sexta-feira, 20 de agosto de 2021

"A segunda revolução elétrica", por Dagomir Marquezi

 



Pense na sua vida sem eletricidade. Por apenas um dia. Ou uma hora que seja. Nossa vida está dependendo cada vez mais de energia elétrica. Rotina, saúde, vida financeira, diversão, comunicação, trabalho, tudo hoje precisa estar conectado a uma tomada. Ou usa baterias, que mais cedo ou mais tarde terão de ser recarregadas.

Agora pense que essa necessidade tende a aumentar rapidamente, especialmente na área dos transportes. Por enquanto, pouco mais de 2% de carros e caminhões são elétricos. Mas a tendência é que essa fatia aumente muito quando os veículos se tornarem mais confiáveis e baratos. Barcos e aviões estão mudando para a eletricidade. Cerca de 75% da rede de trens de passageiros já é elétrica. Novas tecnologias, como dronesHyperloop e maglev também funcionam com eletricidade.

Segundo a Enciclopédia Britannica, no início do século 21, 80% das fontes de energia eram derivadas de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural. Com uso minimamente racional, essas fontes podem durar até cerca de 2050.

Existem alguns fatos incômodos sobre os combustíveis fósseis que não se encaixam nos conceitos de direita e esquerda: 1) eles vão acabar, e a metade do século 21 está a apenas 29 anos de distância; 2) sua exploração não costuma ser amistosa com o meio ambiente; 3) sua emissão não faz bem para a saúde nem para a natureza. E nem falamos aqui da discutível questão das mudanças climáticas.

Vivemos a segunda revolução da eletricidade. A primeira sacudiu o mundo no final do século 19, quando os lampiões deram lugar à luz elétrica, o metrô se tornou possível e começaram a se popularizar refrigeradores e rádios.

Essa nova fase está levando a um momento em que a eletricidade deixa de ser um conforto para se tornar um fator de dependência. E precisaremos de redes cada vez mais complexas de geração de energia. Logo mais estaremos em veículos movidos a baterias e numa densa rede de sinais 5G guiando nossos dias.

É desagradável dizer isso, mas nada é completamente seguro. Os ataques de hackers estão se tornando cada vez mais ousados e poderosos, e um dos alvos prioritários são as redes de eletricidade. Uma única bomba nuclear de baixa potência que exploda em grande altitude pode torrar a rede elétrica de grandes complexos urbanos através do EMP (ou Pulso Eletromagnético).

Mas já temos pesadelos apocalíticos demais para evitar. Paralelamente à dependência cada vez maior da eletricidade, estamos em busca de novas fontes seguras e sustentáveis de energia, como o hidrogênio e a fusão nuclear.

O futuro da energia é o tema desta série de reportagens de Oeste. É um problema vital, que precisa ser equacionado com rapidez e mente aberta. Vamos analisar diversas opções, algumas mais tradicionais, outras ainda no campo da experimentação.

A primeira reportagem, do engenheiro Gerhard Walter Schultz, toca num ponto nevrálgico da realidade. Passamos as últimas décadas aprendendo a repelir a energia nuclear como perigosa, usando o caso de Chernobyl como modelo. Quando na verdade Chernobyl foi uma exceção.

Na última edição de Oesteo climatologista Ricardo Felício deixou claro quando perguntado sobre as opções energéticas do Brasil: “Eu investiria em energia nuclear”, afirmou. “Ela é a mais eficiente e a que produz mais ocupando menos espaço, tem resíduo controlado e ainda gera desenvolvimento em qualquer lugar — uma vez que atrai um capital humano altamente qualificado. Construiria três usinas atômicas em cada uma das grandes regiões do país. Essas tecnologias estão avançando e nós estamos ficando para trás. Índia, China, Rússia, Estados Unidos e grande parte da Europa, por exemplo, são parceiros no desenvolvimento do Reator Internacional Termonuclear Experimental, o Iter [na sigla em inglês], que promete revolucionar a geração de energia”.

Leia também “Energia nuclear: vilã ou solução?”, texto de Gerhard Walter Schultz

Revista Oeste