fontes de dados e na mesma metodologia empregadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o cálculo oficial do PIB brasileiro, tem comportamento ligeiramente diferente do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do resultado oficial. No resultado acumulado do trimestre, no entanto, os dois indicadores se aproximam (o IBC-Br do terceiro trimestre ficou 1,72% acima do resultado de um ano antes).
Um dos componentes do Monitor da FGV, o consumo das famílias, teve aumento de 1,7% no terceiro trimestre, na comparação com igual período de 2017. É possível que esse aumento se acentue nos próximos meses, pois outra pesquisa – a de Intenção de Consumo das Famílias, realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) – mostrou que os brasileiros estão mais propensos a comprar. O índice da CNC de novembro ficou 1,1% acima do de outubro; na comparação com novembro de 2017, o aumento foi de 9,2%. A expectativa de melhora de renda, com o recebimento do PIS/Pasep e o pagamento do décimo terceiro salário, a inflação sob controle e a recuperação da atividade econômica são fatores citados pela CNC para explicar a maior disposição de consumo das famílias.
Esses dados parecem justificar também a pesquisa feita pela Associação Nacional das Instituições de Credito, Financiamento e Investimento (Acrefi) em parceria com a Kantar TNS, segundo a qual pela primeira vez desde 2015 o otimismo em relação à economia cresceu e alcançou 60% da população. Feita logo após a eleição presidencial de outubro, a pesquisa constatou que 66% dos entrevistados acreditam no crescimento daqui para a frente.
A decisão do Banco Central de simplificar ainda mais as regras de recolhimento dos depósitos compulsórios – parcela dos depósitos à vista e a prazo que as instituições financeiras precisam recolher ao Banco Central – é uma boa sinalização de que, a depender da autoridade monetária, a atividade econômica continuará sendo estimulada.