quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

"Crise na Petrobras e seus possíveis impactos no mercado de trabalho", por Jaime Vasconcellos

Folha de São Paulo



A tão festejada autossuficiência em petróleo, atingida pelo Brasil em 2006, foi seguida por grandes expectativas, mais do que positivas, geradas pela descoberta do pré-sal, em 2008. Com isso, o valor de mercado da Petrobras atingiu em maio daquele ano R$ 510,4 bilhões. Porém, os ventos mudaram, e para pior.

A autossuficiência ruiu em 2011, principalmente devido ao aumento do consumo interno de combustíveis em detrimento à produção dos mesmos, enquanto a política de não alinhamento de preços internos e externos, com intenção de combate à inflação recente, gerou enorme fragilização ao caixa da empresa. E a situação ainda se agravou pelas recentes denúncias de corrupção.

O resultado deste cenário pode ser expressado por um percentual: 31,84%. Este é o valor de mercado da Petrobrás em relação ao seu Patrimônio Líquido. Isto é, o mercado paga, em meados deste último mês de dezembro, segundo a Consultoria Economatica, menos de um terço do que a empresa efetivamente vale. Ou seja, o que se viu foi o atrofiamento daquela que já foi a maior empresa brasileira.

Com fragilidade financeira e imagem mais do que arranhada, a captação de recursos tornar-se-á mais custosa afetando diretamente sua capacidade de expansão. Sem contar as prováveis ações indenizatórias. Tal realidade afeta diretamente a política de investimentos da empresa e a Formação Bruta de Capital Fixo do país.

Outra preocupação são os impactos no mercado de trabalho. Enquanto a atual baixa taxa de desemprego brasileira é mantida por um rol da população que não busca colocação no mercado formal, os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) já sinalizam claramente o arrefecimento na abertura de novas vagas.

Esta desaceleração, influenciada pelo desempenho pífio da economia brasileira, pode se agravar com o esfacelamento da principal empresa petrolífera brasileira? Sim.

Segundo a própria Petrobras, em junho de 2014, a empresa possuía 86.108 funcionários. Eram outros 360 mil em empresas prestadoras de serviços. Em 2013 os gastos com pessoal rondaram os R$27,5 bilhões, unindo-se salários, participações nos lucros, benefícios, plano de aposentadoria e pensão, plano de saúde e Fundo de Garantia sobre Tempo de Serviço (FGTS).

O rendimento médio dos trabalhadores da Petrobras é de pouco mais de R$ 12 mil mensais. Com esta premissa, tem-se uma massa salarial anual, não considerando o décimo terceiro salário, de mais de R$ 12,8 bilhões ou 1,05% da massa salarial dos trabalhadores brasileiros.

Já para os terceirizados da Petrobras, prestadores de serviços que possuem rendimento médio mensal de R$1.746,10 no Brasil, estimados aos 360 mil terceirizados da empresa, são outros R$7,5 bilhões anuais em salário bruto.

Caso haja uma redução de 20% somente no quadro de funcionários da Petrobras, R$2,5 bilhões anuais podem ser perdidos em salários. Com isso há uma queda de R$3,62 no rendimento médio geral do trabalhador brasileiro, que atingiria, assim, R$2.069,81.

A realidade pode ser agravada quando se une os trabalhadores terceirizados, mais suscetíveis aos primeiros desligamentos. Logicamente, o impacto destes possíveis desligamentos afeta toda uma cadeia produtiva relacionada ao setor petrolífero, e é ainda mais pernicioso à economia local das regiões mais dependentes do setor petrolífero.

Este é mais um dos riscos que a degradação da gestão da Petrobras pode causar. O tamanho da companhia infla quaisquer cenários, que neste momento são de pessimismo para a economia nacional e, especialmente, para as economias locais mais dependentes da Petrobras.

JAIME VASCONCELLOS é assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo - Fecomercio-SP