segunda-feira, 11 de março de 2019

Fala de Guedes sobre Previdência e desvinculação do Orçamento anima mercado

A Bolsa brasileira opera em forte alta nesta segunda-feira (11) com investidores animados em relação à reforma da Previdência e proposta do governo para uma ampla desvinculação orçamentária.
O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas, avançava 2,64% às 16h (horário de Brasília), a 97.886,42 pontos. O dólar comercial recuava 0,72%, cotado a R$ 3,843, impulsionado também um um exterior menos avesso ao risco.
O mercado local gostou do tom otimista do ministro Paulo Guedes (Economia) em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo deste domingo (10). 
Guedes afirmou que as mudanças nas regras para aposentadoria serão aprovadas. Ele admitiu que negociações no texto são possíveis, mas reforçou que o piso da economia a ser gerada é de R$ 1 trilhão.
O ministro disse ainda que o governo não vai aguardar o encerramento da tramitação da reforma da Previdência para enviar ao Congresso proposta que prevê ampla desvinculação do Orçamento.
Em discurso de posse, em janeiro, Guedes chegou a tratar a ideia como um plano B para o caso de não aprovar a reforma da Previdência. 
Na entrevista deste domingo, entretanto, ele afirmou que o texto ganhou vida própria diante do rombo nas contas dos estados e municípios.
"O assunto vinha no sentido de que seria um plano B, mas ele deixou claro que não, que será levado adiante. É necessário, 93% dos gastos do governo são rígidos. Mesmo com a reforma da Previdência, em dez anos cairia para algo em torno de 87%, é um Orçamento muito rígido", afirma Victor Candido, economista-chefe da Guide Investimentos. 
Guedes disse que a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da desvinculação orçamentária será entregue para tramitação inicial no Senado “o mais rápido possível”. A proposta de reforma na Previdência, por sua vez, tem análise que se inicia na Câmara dos Deputados.
Segundo Vicente Matheus Zuffo, gestor de fundos da SRM, o mercado teve um "choque de otimismo" no curto prazo também após encontro de Jair Bolsonaro com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A expectativa é que a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) que vai analisar o texto da Previdência seja instalada nesta quarta-feira (13). O governo espera com ansiedade o início dos trabalhos da comissão, já que é por ela que passará primeiro a proposta de emenda constitucional.
Os líderes partidários devem começar a indicar os nomes para o colegiado nesta segunda. Como informou o Painel, o grupo da articulação política do Planalto diz que espera contar com a ajuda de Maia para convencê-los a indicar deputados que “tenham carinho” pela reforma.
"A negociação com os partidos para aprovação da reforma começa nessa semana e tudo indica que vai ter um bom andamento", disse Zuffo.
No Ibovespa, destaque para as ações da Petrobras, que sobem 3,89% (preferenciais) após a petroleira divulgar a intenção de cortar US$ 8,1 bilhões de seus custos operacionais entre 2019 e 2023. O movimento era reforçado pelo preços do petróleo no exterior.
Os papéis do setor financeiro, com boa liquidez, também ajudavam a impulsionar o Ibovespa.
A Azul, terceira maior companhia aérea do Brasil, avança 6,58% após anunciar acordo para a compra da Avianca Brasil, que está em recuperação judicial, por US$ 105 milhões (R$ 406 milhões). 
Já a Gol recuava 2,14%, na esteira do acidente com o Boeing 737 MAX 8. Versão atualizada do avião comercial mais vendido da história, o modelo é a espinha dorsal da recente expansão internacional da Gol.

BOEING DERRETE

No exterior, novas promessas de estímulos na China favoreceram ganhos nas principais bolsas da Ásia, viés mantido pelos pregões europeus e por Wall Street.
O Dow Jones, principal indicador americano, subia 0,69%, enquanto o S&P 500 e o índice de tecnologia Nasdaq avançavam mais de 1%.
A alta do Dow Jones era contida pela queda nas ações da Boeing, que tem peso de 10% no índice e chegou a afundar 13% após um acidente com o 737 MAX 8 operado pela Ethiopian Airlines matar 157 pessoas. Ao longo do dia, a Boeing reduziu perdas e caia 6%.
Esse foi o segundo acidente com uma aeronave do tipo em cinco meses: em outubro, um modelo semelhante operado pela indonésia Lion Air caiu no mar 13 minutos após decolar, deixando 189 mortos.
Autoridades da China e da Indonésia ordenaram nesta segunda-feira que as companhias aéreas de seus países suspendam suas operações com o Boeing 737 MAX 8.
"Esse é um programa bem relevante para a Boeing e para toda a indústria de aviação. Essas aeronaves narrow-body [aeronave de fuselagem estreita, com um corredor central] são um grande drive de crescimento para o setor. É tudo muito preliminar ainda, mas existe uma preocupação pela gravidade do acidente e pelos países que estão proibindo o uso da aeronave", diz Arthur Siqueira, sócio e analista de investimentos da GEO Capital.
Por aqui, as ações da Embraer, empresa de aviação brasileira cujo braço de jatos comerciais está em processo de fusão com a Boeing, oscilavam perto da estabilidade.
"Isso pode acontecer porque a Boeing comprou um pedaço da Embraer que não está relacionado diretamente à situação pela qual passa a companhia americana agora", diz Siqueira.

Anaïs Fernandes, Folha de São Paulo