Thais Arbex e Bela Megale - Folha de São Paulo
O casal Daniel Maluhy e Roberta Camargo, filha do delator Julio Camargo
No dia 30 de janeiro, às 18h30, Daniel Maluhy, 37, estará no altar da tradicional Nossa Senhora do Brasil, uma das mais concorridas igrejas de São Paulo, à espera da noiva, Roberta Camargo, 32.
Ela entrará com o pai, Julio Camargo, ex-consultor da Toyo Setal, condenado no escândalo da Lava Jato e um dos delatores da operação.
As revelações do lobista foram a principal origem da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Camargo admitiu fazer parte do esquema de pagamentos de propina à Petrobras e foi multado em R$ 40 milhões, a serem pagos à União.
O ex-consultor, em depoimento à Justiça Federal em julho, disse que foi pressionado pelo presidente da Câmara a pagar US$ 10 milhões em propinas para que um contrato de navios-sonda com a estatal fosse viabilizado. Relatou que, desse valor, o parlamentar peemedebista se disse merecedor de US$ 5 milhões. Cunha nega todas as acusações.
Em agosto, Julio Camargo foi condenado a 14 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, pena que, em virtude da colaboração, foi comutada para cinco anos em regime aberto, sem necessidade de uso de tornozeleira.
Assim, ele poderá aproveitar a cerimônia e uma festa para 600 convidados no Jockey Clube de São Paulo, que já presidiu interinamente.
OLD FRIENDS
No Jockey, dois salões estão reservados para a festa desde o início de 2015, embora os responsáveis por organizar eventos no local tenham tentado convencer o casal a remarcar a data –no mesmo dia, o Jockey recebe a Prova Especial Tito Mello Zarvos, uma das mais importantes do seu calendário anual.
Um funcionário do clube argumentou que não era chique realizar a festa em horários de prova, que se estendem das 12h30 às 19h, mas a noiva foi irredutível.
Roberta é, com o irmão, Julio Belardi de Almeida Camargo, o Julinho, sócia do pai no haras Old Friends.
De acordo com documento da Junta Comercial de São Paulo, a participação dela na empresa é de R$ 2.000 em um capital de R$ 200 mil.
Fundado em 1994, o haras é um dos principais criadores de cavalos de competição, daí a ligação da família com o Jockey. Julinho é integrante da diretoria que comandará o clube até 2017.
O noivo, Maluhy, tem uma loja de artigos religiosos em Aparecida, interior paulista. Na Junta Comercial de São Paulo consta que o capital da empresa é de R$ 20 mil.
BRINDE
O aluguel dos dois salões reservados pelo casal custa entre R$ 50 mil e R$ 70 mil, segundo a Folha apurou.
Funcionários envolvidos na organização do evento relataram que Roberta e Daniel desembolsaram R$ 350 por convidado para o bufê, comandado pelo chef francês Pascal Valero. As bebidas alcoólicas não estão incluídas no pacote de R$ 210 mil.
Cerimonialistas consultadas pela Folha disseram que uma cerimônia na Nossa Senhora do Brasil custa, em média R$ 20 mil incluindo a taxa da igreja, a contratação de coral e orquestra e a decoração. O valor, porém, pode ser dividido entre as noivas que casam no mesmo dia.
Por determinação da paróquia, Roberta e suas convidadas não poderão usar fendas nem decotes.
O casal também não pôde escolher músicas não litúrgicas para a cerimônia.
Segundo as normas da igreja, apenas no momento dos cumprimentos e no cortejo de saída dos noivos é permitido entoar melodias não sacras. Mesmo assim, a paróquia exige que as letras e ritmos sejam adequados e não contrariem a dignidade do Sacramento do Matrimônio, da Igreja e do amor humano.
Os convites começaram a ser entregues na semana passada, às vésperas do Natal, logo depois que Roberta e Daniel fizeram o casamento civil, no dia 17 de dezembro.
Um dos presentes mais caros da lista é um fogão de cinco bocas de R$ 15 mil. Artigos de luxo da grife Tânia Bulhões, como um porta-requeijão (R$ 520), um porta-guardanapos (R$ 690) e um porta-adoçantes (R$ 1.160), feitos de prata, além de um aparelho de jantar em porcelana (R$ 6.780), também constam da lista de pedidos do casal.
SAIBA MAIS
Julio Camargo foi um dos primeiros executivos a fechar acordo de delação premiada para colaborar com as investigações da Lava Jato.
Um dia antes de revelar que havia pagado propina a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o lobista disse ao juiz Sergio Moro que repassou R$ 4 milhões ao ex-ministro José Dirceu. O dinheiro, segundo ele, teria saído de uma conta corrente que dividia com o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e o ex-gerente Pedro Barusco para pagamentos de propina.
Cunha e Dirceu negam todas as acusações.