quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Tostão: Brasileiros terão dificuldades contra rivais mais fortes

Corinthians contratou Tiago Nunes para mudar a maneira de jogar, a pedido dos torcedores e com a aprovação da imprensa.
Em pouco tempo, alguns já pedem a cabeça do técnico, a volta de Carille, de Ralf e das duas rígidas linhas de quatro à frente dos zagueiros. No Santos, ocorre quase o contrário. Saiu um técnico bastante ofensivo e entrou um outro Carille, Jesualdo. Também não deu certo, até agora.
Tiago Nunes, técnico do Corinthians, durante treino da equipe no CT do Parque Ecológico
Tiago Nunes, técnico do Corinthians, durante treino da equipe no CT do Parque Ecológico - Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians
Um sistema tático, para funcionar bem, precisa ser bem executado e ter ótimos jogadores. Tiago Nunes e Jesualdo merecem mais crédito. Além disso, a qualidade dos elencos é inferior à de São Paulo, Grêmio e Palmeiras, sem falar no Flamengo.
O Corinthians, assim como Palmeiras, São Paulo e quase todos os times brasileiros —o Flamengo é a exceção—, vive dificuldade parecida, como a de ter apenas dois jogadores para o enorme espaço do meio-campo, já que os zagueiros atuam muito atrás, os atacantes, muito à frente, alguns colados à lateral, e o meia de ligação joga na intermediária do adversário, sem participar da marcação e sem ajudar na saída de bola da defesa.
Uma coisa é o meio-campista que chega ao ataque no momento certo. Outra é o meia ofensivo, quando o time perde a bola, ter de correr para trás, para formar um trio no meio-campo. A distância é enorme. Esse problema seria amenizado se os times pressionassem na frente, para recuperar a bola, mas a única equipe brasileira que faz isso com regularidade é o Flamengo.
Contra fortes adversários, os grandes do Brasil terão muitas dificuldades. Os estaduais são uma ilusão. Até o modesto Guaraní se aproveitou dessa deficiência, ao trocar passes com facilidade na intermediária. Assim saiu a falta e o gol que eliminou o Corinthians da Libertadores.
Após a última vitória do Palmeiras, por 1 a 0, sobre o Guarani, pelo Estadual, Luxemburgo viajou no tempo e, com uma pitada de grandeza, disse que o meio-campo do Palmeiras, formado por Bruno Henrique, Zé Rafael e Raphael Veiga, é semelhante, na maneira de jogar, ao da seleção alemã que goleou o Brasil por 7 a 1, formado por Kroos, Schweinsteiger e Khedira.
São bem diferentes, na qualidade individual e no posicionamento. A Alemanha tinha três meio-campistas, e, no Palmeiras, Veiga atua à frente dos dois volantes.
Nesta quarta-feira, em Madri, veremos um clássico europeu, Real contra Manchester City, dois times que possuem um trio no meio-campo, embora com posicionamentos diferentes.
No Real, Casemiro é um volante centralizado, com Kroos de um lado e Modric (ou Valverde) do outro. No City, há um volante pelo centro (Rodri) e um meia ofensivo de cada lado, perto da área adversária. Isso é possível porque o time inglês pressiona e recupera a bola no outro campo, como faz o Flamengo.
Veremos também dois jogos internacionais e decisivos no Brasil, Flamengo e Independiente Del Valle, pela Recopa Sul-Americana, e Inter e Tolima, pela classificação à fase de grupos da Libertadores.
Espero que o Inter pressione desde o início e chegue com vários jogadores ao gol, como faziam as equipes dirigidas pelo técnico Coudet, antes de ele chegar ao time gaúcho. O Inter é favorito. Para isso, os zagueiros têm também de avançar, para não deixar, nos contra-ataques, muitos espaços entre eles e o meio-campo.
Se o Inter sofrer um gol, terá de fazer dois. Seria um vexame mais um time grande do Brasil ser eliminado na fase da pré-Libertadores, já que o Corinthians está fora. Brasil, acorde e mostre seu talento.
Tostão
Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Folha de São Paulo