DAIANE COSTA, LUCIANNE CARNEIRO E LUCAS MORETZSOHN - O Globo
A economia brasileira encolheu 1,7% no terceiro trimestre, na comparação com o segundo trimestre, informou o IBGE nesta terça-feira. É a maior contração para um terceiro trimestre da série histórica do IBGE, de 1996, e a terceira retração seguida, prolongando o ambiente recessivo, que também já é o mais longo desde o governo Collor.
Analistas esperavam queda de 1,2% frente ao segundo trimestre, de acordo com a mediana das projeções compiladas pela Bloomberg. Em relação ao terceiro trimestre de 2014, o Produto Interno Bruto (PIB) teve contração de 4,5% — a maior contração para um trimestre da série histórica do IBGE — e fechou os nove primeiros meses do ano com perda acumulada de 3,2%, também a maior da série. Em quatro trimestres, o resultado acumulado é de recuo de 2,5%, o pior desempenho de toda a série histórica.
A gerente de Contas Nacionais do IBGE, Claudia Dionísio, destacou a disseminação de taxas negativas no desempenho da economia no terceiro trimestre:
— Em todas as comparações, o resultado do PIB teve taxas negativas no terceiro trimestre. Desde o primeiro trimestre de 2015, temos taxas negativas. Frente ao terceiro trimestre de 2014 e no resultado acumulado em quatro trimestres, a taxa (do terceiro trimestre) acentuou a queda. No geral, as taxas estão mais negativas que nos trimestres anteriores.
Quando se olha a queda recorde de 4,5% do PIB no terceiro trimestre, frente a igual trimestre do ano anterior, todas as atividades pelo lado da produção registraram queda. A indústria teve um tombo de 6,7%, a maior desde o segundo trimestre de 2009, em plena crise financeira internacional, que foi de 8%. E a agropecuária caiu 2% e serviços, 2,9%.
— Pela ótica da despesa, a queda no consumo das famílias, que pesa 62% na formação do PIB, e da Formação Bruta de Capital Fixo, que pesa 21%, foi o que puxou para baixo a taxa do PIB em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Já pela ótica da produção, a queda foi puxada pela indústria — afirma Claudia.
Pelo lado das despesas, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, indicador de investimentos) despencou 15% no terceiro trimestre, frente a igual trimestre do ano anterior — a maior da série histórica —, em razão na queda na importação e na produção interna de bens de capital e também por causa do desempenho negativo da construção civil. O recuo de 6,3% na construção civil, porém, foi menor do que o registrado no trimestre imediatamente anterior, quando ficou em -10,6%.
CONSUMO DAS FAMÍLIAS ENCOLHEU
O consumo das famílias teve queda de 4,5% no terceiro trimestre, frente a igual trimestre do ano anterior. É a terceira queda seguida e a maior desde 1996. Segundo o IBGE, tal resultado se explica pela piora nos índices de inflação, juros, crédito, emprego e renda. Já o consumo do governo recuou 0,4%. No setor externo, no entanto, as exportações avançaram 1,1% e contribuíram para o crescimento da economia, enquanto as importações tiveram queda de 20%. O setor de serviços caiu de 2,9%, a maior da série histórica.
Para Claudia, não é possível afirmar que o recuo de 0,4% no consumo do governo, frente ao terceiro trimestre de 2014, esteja ligado ao esforço de ajuste fiscal. Assim como a alta de 0,3%, em relação ao segundo trimestre, também não significa crescimento de gastos.
— O consumo do governo inclui gastos com saúde, educação e a própria administração pública em si, em todas as esferas. Não dá para afirmar que a queda de gastos do governo explique a variação de 0,4%. E a variação de 0,3% não quer dizer que cresceu o gasto. Se é uma queda menor que no trimestre anterior, já é suficiente para uma variação positiva.
As exportações cresceram 1,1% no terceiro trimestre frente ao mesmo período de 2014. Já as importações registraram forte queda de 20% na mesma comparação.
— A queda de 8,3% em impostos sobre produtos é resultado da queda no recolhimento de impostos sobre importações, tendo em vista que as importações tiveram recuou de 20% na comparação anual. Menos importações, menos imposto sobre essa atividade sendo recolhido — explica a gerente de Contas Nacionais do IBGE.
AGROPECUÁRIA CAIU
A agropecuária registrou queda de 2% no terceiro trimestre frente ao mesmo período do ano passado, o maior desde o terceiro trimestre de 2013, quando a taxa havia ficado em -2,7%. O IBGE explica que o resultado se deve ao desempenho negativo de produtos que têm safra relevante no período como café, cana de açúcar, laranja, algodão e trigo.
— O peso da agricultura no PIB é de 5,2%, por isso é importante olhar com cuidado para a taxa da agropecuária, que teve queda de 2,4% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, mais do que a indústria e os serviços, que pesam 72% no PIB. Há nessa taxa da agropecuária um componente sazonal, então é mais correto olhar para o mesmo trimestre do ano anterior, para ter como base as mesmas culturas — explica Claudia. — A queda de 2% na atividade agropecuária, em relação ao terceiro tri de 2014, foi puxada para baixo pela expectativa de queda nas safras da cana, do café e da laranja, que têm colheita relevante nesse período — acrescenta.
QUEDA GENERALIZADA
Em relação ao segundo trimestre, todas as atividades da economia registraram queda, com exceção da despesa do consumo do governo, que subiu 0,3%. Pelo lado da oferta, a agropecuária caiu 2,4% em relação ao trimestre anterior, acompanhada por um tombo de 1,3% da indústria. Serviços, por sua vez, teve queda de 1%.
— Pelo lado da oferta, todas as atividades apresentaram queda. Todas contribuíram para o resultado negativo (do PIB), umas mais, outras menos. Os serviços contribuíram mais. Pelo lado da demanda, o consumo das famílias é o que mais pesa e teve queda de 4,5% (frente ao terceiro trimestre de 2014). Investimentos também contribuiu, com queda recorde (15%). Já no caso do setor externo, este apresentou contribuição positiva o que amenizou um pouquinho. Mas de forma geral, todas apresentaram queda — diz Claudia.
No setor industrial, a maior queda foi registrada na indústria de transformação, com retração de 3,1% no trimestre frente aos três meses imediatamente anteriores. Os segmentos da construção civil e extração mineral também apresentaram desempenho negativo no mesmo período, com quedas de 0,5% e 0,2%, respectivamente.
Pelo lado das despesas, o consumo das famílias caiu 1,5% e o investimento recuou 4%, também frente ao segundo trimestre. As exportações tiveram queda de 1,8%, enquanto as importações tiveram contribuição negativa de 6,9%. Ainda nessa base de comparação, a FBCF apresentou queda de 4%, o nono trimestre consecutivo de queda.
INVESTIMENTO EM QUEDA
A taxa de investimento no terceiro trimestre de 2015 foi de 18,1% do PIB, inferior à do mesmo período de 2014 (20,2%) e a menor para um terceiro trimestre desde 2007, quando foi de 18,8%. No terceiro trimestre de 2007, foi de 17,5%. Na comparação com trimestre anterior, o investimento já cai há nove trimestres seguidos.
A taxa de poupança foi de 15% no terceiro trimestre de 2015 (ante 17,2% no mesmo período de 2014).
— O investimento já cai há mais tempo que o consumo. Até o fim do ano passado, o consumo subia, a virada foi no primeiro trimestre. — explicou Claudia.
SETOR EXTERNO
O setor externo teve contribuição positiva no desempenho da economia. Essa influência, no entanto, vem muito mais da queda das importações que da alta das exportações. Frente ao segundo trimestre, houve queda de exportações e na comparação com o terceiro trimestre de 2014 a alta foi de apenas 1,1%.
— A demanda externa está tendo uma contribuição positiva no PIB. Isso porque as exportações caem, mas a queda das importações é maior. Para importar hoje um bem, é muito mais caro. A desvalorização do câmbio frente ao terceiro trimestre de 2014 foi de 56% — explicou Claudia.
REVISÕES
O IBGE revisou os resultados do PIB de três trimestres, na comparação com o trimestre imediatamente anterior. A taxa de crescimento da economia do último trimestre de 2014 foi revisada de 0 para 0,1%, a do primeiro trimestre de 2015 passou de -0,7% para -0,8% e a do segundo trimestre de -1,9% para -2,1%.
Diferentemente do que ocorreu nos dois anos anteriores, a perda de ritmo da atividade em 2015 é acompanhada por uma piora mais forte do mercado de trabalho, o que agrava a crise. Na semana passada, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) contínua apontou que a taxa de desemprego ficou em 8,9% no terceiro trimestre do ano, acima dos 8,3% registrados no trimestre encerrado em junho. A pesquisa inclui dados para todos os estados brasileiros. Essa é a maior taxa de desemprego para o período desde 2012, o início da série histórica da pesquisa. Em igual trimestre de 2014, a taxa de desemprego foi de 6,8%. E indica uma alta do desemprego em todas as regiões do país.
As perspectivas de analistas para este ano não são boas. De acordo com o mais recente boletim Focus, do Banco Central, divulgado nesta segunda-feira, o PIB voltou a ser revisto para baixo pelos analistas: -3,19% em 2015 e -2,04% em 2016. Se a previsão estiver correta, será o primeira retração anual desde 2009 (-0,2%), ano pós-crise global, e o pior resultado em toda a série histórica, iniciada em 1996.