sexta-feira, 21 de novembro de 2025

O castelo de areia chamado Banco Master, por Carlo Cauti e Gustavo Segre

 investimentos foram apenas por cobiça ou envolveram corrupção de agentes públicos



Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, é preso pela Polícia Federal - Foto: Montagem Revista Oeste


I magine que você esteja procurando investir um dinheiro que conseguiu poupar e busca opções em entidades financeiras. Você percebe que a quase totalidade do mercado oferece taxas entre 98% e 105% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Mas há um banco que oferece muito mais. Chega a pagar até 130% para conquistar suas suadas economias. A ambição de ganhos maiores pode até fazer você pensar em aplicar nessa instituição. 

Mas com uma promessa tão acima do mercado, certamente tomaria todos os cuidados possíveis. O primeiro seria verificar o limite por conta bancária ou por CPF que está assegurado pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Segundo o regulamento do FGC, o fundo garante R$ 250 mil por conta bancária e até R$ 1 milhão por CPF. 


Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, é preso pela Polícia Federal - Foto: Montagem Revista Oeste


Mesmo tendo aplicado nessa entidade financeira, a suposição de muitos investidores seria que uma entidade oferecendo juros tão acima do mercado só poderia ter alguma coisa errada. Ao se o aprofundar mais, seria lógico supor que esse banco terminaria envolvido em alguma maracutaia. Há escândalos que atingem bancos. 

Há outros que atingem políticos. 

E há aqueles que atingem tanto bancos quanto políticos. Mas também atingem, diretamente, o cidadão comum, o servidor público que trabalhou uma vida inteira e confiou que sua aposentadoria estaria seg

ura. No caso do Master, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial — processo que encerra administrativamente as atividades — de quatro empresas de seu conglomerado: Banco Master S.A., Banco Master de Investimento S.A., Banco Letsbank S.A. e Master S.A. Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários. 

A justiça decretou a prisão de seus principais dirigentes. É claro que não se trata de apenas mais uma crise do sistema financeiro. É, sobretudo, um retrato nítido de como a irresponsabilidade de gestores públicos, a falta de supervisão e a ganância de banqueiros podem colocar bilhões do dinheiro do povo em geral, e dos cofres públicos em particular, em risco. 


Bastidores financeiros eram alimentados por operações simuladas, títulos sem lastro e carteiras de crédito cujo valor real era uma ficção convenientemente empurrada para o futuro.


A justiça terá de investigar mais profundamente se alguns investimentos foram apenas por cobiça ou envolveram corrupção de agentes públicos, uma vez que Estados e municípios de todo o Brasil colocaram quase R$ 2 bilhões — dinheiro dos aposentados — nas mãos de um banco que já dava sinais de fragilidade. 

Segundo dados oficiais do Ministério da Previdência, consolidados em novembro de 2025, pelo menos 11 fundos de previdência de servidores públicos, os chamados regimes próprios de previdência social (RPPS), estavam expostos diretamente às letras financeiras do Banco Master, somando R$ 1,76 bilhão. Mas esse número pode chegar a R$ 2 bilhões quando incluímos fundos adicionais mencionados nas auditorias e reportagens técnicas.


Pelo menos 11 fundos de previdência de servidores (RPPS) estavam expostos a Letras Financeiras do Banco Master, somando R$ 1,76 bilhão, um valor que pode atingir R$ 2 bilhões, segundo dados de novembro de 2025 - Foto: Reprodução

Entre os fundos que aplicaram recursos no Banco Master estão: 

• RioPrevidência (RJ): R$ 960 milhões. 

• Amapá Previdência – Amprev (AP): R$ 400 milhões. 

• MaceióPrev (AL): R$ 100 milhões. 

• CajamarPrev (SP): R$ 100 milhões. 

• São RoquePrev (SP): entre R$ 56 e R$ 93 milhões. 

• AmazonPrev (AM): R$ 54,4 milhões.

• AparecidaPrev (GO): R$ 42 milhões. 

• ArarasPrev (SP): R$ 31 milhões.

• Santo Antônio de Posse (SP): R$ 7,7 milhões. 

• Santa Rita d’Oeste (SP): R$ 1,9 milhão.

. Campo GrandePrev (MS): R$ 1,3 milhão


Tudo isso em papéis de alto retorno, alguns vencendo apenas em 2033 e 2034, e que ofereciam taxas tentadoras — exatamente o tipo de isca que costuma enganar gestores despreparados, prefeitos deslumbrados e propino-afetivos, ávidos de dinheiro ilícito. O risco em aplicar nesse banco não era escondido. 

Aparecia escancarado. 

O Master cresceu rápido demais, prometeu rendimentos acima do mercado, expandiu-se para setores que não dominava e dependia de captação agressiva para manter o negócio respirando. Ou seja: tudo aquilo que qualquer manual básico de finanças públicas orientaria para evitar. Ainda assim, prefeitos, secretários e gestores de fundos de previdência investiram pesado. E pior: decidiram concentrar recursos, violando as regras de prudência, de diversificação e, em muitos casos, ignorando alertas já feitos por técnicos e por Tribunais de Contas estaduais. 

O caso mais emblemático, o RioPrevidência, colocou quase R$ 1 bilhão do futuro de professores, policiais, enfermeiros e servidores em letras financeiras do Master. Não se trata de um erro de centavos. É uma decisão deliberada, tomada entre 2023 e 2024, com pleno conhecimento dos riscos do banco e das operações agora apontadas pela Polícia Federal como fraudulentas. E aqui entra o outro lado da moeda: o desenfreado apetite de banqueiros que apostaram em um castelo de areia. Daniel Vorcaro, Augusto Lima e outros executivos do Master construíram uma narrativa de sucesso meteórico: lucros bilionários, aquisições agressivas, carteiras de crédito milagrosas e negócios espúrios com estatais como o BRB. 

Enquanto isso, segundo a PF, bastidores financeiros eram alimentados por operações simuladas, títulos sem lastro e carteiras de crédito cujo valor real era uma ficção convenientemente empurrada para o futuro. 


O Master virou o banco queridinho de gestores desinformados justamente porque oferecia ganhos acima do mercado em troca de riscos escondidos. Era o velho “ganhar sempre” que, na prática, nunca existe. E quando o esquema caiu, foi com estrondo: E é preciso reforçar que os grandes fundos de pensão das estatais — Previ, Petros, Funcef, Funpresp — não estavam expostos ao Master. 

Quem estava eram os RPPS, os fundos mais vulneráveis, menos fiscalizados, muitas vezes comandados por aliados políticos de prefeitos e governadores sem conhecimento técnico. 

• liquidação decretada pelo Banco Central; 

• bens bloqueados; 

• prisões por suspeita de fraude, gestão temerária e organização criminosa; e 

• prejuízos bilionários, agora pendurados nos cofres de Estados e municípios. 21/11/2025, 15:41 O castelo de areia chamado Banco Master - Revista Oeste https://revistaoeste.com/revista/edicao-297/o-castelo-de-areia-chamado-banco-master/ 6/10 Leia mais sobre: Banco Master Ministério da Previdência Social Banco Central (BC) 0 comentários Comentários exclusivos para assinantes. Comentário Ou seja: a conta caiu, de novo, no colo de brasileiros desejosos de ganhos acima do mercado e dos aposentados. A pergunta que fica sem resposta é simples e devastadora: por que prefeitos e gestores de RPPS colocaram bilhões em um banco que já dava todos os sinais de perigo? Ignorância? Irresponsabilidade? Imprudência? Ou algo pior? É hora de investigações estaduais, municipais e federais serem abertas contra cada gestor que assinou cada aplicação. Porque perder dinheiro próprio é azar; perder dinheiro público é crime. E perder dinheiro da aposentadoria do servidor é crueldade institucional






O Master virou o banco queridinho de gestores desinformados justamente porque oferecia ganhos acima do mercado em troca de riscos escondidos. Era o velho “ganhar sempre” que, na prática, nunca existe. E quando o esquema caiu, foi com estrondo: E é preciso reforçar que os grandes fundos de pensão das estatais — Previ, Petros, Funcef, Funpresp — não estavam expostos ao Master. 

Quem estava eram os RPPS, os fundos mais vulneráveis, menos fiscalizados, muitas vezes comandados por aliados políticos de prefeitos e governadores sem conhecimento técnico. 

• liquidação decretada pelo Banco Central; • bens bloqueados;

• prisões por suspeita de fraude, gestão temerária e organização criminosa; e 

• prejuízos bilionários, agora pendurados nos cofres de Estados e municípios.

Ou seja: a conta caiu, de novo, no colo de brasileiros desejosos de ganhos acima do mercado e dos aposentados. A pergunta que fica sem resposta é simples e devastadora: por que prefeitos e gestores de RPPS colocaram bilhões em um banco que já dava todos os sinais de perigo? Ignorância? Irresponsabilidade? Imprudência? Ou algo pior? É hora de investigações estaduais, municipais e federais serem abertas contra cada gestor que assinou cada aplicação. Porque perder dinheiro próprio é azar; perder dinheiro público é crime. E perder dinheiro da aposentadoria do servidor é crueldade institucional

Carlo Cauti e Gustavo Segre - Revista Oeste