É o caso da demissão de Alexandre Garcia da CNN Brasil. Tal fato fala por si, mas os desdobramentos e as reações são ótimos indícios para que se compreenda o ponto em que chegamos. Nosso país é um manicômio no qual os normais são tratados como loucos justamente por não compartilharem da loucura que é a cláusula pétrea nacional.
Alexandre Garcia foi demitido da CNN por dar sua opinião em um quadro chamado... liberdade de opinião. A ironia é inevitável. Logo depois de falar sobre um determinado tema, o canal emitiu uma nota repetindo a verborragia enfadonha do mainstream sobre o assunto. Ou seja, a liberdade de expressão existe apenas para repetir o que é tido como verdade do Evangelho pelo beautiful people, caso contrário é fake news indigna de atenção.
Os imbecis que controlam – ou tentam controlar – o debate público não suportam o contraditório. Qualquer pessoa com mais de dois neurônios dá risada ao ver uma reportagem como a do Jornal Nacional que falava de uma organização criminosa cujo objetivo era falar mal de político.
O medo do confronto é constrangedor. Mas os iluminados da grande mídia tratam a opinião divergente como enganosa, e na pior das hipóteses, uma falsidade intencionalmente divulgada.
Por essas e outras que tais figuras nunca vão entender por qual motivo perderam credibilidade de forma tão rápida nos últimos anos.
Tanto é assim que os imbecis mais tarimbados comemoraram a demissão de Alexandre Garcia.
Eu poderia citar inúmeros exemplos, mas fico em apenas um pelo simbolismo: João Amoêdo. O cacique do Partido Novo, que iludiu tanta gente com o canto de sereia liberal, disse que o jornalista foi demitido por ‘’mentir e desinformar’’, e aproveitou para lembrar a eficiência do meio privado na questão – sem esquecer do corriqueiro fetiche pelo presidente Jair Bolsonaro.
Aqui a coisa fica interessante. Amoêdo sabe muito bem que Alexandre Garcia não foi demitido por ‘’mentir e desinformar’’, mas simplesmente por emitir uma opinião que contrasta com a hegemônica do mainstream. Quantos jornalistas conservadores não foram alvos da mesmíssima coisa ao defenderem suas posições?
Ora, a liberdade de expressão é pilar de qualquer regime que mereça o status de democrático, além de elemento indispensável do liberalismo. Se o indivíduo que é tido como símbolo de um partido liberal aplaude a mordaça e a perseguição contra quem quer que seja, essa atitude diz mais sobre ele do que sobre o jornalista.
Como a simples opinião de um jornalista – ou quem quer que seja – pode incomodar tanto os supostos donos da verdade? Qual a razão de perseguir o sr. Alexandre Garcia e promover um verdadeiro assassinato de reputação contra ele?
Bom, como eu disse anteriormente, o Brasil é um verdadeiro manicômio. Compreender o que se passou na província nos últimos cinquenta ou sessenta anos é vital para elucidar as questões colocadas no parágrafo anterior.
A coisa é mais ou menos assim: derrotada de todas as maneiras em 1964, a esquerda realizou nos anos seguintes um profundo debate a respeito do que deu errado.
Um povo recalcitrante ao comunismo botou para correr um presidente impopular que desrespeitava a Constituição e promovia a degradação do país ao tentar fazê-lo uma nova Cuba. Fazendo uma profunda análise estratégica da situação, os intelectuais esquerdistas – sim, naquela época eles ainda existiam – chegaram à conclusão de que as ideias da revolução não eram compartilhadas pelas massas, tornando impossível a chegada dos camaradas ao poder. Só tinha uma única estratégia disponível para tal façanha: a proposta por Antonio Gramsci, o teórico comunista italiano preso por Mussolini e autor dos Cadernos do Cárcere.
Gramsci analisou o insucesso da Revolução Russa em relação ao apoio popular e concluiu que o erro foi tomar o poder antes de ter a hegemonia. Poder é o controle do aparato estatal, enquanto hegemonia é o controle psicológico das massas. Ao ter a hegemonia, a esquerda teria o poder absoluto, pois controlaria a sociedade pela força e pelo consentimento. E para conquistar a bendita hegemonia seria necessário mudar a cultura, os valores e o que poderia ou não ser dito. Daí a importância dos intelectuais na tarefa, os novos guias do povo rumo ao paraíso socialista. Não por acaso o gramscismo enxerga mais valor em um jornalista teoricamente isento que muda aos poucos o teor do noticiário que um pregador revolucionário enragé.
Se hegemonia é controle psicológico total, não são permitidos pensamentos ou certas posições que ameaçam o novo senso comum. Isso explica o porquê da ausência da intelectualidade conservadora em todos os campos do debate público, uma vez que os ditames gramscianos foram aplicados ipsis litteris no Brasil. Explica também o ódio gerado nos imbecis quando um Alexandre Garcia defende uma posição tida por eles como heresia. E claro, revela o hospício que virou o nosso amado país.
Carlos Júnior
Jornalista
Jornal da Cidade