Dorivan Marinho - 7.nov.2014/Midas Press/Folhapress | |
Refinaria Abreu e Lima (PE), da Petrobras, empresa que puxou a queda nos investimentos de estatais |
Com o ajuste fiscal e a crise na Petrobras, o governo e as estatais federais têm papel decisivo no colapso dos investimentos do país neste ano.
Levantamento feito pela Folha mostra que o Tesouro Nacional e suas empresas respondem por cerca de 30% da queda do investimento nacional até o terceiro trimestre, que sinaliza uma piora recorde em 2015.
Em valores corrigidos, os investimentos públicos e privados -obras de infraestrutura e compras de equipamentos destinados a elevar a capacidade produtiva- encolheram R$ 120 bilhões de janeiro a setembro, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Os números são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que, no entanto, ainda não calculou o peso do setor público nos resultados estimados.
Já os dados oficiais da execução orçamentária do Tesouro e das estatais federais mostram que, na mesma base de comparação, o montante investido caiu R$ 36,7 bilhões -de R$ 120,1 bilhões para R$ 83,4 bilhões.
Todos os valores estão sujeitos a revisões e ajustes de metodologia, mas a proporção é eloquente o bastante para demonstrar o efeito direto da derrocada do governo da presidente Dilma Rousseff no agravamento da recessão do país.
INFLAÇÃO
De acordo com o IBGE, o investimento nacional começou a se retrair no segundo semestre de 2013. Com o aumento da inflação, dos juros e do pessimismo, a crise atingiu depois o consumo das famílias e o mercado de trabalho.
No ano passado, os gastos públicos, em particular com obras de infraestrutura, estavam em alta e atenuavam a onda recessiva que atingia o setor privado. Agora, eles agravam a derrocada da economia.
"O investimento público segue o ciclo político", observa Cláudio Hamilton dos Santos, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, vinculado ao Executivo federal).
Em outras palavras, os investimentos federais, estaduais e municipais tendem a se elevar ao longo do mandato dos governantes, chegando ao ápice nos períodos eleitorais e encolhendo nos inícios de administração.
Em estudo recém-apresentado, o economista estimou a variação desses desembolsos a partir de 1996 -considerando União, Estados e prefeituras, mas sem empresas estatais- e concluiu que a queda deste ano tende a ser a mais aguda desde 1999, depois da reeleição do tucano Fernando Henrique Cardoso.
VÍTIMAS DO AJUSTE
As obras públicas, que vão da conservação de rodovias à construção de hospitais, são as vítimas preferenciais dos ajustes forçados no Orçamento. Afinal, não são despesas obrigatórias, como o pagamento de salários e benefícios sociais.
Até setembro, a queda dos investimentos a cargo do Tesouro se aproxima de espantosos 45% -bem acima da redução de 12,7% do investimento total do país, a mais aguda já medida pela atual metodologia do IBGE, que alcança até o ano de 1996.
No caso das estatais, a queda de 21,7% é puxada pela Petrobras, maior investidora brasileira, afetada por escândalos de corrupção e pela política de represamento de preços adotada no primeiro mandato da presidente.