terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Tommy Hilfiger lançará biografia que conta como conquistou roqueiros

PEDRO DINIZ - Folha de São Paulo
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK


Há vários estilistas que se dizem influenciados pela música, mas são poucos cuja trajetória e estilo que perpetuaram não podem ser desvinculados dela. O norte-americano Tommy Hilfiger é um deles.

O designer pode ser reconhecido pelos brasileiros por suas camisas polo. Mas sua história, rica em detalhes sobre a construção da moda dos Estados Unidos, valerá ao estilista, hoje com 63 anos, uma biografia autorizada prevista para novembro.

O livro, em negociação com a gigante editorial Random House, contará como o menino engomadinho, nascido no seio de uma típica e grande família americana, conquistou roqueiros como Bruce Springsteen, Mick Jagger e uma penca de outros músicos antes de se tornar, aos 30 anos, emblema da moda dos mauricinhos dos Estados Unidos e dono de uma das marcas mais ricas e importantes da indústria.


"Lembro-me de fatos de quando tinha apenas cinco anos. Acho que, depois de seis décadas sem falar sobre minha vida, que é cheia de altos e baixos, chegou a hora de expor isso", diz o estilista em entrevista à Folha.

Dos tempos em que ainda vendia jeans em butiques e criava um ou outro look para "imitar as estrelas do rock de que gostava", ficaram memórias como a de quando o cantor americano Bruce Springsteen se produzia com suas roupas e das turnês dos Rolling Stones –"Bridges to Babylon" (1997) e "No Security" (1999)– patrocinadas por ele.

"Sempre estive dentro desse mundo. Os roqueiros entravam em minhas lojas para procurar minhas criações porque criei um estilo clássico conectado com a explosão da moda hippie da década de 1970", diz Tommy. "O que fiz, em resumo, foi simples. Busquei inspiração nas roupas que cresci usando, o estilo 'preppy', e misturei as cores, a silhueta e a imagem dos músicos da época."

Entende-se por "preppy" as roupas dos estudantes da elite nova-iorquina durante o "preparation school", que no Brasil seria similar ao ensino médio. Trocando em miúdos: terninhos, saias plissadas, listras, insígnias, chapéus. O típico mauricinho do lado leste do Central Park, lugar que, aliás, é palco dos desfiles de Tommy Hilfiger na semana de moda de Nova York, frequentado por estrelas da música e da televisão.

"Alguns estilistas não gostam de admitir, mas é a música quem ditava a moda, não o contrário. Eles gostam de dizer que criaram isso ou aquilo, mas os músicos são fashionistas por natureza e sua percepção do que é 'cool' dita a moda. Curioso que, depois, colam na gente procurando as roupas que eles mesmos conceberam."

David Bowie, por exemplo, será apontado na biografia como uma das grandes inspirações do designer. "Quando o vesti para uma campanha nossa de 2004 percebi que ele, assim como Madonna, Michael Jackson e Prince, foi o grande influenciador da moda. Transcendeu as épocas e inspirou diversas gerações de estilistas", diz ele.

FUTEBOL

Profundo conhecedor da estética casual da costura americana –"Se você olhar atentamente, ela é uma releitura da moda inglesa, a qual apenas tornamos globalizada"–, Tommy Hilfiger mudou de roupa conforme o andar da carruagem.

"Toda a mudança profunda de estilo e de comportamento deve acompanhar as transformações da moda."

Tanto que, atento à onda de patriotismo que tomou conta dos americanos após a crise econômica de 2008, pesca cada vez mais em signos da cultura dos EUA a inspiração para suas coleções.

Em seu desfile de inverno 2016, realizado nesta segunda (16), o futebol americano foi o ponto de partida para os casacos capas, saias plissadas e logos que permearam parte da coleção. Em vez de passarela, um campo de futebol, com telões gigantes e até placar.

"Minha incursão na moda se deu pelo meu fascínio pela música, por aquela juventude transgressora, mas hoje, fazendo parte da cultura pop, minhas referências vêm dos esportes, de Hollywood, da arquitetura. Não é restrita a um tema", explica ele.

E, como um autêntico porta-voz da indústria da moda americana, dispara: 

"Alguns designers não gostam de falar isso, mas, no fim das contas, depois de toda essa produção [e dinheiro gasto], tudo se resume a roupas, a vendas".