sábado, 7 de dezembro de 2019

Nova versão de edital do leilão do 5G deve privilegiar grandes operadoras

Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) vai retomar na próxima semana as discussões do leilão do 5G com alterações significativas em relação à proposta original. O Estadão/Broadcast apurou que a nova proposta para o formato do leilão, que será apresentada na próxima quinta-feira, 12, privilegia as grandes teles que já atuam no setor e pode inviabilizar a participação das pequenas operadoras, prevista na primeira versão do edital. 
A disputa, uma das mais aguardadas pelo setor, deve movimentar R$ 20 bilhões em arrecadação e investimentos. O 5G pode revolucionar a indústria e as relações entre consumidores e máquinas com maior velocidade para a internet sem interrupções no sinal, permitindo o avanço de tecnologias como cirurgias à distância e carros autônomos. Diversos países já realizaram leilões de 5G, assunto que é alvo de guerra tecnológica entre Estados Unidos e China.
Em outubro, a discussão foi paralisada na Anatel porque um dos conselheiros pediu vista. Dividida, a diretoria da agência ainda pode solicitar um novo adiamento, o que empurraria o leilão, previsto para o fim de 2020, para o início de 2021. Após a Anatel definir uma proposta de edital, ele deve ficar aberto para consulta pública por 45 dias, para só então ser definitivamente aprovado. Depois, o edital precisa ainda do aval do Tribunal de Contas da União (TCU)

Mudança

Na nova proposta, segundo apurou o Estadão/Broadcast, o conselheiro Emmanoel Campelo deve dividir a frequência do 3,5 GHz em três blocos nacionais, o que favoreceria as grandes teles. A principal polêmica da primeira versão do edital, sugerida pelo conselheiro Vicente Aquino, era justamente a reserva de um bloco de 50 MHz, dividido em 14 regiões, exclusivamente para pequenas operadoras e novos entrantes. Pela primeira vez, a Anatel propunha privilegiar esse grupo, que poderia fazer suas ofertas antes das grandes teles, invertendo a ordem tradicional dos leilões. 
O parecer de Campelo sugere a retomada da prática usual. Questionado sobre o possível favorecimento das grandes teles, o conselheiro afirmou em nota que a informação é “inverídica e especulativa”, reforçando que o conteúdo do seu voto só estará público na quinta-feira. 
5G
5G Foto: Eric Gaillard/ Reuters
Em defesa da proposta original, Aquino afirma que os provedores regionais já detém, em conjunto, a maior parcela do mercado, com mais de 30% das conexões de banda larga no Brasil. “Eles têm sido o motor de crescimento da banda larga no País os últimos. São esses heróis da conectividade que estão levando a fibra ótica para o interior do País”, disse.
Na proposta de Aquino, se houver sobras no bloco reservado às pequenas, elas serão licitadas na etapa seguinte do leilão, juntamente com a parte que será ofertada às grandes teles – seriam três áreas nacionais, que totalizam 250 MHz. Os blocos seriam divididos em 10 MHz, e cada tele poderia fazer lances de no mínimo 5 e no máximo 12 blocos, com múltiplas rodadas e preços ascendentes. Para essas empresas, será exigida a cobertura nas rodovias e a instalação de fibra ótica nas cidades que não possuem essa estrutura.
O presidente da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp), João Moura, diz que a proposta de Aquino possibilita o aumento de participação das pequenas operadoras e garante, no futuro, a entrada de outras companhias. Para ele, o compartilhamento das redes deve ter regras claras e definidas já no edital. “Temos que considerar as mudanças profundas a longo prazo. Não podemos pensar no leilão olhando pelo retrovisor, com elementos do passado.”

Grandes teles querem mais espaço

A maior preocupação das grandes teles – ClaroVivoTIM e Oi – em relação ao 5G está na quantidade de espectro que poderão obter no leilão. Para que tenham possibilidade de ofertar velocidade de 1 gigabit por segundo, teriam de comprar pelo menos 100 MHz, diz o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude. “Temos quatro grandes operadoras. Na divisão proposta inicialmente só haveria espaço para três”, afirma. 
Em relação a essas críticas feitas à primeira versão do edital, o conselheiro Vicente Aquino destaca que, além dos 250 MHz já reservados a essas empresas, elas poderão compor seu portfólio com as sobras da etapa de disputa das pequenas.
Tude avalia que esse cenário é o mais provável de ocorrer. “Acho pouco provável que não haja sobras. Mas, se não houver, 250 MHz é pouco para quatro. O conflito vem da escassez. Nesse cenário, teríamos um 5G de velocidade mais baixa.”
Operadoras regionais têm se destacado na expansão das redes fora dos grandes centros e no interior do País. Além da Algar, no triângulo mineiro, empresas como Brisanet e Mob Telecom têm expandido atuação no Nordeste, assim como a Vero, do grupo Vinci Partners, em Minas Gerais.
Representante das maiores teles, o presidente executivo do Sinditelebrasil, Marcos Ferrari, defende um leilão com foco em investimentos e não em arrecadação, e a maior segurança regulatória possível. Entre temas que precisam ser resolvidos antes do leilão, segundo ele, está a adaptação à lei geral de antenas – não cumprida por muitos municípios, inclusive São Paulo.
“A tecnologia 5G vai precisar de cinco a dez vezes mais antenas do que o 4G. A grande maioria dos municípios não se adaptou à nova lei, e isso cria insegurança jurídica e falta de previsibilidade para o leilão”, diz Ferrari. 
Outra cobrança das teles é pela mudança na tributação da Internet das Coisas (IOT). Hoje há incidência de taxas e impostos sobre cada chip ativo. “Se não houver tributação zero, será inviável.”

Jair Bolsonaro 5G
Presidente Jair Bolsonaro em encontro com o CEO da Ericsson, Börje Ekholm 
Foto: Marcos Corrêa/ PR - 25/11/2019

Anne Warth, O Estado de S.Paulo