quinta-feira, 8 de março de 2018

Os benefícios de uma mão de obra mais idosa

Nos EUA, projeção do Departamento

 de Estatísticas do Trabalho indica que

 nos grupos de faixas etárias entre 75 e

 74 anos e de mais de 75 anos 

verificou-se um aumento anual de 

empregados mais rápido do que o 

observado em outros grupos




Robert Metoli na área fabril da empresa Lee Spring, em Nova York, onde trabalhava antes de treinar o time de engenheiros. Foto: Joshua Bright/The New York Times)
Por Kerry Hannon / New York Times News
Robert Metoli, de 57 anos, trabalhou oito anos como técnico especializado cuidando das máquinas da fábrica da Lee Spring, pequena empresa com sede no Brooklyn, fabricante de molas  para vários objetos, incluindo celulares, óculos, foguetes e robôs.
O trabalho começou a incomodá-lo pois ele tinha de ficar em pé a maior parte do dia, levantando fios, motores e equipamentos. “Nós lhe demos a oportunidade de assumir uma função no escritório, que seria fisicamente menos extenuante”, disse o diretor executivo da empresa, Steve Kempf. “Ele ingressou na equipe de engenheiros encarregada de elaborar as ordens de serviço da fábrica.”  A companhia arranjou e pagou os cursos de treinamento necessários. E funcionou.
Imediatamente, Robert passou a transferir seu conhecimento para os engenheiros mais jovens que nunca haviam operado as máquinas, e de outro lado “os engenheiros me passaram seu conhecimento do design e software de molas”. E na nova função não teve mais dores nas costas.
Trabalho depois dos 65 anos
Mais da metade dos americanos da geração de 1950 pretende continuar trabalhando mesmo depois dos 65 anos e não se aposentar, diz estudo feito pelo Transamerica Center for Retirement Studies. Muitos se preocupam pois irão viver mais do que suas economias permitem, com a queda do valor da sua aposentadoria e de que poderão necessitar um dia cuidados médicos por um longo tempo.
A projeção do Departamento de Estatísticas do Trabalho é de que nos grupos de faixas etárias entre 75 e 74 anos e de mais de 75 anos verificou-se um aumento anual de empregados mais rápido do que o observado em outros grupos. Entre 2014 e 2024 a proporção foi de 4,5% por ano no caso de indivíduos em idade entre 65 e 74,  e de 6,4% ao ano no caso daqueles com mais de 75 anos.
Um obstáculo: em alguns ambientes de trabalho atitudes negativas persistem, envolvendo o custo desses trabalhadores mais velhos, sua vitalidade, suas habilidades tecnológicas e seu entusiasmo para aprender novas maneiras de exercer a função.
Mas um número crescente de empresas vem contratando, retendo e apoiando trabalhadores com mais de 50 anos. A Lee Spring é uma das 13 companhias e entidades sem fins lucrativos na Cidade de Nova York que recentemente receberam o Age Smart Employer Awards prêmio concedido pelo Columbia Aging Center da Escola de Saúde Pública Mailman da Universidade de Columbia.
Treinamento, oportunidades e horários flexíveis
Essas empresas oferecem treinamento e oportunidades de estudo, além de horários flexíveis aos funcionários, adaptam as tarefas físicas às habilidades dos empregados; propiciam treinamento na área de liderança para funcionários de todas as idades; cursos de reciclagem para os mais velhos e permitem uma aposentadoria gradativa.
“Aumentamos nossa expectativa de vida em 50% nos últimos 100 anos”, diz a doutora Linda Fried, diretora da Escola Mailman. “Hoje, temos de projetar uma sociedade para vidas mais longas, e esse prêmio, em minha opinião, é um elemento fundamental disto.”
Cem empresas e entidades sem fins lucrativos entraram no concurso Age Smart Employer em 2017, o dobro das que participaram em 2016.
Robert Metoli conversa com Steve Kempf (à dir.), CEO da empresa Lee Spring. Foto: Joshua Bright/The New York Times)
Eis quatro empresas com programas pioneiros para trabalhadores idosos.
— Huntington Ingalls Industries, a maior fabricante de navios de guerra nos Estados Unidos, e mantém a Apprentice School em  sua divisão em Newport News, Virginia.
“Não temos limite de idade”, disse Susan Jacobs, vice-presidente de recursos humanos na Newport News Shipbuilding.”.
A mão de obra total da companhia é de 22.000 empregados, sendo que 38% são “baby boomers”,  40% jovens nascidos entre mais ou menos entre 1979 e 1995, a chamada geração Y, e 20% de nascidos entre 1964 e 1980.  Para manter os empregados com mais idade engajados com o trabalho desenvolvido, existem programas em que os mais novos os auxiliam, por exemplo, a usar a tecnologia.
Contadores com mais de 60 anos, que frequentemente são obrigados a se aposentar é o tipo de talento procurado pela PKF O’Connor Davis, rede de contabilidade independente, com escritórios em 440 cidades e 150 países. Muitos dos seus 800 funcionários, na faixa de idade de 21 a 83 anos, têm a opção de trabalhar menos dias por semana ou em horário flexível. Alguns foram realocados para escritórios mais próximos de sua residência ou trabalham parte do tempo em casa.
Funcionários em idade próxima da aposentadoria podem reduzir suas horas de trabalho ou atuar como consultores. “Contratar pessoas mais velhas é algo excelente para nós e para aqueles que estão para se aposentar ou já se aposentaram”, diz Thomas F. Blaney, sócio e diretor da Foundation Services, com sede em Woodcliff Lake, New Jersey. “Não tem a ver com idade, apenas queremos pessoas de talento.”
Filmes e séries feitas em NY
– Silvercup Studios é uma empresa familiar de filmes e TV em Nova York, onde séries como The SopranosGirls e Sex and the City foram filmadas.
Com estúdios em Long Island e Bronx, a companhia tem 49 funcionários, e mais da metade tem mais de 50 anos.
“Não foi um plano concebido de contratar e reter funcionários mais velhos. Não faz parte do nosso programa em geral. Apenas tem mais sentido para nós”, disse Gary Kesner, vice-presidente executivo da companhia.
– A fabricante de móveis Steelcase com sede em Grand Rapids, Michigan, oferece aos funcionários um programa de aposentadoria gradativo, com redução das horas de trabalho, ou uma atividade em tempo parcial. Com um grande número de funcionários especializados mais velhos, especialmente nos seus departamentos de TI e de manufatura, a empresa lançou esse plano de aposentadoria em 2012.
Há um ano e meio David Rinard, 62 anos, diretor de projetos ambientais vem fazendo a sua transição para se aposentar. Ele iniciou sua carreira em 1979, atuando como engenheiro ambiental assistente, e subiu de posto, chegando a diretor de performance ambiental global, cargo que ocupa há 13 anos.
O programa permitiu a David passar mais tempo com sua mulher, seis anos mais velha e já aposentada,  ao mesmo tempo ter uma renda e não se preocupar em pagar um plano de saúde até completar os 65 anos, quando então terá direito ao Medicare, disse ele, acrescentando que, além disto,  “minha mulher na verdade agradece os dias em que estou ocupado trabalhando”.  Tradução de Terezinha Martino