quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Petrobras ruma para deixar grupo de 500 maiores empresas do mundo

Álvaro Fagundes - Folha de São Paulo


Outros 500


É bastante provável que até o fim deste ano a Petrobras consiga um feito que certamente não constará na sua lista de conquistas: deixar o grupo de 500 maiores empresas do mundo em valor mercado (total das ações da empresa negociadas em Bolsa multiplicado pela cotação dos papéis).

Nesta terça-feira (22), a estatal era a 482ª companhia mais valiosa do mundo, com pouco mais de US$ 1 bilhão separando-a das "outras 500", segundo pesquisa da agência americana Bloomberg.

A derrocada da empresa entre as gigantes globais é uma história não só digna das crônicas policiais da Operação Lava Jato. Reflete também a crise de um país que foi comparado pela "Economist" a um foguete, mas de uma era já "muito, muito" distante, em que essas aeronaves nem eram reutilizáveis e que um novo "Star Wars" era sonho de fã.

A Petrobras em 2009 chegou a ser a quinta empresa que mais valia no mundo, surfando nas ondas da descoberta do pré-sal e de uma economia que rumava para o "top 5" global.

Hoje ela é praticamente um décimo do que era seis anos atrás: vale US$ 25,3 bilhões, ante US$ 208 bilhões em meados de 2009. Naquela época, era comparada a empresas como ExxonMobil ou Shell, hoje está abaixo de Enbridge e Imperial (empresas canadenses do setor de petróleo e gás e pouco conhecidas fora do mundo dos especialistas).

No meio dessa crônica, há um país que não se preparou para as trepidações econômicas inevitáveis (freada do consumo interno, queda no preço de matérias-primas) e uma empresa que serviu ao jogo de compadrio e ao populismo, e não aos principais interessados, os seus acionistas.

O Brasil, que no ano passado tinha o sétimo maior PIB global, perdeu duas posições no ranking global de 2015, com a recessão que deve deixar a economia quase 4% menor e eliminar mais de 1 milhão de postos de trabalho.

A Petrobras acumulava uma dívida de R$ 506 bilhões até o fim do terceiro trimestre. Anos de represamento dos preços da gasolina pesam no balanço financeiro da empresa, para alegria de muitos motoristas e desespero dos acionistas.

Quem comprou uma ação da empresa no fim do ano passado perdeu um terço do investimento (sem contar a inflação) e hoje tem pouco mais de R$ 6, suficientes para, com sorte, comprar quatro litros de leite. Quem apostou nela no fim de 2007 teve um baque ainda maior: 85%.

Para lembrar: o Facebook, um desconhecido da maioria dos brasileiros em 2009, está avaliado hoje em US$ 297 bilhões –é a sétima maior companhia do mundo, em uma lista liderada pela Apple e que só tem mais três brasileiras entre as 500 gigantes (Ambev, Itaú Unibanco e Bradesco).