O médico doutor em imunologia Roberto Zeballos orientou o tratamento de pacientes em Belém, no Estado do Pará
Em abril do ano passado, a cidade de Belém, no Estado do Pará, sofreu com a superlotação das redes públicas e privadas de Saúde, a falta de leitos de UTI e o aumento no número de mortos pela covid-19. Chamado para reverter o quadro crítico de casos na capital paraense, o médico paulistano clínico geral e doutor em imunologia Roberto Zeballos orientou o tratamento de pacientes contaminados pelo coronavírus.
O resultado da experiência bem sucedida em Belém foi publicado em 10 de agosto na revista científica Health, do grupo Scientific Research Publishing (SCIRP), e detalha o tratamento conduzido por Zeballos em pacientes com a covid-19 entre abril e maio de 2020.
Em razão do colapso no sistema de Saúde no Pará, a falta de leitos obrigou médicos a tratarem muitos doentes em casa, fora do ambiente hospitalar. “Como não havia hospitais, tive a ideia de passar medicamentos via oral”, diz Zeballos. A médica Luciana Cruz, também citada no artigo, foi a responsável por repassar as orientações aos diversos grupos de profissionais da Saúde do Estado — “Sem ela nao seria possível”, afirma Zeballos. O artigo publicado na Health e revisado por pares incluiu pacientes na chamada fase dois da covid-19, ou seja, no início da fase inflamatória pulmonar, e, sob prescrição médica, usou a combinação das seguintes medicações: metilprednisolona (corticoide via oral), enoxaparina (anticoagulante) e os antibióticos ceftriaxona e claritromicina.
Zeballos explica que a publicação reuniu o relato de vários médicos e, embora seja estimado que mais de 500 pacientes receberam essa abordagem terapêutica, foram selecionados 210 casos considerados “auditáveis” — desses, 208 pacientes se recuperaram e apenas dois morreram. “Esse esquema terapêutico gerou o tratamento domiciliar que é realizado há mais de um ano no Brasil inteiro”, disse o médico.
Algumas conclusões do artigo:
• O uso do protocolo nas fases iniciais da doença reduz risco de pneumonia e necessidade de internação, desafogando o sistema hospitalar;
• Pesquisa abre caminho para aprimorar o protocolo medicamentoso com critérios bem definidos para tratamento domiciliar de pacientes com a covid-19, evitando a hospitalização desnecessária;
• Reforça a importância do tratamento precoce para tratamento da inflamação pulmonar em fase inicial.
Para Zeballos, a estratégia terapêutica detalhada no estudo só deve ser usada na fase inflamatória da doença, a partir do sétimo dia de sintoma, e sempre com acompanhamento médico. “Essa abordagem é ideal para a cepa delta [variante do coronavírus originária da Índia], que tem respondido muito bem ao tratamento”. O artigo ressalta, no entanto, que “estudos randomizados são necessários para confirmar o potencial do protocolo em modificar o curso natural da doença e auxiliar na melhor combinação dos remédios”.
“Depois do que ocorreu no Pará, não era só a minha experiência, era a de mais de 250 médicos. Então, ganhei força para continuar divulgando. Vi que tinha algo muito poderoso em mãos”, diz Zeballos.
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Paula Leal, Revista Oeste