domingo, 9 de outubro de 2016

Debate deste domingo define busca de Hillary e Trump por estratégia final


Hillary Clinton e Donald Trump - DSK / AFP


Henrique Gomes Batista - O Globo


A 30 dias do pleito, candidatos precisam vencer resistências e mobilizar americanos


WASHINGTON - Em exatamente 30 dias, Hillary Clinton e Donald Trump se enfrentarão nas urnas. E, apesar da melhora da democrata nas pesquisas, analistas afirmam que a disputa continua em aberto. Nesta fase final, qualquer erro no debate de hoje à noite pode definir o novo morador da Casa Branca. Hillary, segundo os especialistas, tem desafios menores que Trump, mas ambos precisam calibrar as estratégias para conquistar os eleitores americanos.

O debate no último dia 26 foi fundamental para a virada de Hillary, que passou a dominar a disputa e abriu vantagem na maior parte das pesquisas desde então, revertendo o péssimo momento que vivia desde que tentou esconder uma pneumonia do público. Mas o debate de hoje, transmitido ao vivo a partir das 21h de St. Louis, no estado do Missouri (22h em Brasília) pode novamente acirrar a disputa. De acordo com a média das pesquisas calculadas pelo site “RealClearPolitics”, Hillary tem 44,1% das intenções de votos, contra 40,9% de Trump — diferença de apenas 3,2 pontos percentuais.

— Se olharmos todas as últimas pesquisas, a situação de Hillary está muito melhor, tanto nos levantamentos nacionais como nas projeções dos votos nos estados, que definem os delegados do Colégio Eleitoral. Ela ganhou muita força desde o último debate. Para ela, um empate no debate de hoje e no do dia 19 será uma vitória. Para Trump, não: empates nos dois confrontos serão péssimos — afirmou ao GLOBO Clifford Young, presidente da seção de temas públicos dos EUA do instituto de pesquisa Ipsos.

Young conta que o último debate, além de dar a ela o controle do ciclo de notícias da campanha, serviu para que a democrata mostrasse sua capacidade e se apresentasse de forma mais presidencial. Já Trump perdeu esta oportunidade e teve de enfrentar uma série de escândalos desde então: a forma pejorativa como tratou uma Miss Universo, quando tinha os direitos do concurso; a informação de que teve um prejuízo de US$ 1 bilhão há duas décadas — acabando com sua fama de vencedor — e que está há 20 anos sem pagar impostos; as irregularidades da Fundação Trump; e as gravações de 2005, que mostram o candidato se gabando de beijar, apalpar e tentar fazer sexo com mulheres, mesmo casadas, e se lamentando por não ter transado com “aquela dos peitões falsos”.

— Hillary não precisa mudar sua estratégia, mas continuar se mostrando preparada para ser presidente. Já Trump precisa mudar rapidamente. Ele pode tentar se mostrar mais presidencial, atacando a fundo os dois pontos mais importantes desta eleição: economia e terrorismo. E também pode, em outra estratégia, tentar fazer novamente um grande barulho, embora isso seja arriscado. Acredito que ele tentará, à sua maneira, fazer um misto destas duas estratégias — afirmou Young.

O diretor do “Texas Politcs Project”, James Henson, da Universidade do Texas, em Austin, acredita que, na fase final da campanha, o mais importante para ambos é evitar erros. Ele afirma que tudo pode mudar na eleição, que ele considera “a menos ortodoxa dos últimos anos”. Henson também vê a democrata em melhor situação e acha que ela pode aproveitar o momento:

— Hillary precisa de uma estratégia que mobilize seus eleitores. Seu grande desafio é fazer com que jovens, que estavam muito ligados a Bernie Sanders, negros e latinos, vão às urnas no dia 8 de novembro. Ela precisa aproveitar o bom momento para aumentar o entusiasmo de seus simpatizantes.

Em relação ao republicano, Henson acredita que a situação está mais complexa:
— Trump precisa fazer algo que, até agora, não conseguiu com muito sucesso: vencer a resistência de grupos importantes de eleitores, notadamente mulheres, negros e pessoas com alto nível educacional, que em geral moram nos subúrbios. O grande desafio dele é expandir seu eleitorado, e a melhor estratégia será focar apenas em alguns estados que podem ser campos de batalha relevantes.

Nesta eleição, a campanha negativa foi mais relevante que as propostas. Nem mesmo temas históricos, como o debate sobre aborto, armas e casamento gay, tiveram muito destaque neste ano, ofuscado pela alta rejeição de ambos os postulantes.

— O cenário está muito mais favorável a Hillary, mas tudo pode ocorrer. Ainda há uma série de questões que devem interferir, como o nível de participação dos eleitores, engajamento e votos nos terceiros candidatos — afirmou a pesquisadora Beatriz Cuartas, da George Washington University. — Há três semanas, Hillary estava numa situação muito ruim, depois que ela tentou esconder uma doença. Vemos uma volatilidade muito forte que torna qualquer previsão mais difícil neste ano.

Propor mais, atacar menos

Para a especialista, o debate de hoje pode ser fundamental:

— Temos que lembrar que, no debate do dia 26, ela venceu, mas ele não perdeu, necessariamente. O jogo está aberto nesta disputa que muda tanto, e que é tão difícil de prever.

Beatriz acredita que a melhor estratégia para ambos é deixar os ataques um pouco de lado e focar em propostas concretas, o que, historicamente, mobilizam a ida dos americanos às urnas.

O primeiro debate bateu recorde de audiência e foi visto por 84 milhões de pessoas. O encontro de hoje, mediado pelo apresentador Anderson Cooper (CNN), terá o formato de “town hall”, quando os dois ficarão, por uma hora e meia, livres no palco, podendo caminhar enquanto respondem a perguntas do público. Neste formato, a postura pode ser tão importante, segundo alguns especialistas, como as respostas.