A poucos dias da estreia da CNN Brasil, A GloboNews se mexe para ampliar a programação diária ao vivo e o espaço para análises, reflexões e entrevistas no fim de noite. As mudanças ocorrem a partir desta segunda-feira (2). “A nossa postura sempre foi de respeito à concorrência”, afirma o diretor da GloboNews, Miguel Athayde, à Folha, quando questionado se essa movimentação é uma reação antecipada à nova concorrente.
Por telefone, Athayde faz questão de dizer, no entanto, que a GloboNews sempre pautou seu histórico por constantes mudanças na grade, e lá se vão 23 anos de existência. De lá para cá, o canal lidou com promessas não cumpridas de ganhar concorrência mais forte, em especial da Record News, emissora de sinal aberto de Edir Macedo, e BandNews.
No ranking de TV paga de 2019, a GloboNews ficou em 7º lugar, com 0,17 ponto, ante 0,05 da BandNews, que ocupou a 40ª posição na TV por assinatura, considerando as 24 horas diárias no PNT (Painel Nacional de Televisão), do Instituto Kantar Ibope. O PNT soma a audiência das 15 maiores regiões metropolitanas do país, nicho onde cada ponto equivalia a 693.788 telespectadores no ano passado.
No lineup (numeração de canais) da maioria das operadoras já fechadas com a CNN Brasil até aqui (Claro/NET, Sky e Oi), o novo canal será vizinho da BandNews, localizada a mais de 20 canais de distância da GloboNews, e tem uma equipe composta por ex-estrelas da Globo, como William Waack, Monalisa Perrone, Evaristo Costa e Philipe Siani.
A CNN Brasil anuncia que começará suas transmissões, ainda sem data confirmada, em março, com “mais de 17 horas ao vivo”. A partir desta segunda, a GloboNews amplia para 17 horas e meia o tempo de jornalismo diário ao vivo na grade.
A reorganização da programação empurrou para o fim de semana algumas atrações, o que também permite a Athayde anunciar mais produções inéditas aos sábados e domingos, mantendo uma faixa reservada a documentários em parceria com a Globo Filmes.
De segunda a sexta, “o Em Pauta, agora das 20h às 21h30, terá mais meia hora de duração”, diz o diretor. “A segunda novidade é que no fim de noite, entre 23h e 0h, teremos grandes entrevistas com grandes entrevistadores, com mais reflexão, análise e aprofundamento das informações, para ter uma profusão de olhares sobre os grandes acontecimentos, na política, nas ciências, na cultura, em cidadania e sustentabilidade”, afirma Athayde.
A partir de abril, o podcast Papo de Política, com Natuza Nery, Maju Coutinho, Júlia Duailibi e Andréia Sadi, passa a ser programa de TV, nas noites de quinta-feira, às 23h, como efeito do bom resultado que vem obtendo nas plataformas digitais.
Os fins de noite serão ocupados durante a semana por dois programas nessa linha de análise e reflexão com entrevistas. Às segundas, as vagas ficam com Miriam Leitão e Roberto D'Avila. Às terças, com Andréia Sadi e Gerson Camarotti. Na quarta-feira, o espaço será todo da Central GloboNews, sob o comando de Heraldo Pereira e com participação dos comentaristas do canal. Às quintas, além do Papo de Política, tem Diálogos, com Mario Sergio Conti, colunista da Folha. E às sextas, entram o Fatos e Versões, com Cristiana Lôbo, e o GloboNews Internacional.
Entre abril e maio, o canal lançará ainda uma série de boletins de economia em seus noticiários, parceria com o jornal Valor Econômico, do Grupo Globo, batizado como Notícia de Valor. Especialistas da redação do jornal vão mastigar as movimentações da economia mundial e dar dicas financeiras.
Segundo Athayde, a chegada de um novo concorrente reanima os profissionais da casa nessas movimentações e na busca por um bom trabalho. Mas, de novo, ele reafirma a vocação do canal para mudar e se adaptar com frequência às demandas do dia a dia.
A promessa de 17 horas e meia diárias de programação ao vivo, por exemplo, será facilmente ultrapassada em dias de urgências no noticiário, de tragédias a crises de saúde, política ou notícias internacionais.
Desde 2018, ressalta o diretor, o noticiário ao vivo da GloboNews aumentou em quase 30%, com a estreia do Em Ponto, na faixa das 6h às 9h, e do Edição das 3h na madrugada, além do aumento do Edição das 10h, do Estúdio i, do Edição da Meia Noite e do próprio Em Pauta.
A seu favor, mais do que Band e Record, a Globo tem com quem dividir a conta de gastos e os louros, já que boa parte da produção de notícias conta com o expediente da TV aberta, que tem um número de equipes de reportagem superior ao das concorrentes e a maior cobertura nacional em filiadas e afiliadas na rede aberta. No total, a Globo estima ter 4.500 profissionais a serviço do jornalismo, sendo 2 mil da estrutura do próprio grupo, com Globo, Globo News e G1.
Mesmo com número inferior, a Record e a Band também trabalham em força-tarefa para abastecer o jornalismo da TV aberta e do canal pago de notícias. A CNN Brasil será o primeiro canal do gênero sem apoio de uma estrutura paralela. Para a largada, o canal estima contar com 800 profissionais.
Cristina Padiglione, Folha de São Paulo