DO "FINANCIAL TIMES"
Tradicionalmente, os quartos alugados por hora eram característica de estabelecimentos vulgares ou de "hotéis [motéis] do amor", do Japão à Argentina.
Agora, na França, cadeias de hotéis de luxo aderiram ao modelo do aluguel de quartos por hora.
Cadeias de hotéis como a Accor e a Marriott assinaram com uma start-up que opera um serviço de reservas on-line chamada Dayuse.com, e o número de hotéis na França que trabalham com a companhia dobrou para 600 neste ano, segundo a Dayuse.
"Os hotéis vêm enfrentando dificuldades na França, mas lhes oferecemos uma nova fonte de receita", disse David Lebée, fundador e presidente-executivo da Dayuse.
"Dez anos atrás, os hotéis nem sonhariam em fazer algo desse tipo, mas os tempos mudam."
A Dayuse, lançada em 2010, afirma que 70% dos quartos de hotel ficam vazios durante o dia e gerou mais de US$ 20 milhões em receitas para os hotéis que assinaram para o seu serviço. A Accor e a Marriott confirmaram ter assinado com a start-up, ainda que tenham se recusado a estender seus comentários.
Maud Ruault, gerente do Les Plumes, hotel independente em Paris que assinou com a Dayuse, diz que o site propicia de 30 a 40 reservas mensais e que vem sendo "grande fonte de novos negócios" em "um momento difícil", em referência à queda no movimento dos hotéis causada por uma série de atentados terroristas na França.
"As pessoas não vêm ao hotel para dormir; elas querem uma experiência... muitos são casais que querem se divertir sem as crianças por perto", ela diz, acrescentando que os usuários tendem mais a ser cidadãos franceses do que turistas.
No site, os usuários podem, por exemplo, alugar num quarto cuja diária costuma ser de 800 (R$ 2.700) no Marriott Opera Ambassador, um hotel de quatro estrelas no centro de Paris, por 99 (R$ 339), no período entre as 11h e as 16h.
CAIXA DO AMOR
Uma "caixa do amor" cheia de brinquedos eróticos custa 40 adicionais, e uma garrafa de champanhe custa 70.
A Accor, a maior operadora de hotéis da Europa, teve 4,7% de queda de faturamento no país no terceiro trimestre em razão do "clima de insegurança".
Jean-Jacques Morin, vice-presidente financeiro da Accor, disse que o medo do terrorismo afetou "fortemente as viagens de lazer à França".
O verão foi "catastrófico" para os hotéis da França, de acordo com a Deloitte.
Houve queda no índice de ocupação, e a receita por quarto disponível -o indicador preferencial de vendas do setor- recuou 28% (hotéis médios) e 48% (hotéis de luxo) em agosto. Em setembro e outubro, a queda foi ainda maior.
Os operadores de hotéis franceses também estão sendo pressionados pelo Airbnb.
Lebée estima que o Airbnb e outros sites de locação causaram perda de faturamento média de 15% para o setor de hotelaria e que assinar para o Dayuse possa restaurar 10% dessa perda, ao criar uma nova fonte de receita.
Ele diz que há casais —"fiéis e infiéis"— que usam o serviço para "encontros discretos", mas que ele também é usado por executivos para conduzir entrevistas ou por viajantes que desejem relaxar antes de um voo noturno.
Jean-Bernard Falco, presidente da AhTop, uma organização setorial de hotéis, diz que alugar quartos durante o dia é apenas "uma solução" para os problemas do setor francês de hotelaria.
A AhTop está tentando pressionar os legisladores a aprovar regras mais duras para os sites de locação de acomodações como o Airbnb, para tornar mais difícil que os anfitriões soneguem impostos e para forçá-los a pagar mais impostos sobre a renda auferida com as locações.
O Dayuse tem 3.000 hotéis parceiros em 16 países e planeja expandir sua presença a 20 países até 2020. Em 2016, ela assinou também com a operadora de hotéis suíça Mövenpick.
Tradução de PAULO MIGLIACCI