sexta-feira, 27 de maio de 2016

Pedro Corrêa cita reuniões com líderes do PMDB para repartir propina


Pedro Corrêa, durante depoimento á CPMI do Mensalão 14/09/2005 - Ailton de Freitas / Agência O Globo


O Globo



Ex-deputado negocia acordo de delação premiada há um ano

Em depoimentos cujo objetivo é negociar um acordo de delação premiada, o ex-deputado Pedro Corrêa citou reuniões com deputados e senadores do PMDB para a partilha de propinas do esquema de corrupção na Petrobras. A revista “Veja” teve acesso ao conteúdo dos depoimentos e traz detalhes na edição deste final de semana.

Em 2004, o PP se recusava a votar projetos de interesse do governo, o que mudou com a indicação, feita pelo partido, de Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento da estatal. Mas, depois, o PMDB passou a pleitear parte da propina. Pedro Corrêa, que foi condenado no processo do mensalão, disse ter se reunidos com peemedebistas para “buscar o melhor entendimento na arrecadação”. Segundo a revista, o ex-parlamentar disse ter se reunido com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o deputado Aníbal Gomes (CE), em um escritório de advocacia de Brasília. Fez o mesmo com Eduardo Cunha (RJ), agora presidente afastado da Câmara, e o senador Romero Jucá.

De acordo com a revista, os negócios começaram a fluir em 2006. A reportagem cita uma reunião, no período da campanha daquele ano, que contou com a participação de Paulo Roberto Costa e do diretor da área de Internacional, Nestor Cerveró, além dos senadores Renan Calheiros, Romero Jucá, Jarder Barbalho, do então deputado Henrique Eduardo Alves, hoje ministro do Turismo, e do lobista Jorge Luz. “Veja” descreve que os peemedebistas pediram US$ 18 milhões em propinas para apoiar a manutenção de Costa e Cerveró nas diretorias da Petrobras e teriam recebido US$ 6 milhões.

A delação de Corrêa aguarda homologação do ministro Teori Zavascki, relator dos inquéritos e ações da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal. A negociação é feita há um ano. Procurados pela revista, os citados negaram ter recebido ou pago propina.

Por meio de nota da sua assessoria de imprensa, o ministro Henrique Eduardo Alves afirmou "que a citação ao seu nome é absurda, mentirosa e irresponsável e que nunca tratou desses assuntos com esse delator ou com quem quer que seja, em qualquer tempo ou lugar".

INTERFERÊNCIA DE LULA

Ainda segundo a "Veja", Corrêa também afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva interferiu diretamente na nomeação de Paulo Roberto Costa para a diretoria, por indicação do PP. Na delação, o ex-deputado reconstrói um diálogo entre Lula e o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra, já falecido.

"Oh, Dutra, nós não nos comprometemos com o PP, que indicou o Dr. Paulo Roberto, já há algum tempo, para a Diretoria de Abastecimento da Petrobras. Porque até agora ele não foi nomeado?", teria perguntado Lula.

"Porque esta mudança de diretor é um assunto complicado dentro da Petrobras. Estão (sic) havendo resistências, além de a competência não ser só minha para nomeá-lo", respondeu Dutra, segundo Corrêa.

Lula, então, teria dito: "E quem nomeou a maioria dos conselheiros, Dutra?"
"Você, Lula!", respondeu Dutra.

"Então, quero que você diga aos conselheiros que nomeei que se o doutor Paulo Roberto não estiver nomeado daqui a uma semana eu vou demitir e trocas esse conselheiros que nomeei", teria dito o ex-presidente.

Por meio de nota, o Instituto Lula afirmou que "Pedro Correa foi condenado pelo juiz Sergio Moro a mais de 20 anos de cadeia por ter praticado 72 crimes de corrupção e 328 operações de lavagem de dinheiro. Foi para não cumprir essa pena na cadeia que ele aceitou negociar com o Ministério Público Federal uma narrativa falsa envolvendo o ex-presidente Lula, inventando até mesmo diálogos que teriam ocorrido há 12 anos".

"É repugnante que policiais e promotores transcrevam essa farsa em documento oficial, num formato claramente direcionado a enxovalhar a honra do ex-presidente Lula e de um dos mais respeitáveis políticos brasileiros, o falecido senador José Eduardo Dutra, que não pode se defender dessa calúnia", diz a nota.

O Instituto Lula declarou ainda que "o Estado de Direito não comporta esse tipo de manipulação, insidiosa e covarde, nem por parte dos agentes públicos nem dos meios de comunicação que dela se aproveitam numa campanha de ódio e difamação contra o ex-presidente Lula. A utilização desse recurso nojento é mais uma evidência de que, após dois anos de investigação, a Lava Jato não encontrou nenhuma prova ou sequer indício de participação de Lula nos desvios da Petrobras, porque o ex-presidente sempre agiu dentro da lei. E por isso apelam a delações mentirosas."