segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

João Santana recebeu US$ 7,5 milhões em contas no exterior, diz Polícia Federal



João Santana e Dilma, durante o intervalo do primeiro debate na campanha presidencial de 2010 - Marlene Bergamo/Folhapress/10-10-2010


Renato Onofre - O Globo



Deflagrada nesta segunda-feira, a 23ª fase da Operação Lava-Jato investiga os pagamentos feitos ao publicitário João Santana, coordenador das campanhas eleitorais que levaram Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff à Presidência. O marqueteiro é suspeito de receber US$ 7,5 milhões em contas no exterior entre 2012 e 2014. Os valores teriam sido pagos pela offshore Klienfeld, identificada pela força-tarefa como um dos caminhos de propina da Odebrecht no exterior, e pelo engenheiro Zwi Skornicki, suspeito de operar o esquema de propina na Petrobras. A suspeita é de que os pagamentos correspondem a serviços eleitorais prestados ao PT.

— Chama à atenção, e por isso a gente imputa o crime de lavagem (de dinheiro) a João Santana, que nos extratos do Citibank há clara referência de que os depósitos estavam relacionados a contratos — afirmou o delegado Filipe Hille Pace.

Foram expedidos mandados de prisão temporária para João Santana e sua mulher e sócia, Monica Moura. Os dois estão na República Dominicana, onde trabalham na campanha de Danilo Medina à reeleição.

 Os nomes de ambos serão incluídos na lista da Interpol em alerta vermelho.

A defesa de João Santana e Monica Moura informou ao juiz Sérgio Moro que o casal já agendou "seu imediato retorno ao Brasil, mobimento que deve ocorrer nas próximas horas" e vai se apresentar imediatamente às autoridades responsáveis pela investigaçaõ. O advogado Fábio Toufic protocolou o documento na tarde desta segunda-feira.


A operação





Alvo da Lava-Jato é levado pela Polícia Federal em São Paulo - Marcos Alves



A nova fase da Lava-Jato foi batizada de "Acarajé" em alusão ao termo utilizado por investigados para denominar dinheiro em espécie. Apontado pela Polícia Federal como um dos maiores operadores de propina da Petrobras, o engenheiro Zwi Skornicki foi preso preventivamente na manhã desta segunda-feira em casa, na Barra da Tijuca, no Rio. A força-tarefa da investigação informou que foram cumpridos mandados de prisão temporária contra Vinicius Veiga Borin e Maria Lucia Guimarães Tavares, que é secretária da Odebrecht.

Também há mandando de prisão temporária para Benedito Barbosa, presidente de Infraestrutura da Odebrecht; e Marcelo Rodrigues. Já Fernando Migliaccio, responsável por finanças estruturadas nacionais da Odebrecht, é alvo de um mandado de prisão preventiva. No entanto, eles não foram localizados.

Preso desde junho do ano passado, o empresário Marcelo Odebrecht teve um novo pedido de prisão negado pelo juiz Sério Moro. Ele está no Compleco Médico Penal e será levado a depor na sede da PF nesta segunda-feira.

A operação envolveu cerca de 300 agentes da Polícia Federal nesta segunda. Foram cumpridos 51 mandados, sendo 38 de busca e apreensão, 2 de prisão preventiva (Zwi Skornicki e Fernando Migliaccio), 6 de prisão temporária (João Santana, Monica Moura, Vinicius Boni, Maria Lúcia Tavares, Benedito Barbosa e Marcelo Rodrigues) e 5 de condução coercitiva. As ações aconteceram em três estados. No Rio, os agentes estiveram na capital, em Angra, Petrópolis e Mangaratiba. Também houve cumprimento de mandados na capital paulista, em Campinas e Poá, em São Paulo. Na Bahia, os policiais federais atuaram em Salvador e Camaçari.


Buscas em sede da Odebrecht



Polícia Federal declarou a prisão preventiva de João Santana e está apreendendo documento e computadores de empresas envolvidas no esquema de corrupção. - Márcia Foletto / Agência O Globo



Os agentes da Polícia Federal cumpriram mandados em sedes da Odebrecht no Rio, em São Paulo e na Bahia. Dois carros da PF foram à Odebrecht Óleo e Gás, na Avenida Pasteur, e na sede da construtora, na Praia de Botafogo, ambos no Rio. Eles chegaram ao local antes das 7h.

Na sede da Odebrecht Óleo e Gás no Rio, funcionários foram dispensados após a chegada dos policiais. Só ficaram no prédio aqueles cujo trabalho seria essencial para o desenrolar da operação, como, por exemplo, o fornecimento de senhas dos computadores. As portas foram fechadas e ninguém pode entrar. Por volta das 10h30m, um entregador que precisava levar um pacote para uma funcionária foi barrado e precisou voltar.

Em nota, a Odebrecht informou que a empresa “está à disposição das autoridades para colaborar com a operação em andamento”.


Barcos e lanchas apreendidos


Jefferson Ribeiro



Além cumprir mandados de prisão, agentes da Polícia Federal apreenderam lanchas e carros de coleção no estado do Rio. Os bens pertencem ao engenheiro Zwi Skornicki, apontado como operador de propina da Petrobras.

Em vídeo obtido pelo GLOBO, é possível ver pelo menos 6 veículos esportivos clássicos e modelos antigos, voltados para colecionadores, estacionados em um dos imóveis do engenheiro. Em ordem de aparição, estão um Alfa Romeo Spider (vermelho), Chevrolet Bel Air 1955 "hot rod" (azul metálico), Mercedes-Benz 280 SL Pagoda 1963-1971 (verde escuro), Chevrolet Corvette conversível 1966 (prateado), Mercedes SL R107 1972-1989 (preto) e Porsche 911 Targa 1978 (branco).


Pagamentos ao marqueteiro




João Santana foi marqueteiro das campanhas da presidente Dilma Rousseff e da campanha da reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. Segundo os investigadores, o publicitário recebeu US$ 7,5 milhões em contas no exterior em nome da offshore Shellbill Finance SA.

Parte dos valores teria sido depositado pela offshore Klienfeld, que já foi indentificada pela Lava-Jato como um dos caminhos de propina da Odebrecht no exterior. Foram identificados quatro depósitos entre abril de 2012 e março de 2013 que totalizaram US$ 3 milhões.

Outra parte teria origem em contas do engenheiro Zwi Skornicki, que foi preso preventivamente nesta segunda-feira. Ele teria feito nove depósitos para a Shellbill entre 2013 e 2014. Eles totalizariam US$ 4,5 milhões. De acordo com os investigadores, os valores passaram por bancos em Londres e Nova York antes de chegar à Suíça.

João Santana passou a ser investigado em um inquérito sigiloso após suspeitas de manter contas no exterior, com origem não declarada. Os primeiros indícios da participação do casal no esquema apareceram para os investigadores durante busca e apreensão em endereço do consultor Zwi Skornicki quando foi encontrado um documento manuscrito enviado pela mulher de Santana. No papel, Mônica Moura aponta duas contas, uma nos Estados Unidos e outra na Inglaterra.Na ocasião, Santana negou a prática de caixa 2 por meio de sua empresa, a Pólis Propaganda & Marketing.

A conta dos publicitários onde a Lava-Jato encontrou o rastro de pagamento de propina está em nome da offshore panamenha Shellbill Finance SA e não teria sido declarada às autoridades brasileiras. No ano passado, assim que surgiram os primeiros indícios de pagamentos a Santana, o publicitário admitiu ter contas fora do país, mas disse que elas foram declaradas à Receita Federal. Segundo a PF, a conta foi usada para transferências a Suria Santana, filha do publicitário que mora nos Estados Unidos. Suria recebeu em oitenta transações realizadas entre 2008 e 2015 US$ 442 mil. O marido de Suria, Matthew Pacinelli, recebeu em oito transações US$ 75 mil da mesma conta em 2009.


João Santana - O que é que o baiano tem?






A origem do marqueteiro

Natural de Feira de Santana, na Bahia, o publicitário João Santana se notabilizou pelo sucesso de suas campanhas de marketing em eleições. Adepto da tática de que "a melhor defesa é o ataque" e conhecido por ter uma visão política apurada, Santana previu que




O marqueteiro João Santana se notabilizou pelo sucesso de suas campanhas junto a candidatos petistas Foto: Divulgação


No sábado, João Santana se colocou à disposição para prestar esclarecimentos à força tarefa da Lava-Jato após o juiz Sérgio Moro negar a seus advogados o acesso às investigações envolvendo o publicitário. Santana comandou as três últimas campanhas do PT à Presidência — da presidente Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, e a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006.

Em ofício encaminhado ao juiz Sérgio Moro, o criminalista Fabio Tofic, que representa o publicitário e sua mulher, afirmou que os dois estão dispostos a prestar esclarecimentos em qualquer investigação que envolva os seus nomes. Tofic afirma que o casal “foge completamente ao perfil de investigados” na Operação Lava-Jato.


Moro: Santana sabia da origem


O patrimônio do publicitário João Santana e de sua mulher, Mônica, aumentou de R$ 1 milhão para R$ 78,6 milhões entre 2004 e 2014. Para o juiz Sérgio Moro, "é extremamente improvável que a destinação de recursos espúrios e provenientes da corrupção na Petrobras aos dois, no exterior, "esteja "desvinculada dos serviços que prestaram à aludida agremiação política". Segundo o juiz, "por mais que tenham declarado ao Fisco" os valores, o casal "tinha conhecimento da origem espúria dos recursos" e ocultou valores que recebeu no exterior "mediante expedientes notoriamente fraudulentos", como contas em nome de offshore e contratos falsos.

João Santana e Mônica são sócios da Polis Propaganda e da Santana & Associados. João Santana também é sócio administrador, com terceiros, das empresas JF Comunicação e A2CM. Mônica Santana é ainda sócia com terceiros das empresas 3º Bar e Restaurante e da Divina Comedia Artes e Entretenimentos.

Segundo levantamento da Polícia Federal, as empresas de João Santana e Mônica receberam R$ 171,5 milhões do PT entre 2006 e 2014.


Desdobramentos no TSE


Os investigadores acreditam que os pagamentos feitos no exterior aos publicitários João Santana e Mônica Moura serviram para quitar dívidas de campanhas petistas. As transferências ocorreram entre abril de 2012 e novembro de 2014. Neste período, os publicitários comandaram a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff. A eleição está sendo contestada pela oposição que encaminhou quatro pedidos de cassação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por supostas irregularidades ocorridas durante a disputa em 2014. Entre as acusações está a de que a campanha foi abastecida com dinheiro desviado da Petrobras.


Planalto em alerta
Simone Iglesias


O pedido de prisão de João Santana deixou o Palácio do Planalto em alerta na manhã desta segunda-feira. Auxiliares presidenciais mostraram-se preocupados com a situação, dizendo que as prisões do marqueteiro e de sua mulher, Monica Moura, poderão influenciar o julgamento das ações que tramitam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra Dilma e, também, dar novo fôlego ao pedido de impeachment, o que já parecia assunto superado para o Planalto. Monica é sócia de Santana na agência Pólis, que fez as duas campanhas eleitorais da presidente Dilma.

Apesar da preocupação generalizada que se abateu sobre os governistas nesta segunda-feira, há a avaliação de que não existe vínculo do dinheiro depositado pela Odebrecht em conta de Santana no exterior com a campanha à reeleição no ano passado.

— Precisa ter vínculo e, até agora, não há vínculo das contas dele com a campanha dela — avaliou um ministro ao GLOBO.

No entanto, mesmo que ainda não haja uma ligação direta entre as contas do marqueteiro e Dilma, assessores da presidente dizem que é ruim ter um nome tão vinculado a Dilma nesta situação. O alerta vermelho da Interpol, pelo fato de Santana e Mônica estarem na República Dominicana, ainda piora as coisas.

Outro auxiliar palaciano disse que a presidente está "tranquila" e que pagou legalmente ao marqueteiro por seus serviços durante a campanha do ano passado. Dos R$ 318 milhões gastos para reelegê-la, R$ 89 milhões foram pagos a Santana. Este auxiliar afirmou que "não faz sentido" receber tamanho volume de recursos legalmente e, ainda, mais dinheiro por meio de caixa 2.


PSDB quer juntas provas



O deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP) - Ailton de Freitas / Agência O Globo


O coordenador jurídico do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP), pretende encaminhar, na terça-feira, uma petição a ministra Maria Thereza, relatora da ação que pede impugnação do mandato da chapa Dilma Rousseff e Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para que as provas da Operação Acarajé, deflagrada nesta segunda-feira, sejam juntadas ao processo. Para Sampaio e o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), a operação é prova “irrefutável” de que a campanha de Dilma e Temer em 2014 foi beneficiada por recursos ilíticos do esquema de desvios da Petrobras.

O PSDB vai peticionar também para que seja tomado o depoimento do operador Zwi Skornicki, suspeito de repassar US$ 4,5 milhões em contas do marqueteiro no exterior entre 2013 e 2014 de recursos desviados da Petrobras.

— Ficou muito claro que a campanha da presidente Dilma veio para dentro da Lava-Jato com a prisão de seu marqueteiro João Santana. As provas já eram robustas, com documentos e depoimentos de cinco delatores e declarações do juiz Sérgio Moro, que foi categórico ao afirmar haver provas de dinheiro ilícito abastecendo contas do PT, agora, as provas levam a prisão do marqueteiro da presidente Dilma — disse Sampaio.


Quem é Zwi Skornicki?
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Zwi Skornicki é apontado como um dos operadores de propina na Petrobras - Reprodução/Facebook



O engenheiro Zwi Skornicki, representante comercial no Brasil do estaleiro Keppel Fels, está na mira da Polícia Federal há mais de um ano, desde que o nome dele surgiu na lista de 11 operadores de propina entregue à Lava-Jato pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, um dos delatores da operação. Segundo a Polícia Federal, Skornicki é o maior dos operadores do esquema e teria movimentado quantias muito superiores aos demais, incluindo aí o doleiro Alberto Youssef. A atuação de Skornicki pode levar a outras áreas da administração federal, além da Petrobras.

Nascido na Polônia, Skornicki, de 66 anos, era representante no Brasil do estaleiro Keppel Fels. Apenas as propinas relacionadas aos contratos firmados entre o estaleiro e a Petrobras podem ter ultrapassado R$ 100 milhões. O estaleiro fechou contratos com a estatal para as plataformas P-51, P-52, P-56 e P-61 e os cascos para a P-53 e P-58.

Barusco disse que o estaleiro ainda devia US$ 14 milhões em propina à diretoria de Serviços da Petrobras quando o diretor da área, Renato Duque, deixou a empresa. Skornicki teria então usado uma conta sua no banco Delta, na Suíça, para transferir US$ 12 milhões a Duque e US$ 2 milhões a Barusco por meio de contas mantidas pela dupla no mesmo banco.

Delatado pelo ex-gerente, que informou ter recebido propina do operador, Skornicki negava ter conta na Suíça e dizia que as denúncias não passavam de "fantasia". Quando foi levado a depor em fevereiro do ano passado, na Operação My Way, a mesma que prendeu o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto,Skornicki ficou calado sob a alegação de que não sabia do que era acusado.

Skornicki é dono das empresas Eagle do Brasil e Eagle Consultoria em Engenharia, ao lado da mulher e do filho. Na operação My Way, a PF apreendeu na casa dele 48 obras de arte e cinco carros. Ele argumentava que os quadros não valiam muito e que seu patrimônio era compatível com os anos trabalhados no mercado de petróleo. Morador da Barra da Tijuca, no Rio, é dono de uma casa em Angra dos Reis e de um terreno de mais de 4 mil metros quadrados no Condomínio Portogalo, um dos mais sofisticados da região, onde uma segunda residência estava em construção.


"Autoridade argentina"

Renato Onofre



Agentes da Polícia Federal fazem buscas na sede da Odebrecht em São Paulo - Edilson Dantas / Agência O Globo



Os investigadores da Lava-Jato encontraram indícios de pagamentos feitos pela Odebrecht a uma “autoridade argentina” através de uma offshore usada pela empresa para pagar propina desviada da Petrobras. A Polícia Federal encontrou uma planilha gerada pela secretária de confiança do ex-presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, com dados de pagamentos ilícitos envolvendo eleições no Brasil e no exterior.

O documento foi encontrado em um dos computadores da empresa apreendidos pela Polícia Federal na sede da Odebrecht no ano passado. De acordo com os investigadores, a planilha se tratava de “um controle de pagamentos ilícitos”. Além da autoridade argentina, identificado como Ricardo Jaime, ex-secretário de Transportes da Argentina, foram encontrados os nomes do publicitário João Santana — referido como “Feira”, um trocadilho com a cidade baiana de Feira de Santana — e ao ex-ministro José Dirceu — que aparece como “JD”. Os investigadores acharam uma cobrança do assessor de Jaime, Manuel Vasques, a Odebrecht.

Os pagamentos foram feitos através da offshore Klienfeld, que já foi indentificada pela Lava-Jato como um dos caminhos de propina da Odebrecht no exterior. A offshore foi usada para pagar ex-dirigentes da Petrobras, entre eles os ex-diretores Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco, Jorge Zelada e Nestor Cerveró.