quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Edição especial do ‘Charlie Hebdo’ se esgota em bancas em poucos minutos

O Globo com agências internacionais

Franceses fazem fila para comprar o jornal satírico; devido à alta demanda, tiragem passa de 3 a 5 milhões



Bancas amanhecem com filas em Paris - BERTRAND GUAY / AFP


PARIS — Os franceses fizeram longas filas nesta quarta-feira para comprar a edição especial do “Charlie Hebdo”, publicado uma semana depois de a sede do jornal satírico ser atacada pelos irmãos Kouachi. Três milhões de cópias foram originalmente impressas para distribuição, mas os editores decidiram aumentar a tiragem para cinco milhões devido à alta demanda — — cifra muito superior às 50 mil habituais. Os exemplares começaram a se esgotar minutos depois da abertura das bancas.

Proprietários dos estabelecimentos afirmaram à imprensa francesa que tinham recebido um grande número de pedidos de reserva, enquanto em uma loja em Paris todas as cópias foram vendidas em cinco minutos.

— Foi incrível. Tinha filas de 60 ou 70 pessoas — relatou uma vendedora de uma banca no Centro de Paris. — Nunca tinha visto nada parecido. Os meus 450 exemplares foram vendidos em 15 minutos.

Exemplares do jornal, que traz na capa o profeta Maomé chorando, serão dados às famílias das 12 vítimas do atentado do dia 7 de janeiro. As bancas devem receber novas cópias nos próximos dias. Serão distribuídas 500 mil por dia.

Em vídeo publicado nesta quarta-feira, a al-Qaeda no Iêmen reivindicou o atentado terrorista contra a publicação, que já havia sido alvo de ataque em 2011.

EDITORIAL AGRADECE APOIO DO PÚBLICO

A edição, de número 1178, será traduzida em seis idiomas. O conteúdo traz desenhos inéditos de Charb, Cabu, Tignous e Wolinski, mortos no ataque, e o restante foi produzido exclusivamente por sobreviventes da equipe, sem a contribuição de colaboradores externos.

No editorial, a equipe agradece as milhões de pessoas que declararam “Eu sou Charlie” nos últimos dias e diz que não quer mais insinuações anteriores de que, ao provocar os muçulmanos, trouxe problemas a si.

Em uma das charges, dois terroristas são vistos subindo ao céu e perguntando: “Onde estão as 70 virgens?”. No fundo, a equipe assassinada no Charlie Hebdo está se desfrutando de uma orgia.

O humor satírico do jornal foi mantido. O novo diretor da publicação, Gérard Biard, havia descartado um número de espírito “necrológico”. A ideia era “fazer rir”, segundo ele.

CAPA DIVIDE IMPRENSA E PROVOCA CRÍTICAS

A capa foi apresentada à imprensa na segunda-feira à noite. Nela, Maomé aparece chorando e segurando uma placa com a frase “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie), lema das manifestações contra o atentado e em apoio à liberdade de expressão. A edição foi alvo de críticas pelas autoridades muçulmanas e dividiu a imprensa.

Shawqi Allam, principal clérigo do Egito, alertou o jornal contra a publicação dizendo que a nova charge de Maomé era um ato racista que iria incitar o ódio e revoltar muçulmanos ao redor do mundo.

Vários jornais ao redor do mundo reproduziram a capa na terça-feira. Entre eles estão o “Guardian”, o “Le Monde”, o “Libération“ (que vem abrigando o semanário), o “Washington Post” e o “Wall Street Journal”. Redes de televisão também exibiram, mas o “New York Times” e a CNN optaram por não mostrar a capa. A BBC e a ABC australiana exibiram rapidamente e com advertências para o teor das imagens.