ÉRICA FRAGA
MARIANA CARNEIRO
Folha de São Paulo
MARIANA CARNEIRO
Folha de São Paulo
O aprofundamento da recessão levou a uma forte queda no lançamento de produtos e na adoção de técnicas inovadoras por parte das empresas brasileiras.
Dados inéditos da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) revelam que a parcela de companhias do setor industrial com mais de 500 funcionários que realizou alguma inovação, para si própria ou para o mercado, caiu de 44,9% no último trimestre de 2015 para 37,6% entre janeiro e março do ano passado.
O nível atingido no início de 2016 é o menor desde que a Sondagem de Inovação, à qual a Folha teve acesso com exclusividade, começou a ser feita, no primeiro trimestre de 2010. Segundo a ABDI, inovar é introduzir um produto ou um processo produtivo tecnologicamente novo ou muito aprimorado.
IMPORTÂNCIA
A inovação é considerada essencial para o aumento da eficiência das empresas e, portanto, para sua capacidade de competir tanto no mercado doméstico quanto no internacional. É um dos fatores que determinam o crescimento dos países a longo prazo.
O IBGE também identificou tendência de recuo da inovação do país em pesquisa trienal sobre o tema, mais ampla, divulgada no início de dezembro. Os dados referentes ao período de 2012 a 2014 -ainda no início da atual crise- mostraram estabilidade (em nível ainda baixo) no percentual de empresas inovadoras.
Pouco mais de um terço (36%) das 132.529 empresas com mais de dez
trabalhadores informou adotar práticas para inovar em produtos ou processos. No período anterior (2006 a 2008), eram 35,7%.
O IBGE detectou queda no número de inovadoras na área de serviços e contração significativa nos setores de eletricidade e gás.
Embora com amostra diferente, os dois estudos indicam que a perda de ritmo da atividade econômica que o país vive desde 2014 é o principal motivo para a redução das atividades inovadoras. O aprofundamento da recessão a partir de 2015 levou a uma acentuação dessa tendência.
"A crise faz com que as empresas não percebam o que é importante e reduzam a inovação", afirma Guto Ferreira, presidente da ABDI.
Segundo ele, que deixou o setor de start-ups há seis meses para assumir a agência, as empresas deveriam caminhar na direção contrária durante períodos recessivos.
"Este deveria ser o momento de buscar inovação para se tornar mais competitivo. Mas o país caminha na direção contrária. Nesse ritmo, em dois anos poucas empresas serão produtivas", afirma.
SUBSÍDIOS
Além da crise, Ferreira aponta a política do governo de ampliar significativamente os subsídios ao setor produtivo, após a crise global de 2008, como outra razão para o declínio da inovação.
"A indústria passou a viver de subsídio do governo e deixou de se preocupar com inovação, marca, design", diz.
Na mais recente edição da Sondagem, quase 70% das empresas informaram lançar mão da prática, porém só 12% consideram que o design é um diferencial estratégico.
A série "Marcas da Crise" mostra os impactos provocados pela recessão, talvez a mais profunda da história do país. Alguns dos efeitos podem afetar a capacidade de reação da economia. Veja as outras reportagens da série em folha.com/marcasdacrise.