domingo, 8 de julho de 2018

O fator Datena

O apresentador de TV José Luiz Datena surge como novidade na eleição e mesmo sem fazer campanha já lidera a corrida para o Senado

Crédito: Divulgação
AGORA É COM DATENA Contundente na crítica à criminalidade, o jornalista pode tirar votos de Bolsonaro e ajudar os tucanos em São Paulo (Crédito: Divulgação)
Salário de R$ 700 mil na Band
“Me proponho a ser candidato ao Senado. Agora, se pintar a possibilidade de ser candidato a presidente, talvez eu tente ajudar o meu País, pois quero mesmo é ser candidato para ajudar o povo”, disse Datena, depois de comunicar à direção da Band que estava abrindo mão de seus trabalhos na TV, onde ganhava R$ 700 mil mensais – se eleito, vai ter que se contentar com salário mais modesto (para ele, claro): de R$ 33 mil.
Apesar de nunca ter se envolvido no dia a dia da política partidária, Datena esteve filiado ao PT por 23 anos (de 1992 a 2015) e ao PRP (de 2017 a 2018), antes ingressar no DEM no começo deste ano. “Meus programas na TV, que tratam de segurança e criminalidade, são de direita. Eu não”, esquiva-se Datena, para justificar que adotará o caminho do centro em sua trajetória política. O fato de ser contundente em condenar a atuação dos criminosos, proferindo o velho chavão de “bandido tem que ir para a cadeia”, aproxima seu discurso do bradado pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Por isso, os tucanos de São Paulo esperam a ajuda de Datena para tirar votos do ex-capitão do Exército, que vence Alckmin até mesmo no Estado.
Fenômeno
Os cientistas políticos acreditam que Datena tem potencial para ir mais longe do que a busca por uma vaga no Senado. “A população quer o novo, porque os políticos tradicionais estão desgastados. O fenômeno dos outsiders veio para ficar. As pessoas querem isso. Por isso, o Datena tem um patrimônio muito grande”, diz Ricardo Caldas, cientista político da Universidade de Brasília (UnB). Já Rodrigo Prando, da Universidade Mackenzie, acredita que Datena tem o discurso que “combina com a sensação de desamparo da população com a criminalidade”. Segundo ele, “Datena se insere no perfil de outsider, por ser de fora do meio político, e tem grande visibilidade na mídia, além de ter a bandeira contra a violência, que é um tema muito sensível à população”. Cláudio Couto, cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acredita que a candidatura de Datena fortalece o DEM, que atualmente já tem uma bancada de 43 deputados. “Ter um candidato competitivo como ele é um passo importante para o crescimento do partido, sobretudo num ambiente de rejeição à classe política”.
PADRINHOS Ladeado por Doria (esq.) e Rodrigo Maia (dir.), Datena tem sido apontado até como opção ao Planalto, mas foco ainda é o Senado (Crédito:Nelson Antoine)
“O próximo presidente vai ter uma bucha para governar, tamanha as reformas impopulares que vai ter que fazer”
José Luiz Datena, jornalista
Outro fator que seduz o eleitorado: Datena poderia muito bem ficar confortável em seu trabalho de apresentador de sucesso, onde confessa ter ganho “muito dinheiro”, mas diz que decidiu ser candidato a um cargo eletivo por estar “extremamente preocupado” com os destinos do País. “O próximo presidente vai ter uma bucha para governar. Não sei nem se o próximo presidente vai terminar seu mandato, tamanha as reformas impopulares que vai ter que fazer”, disse o apresentador, mostrando-se empenhado em ajudar o próximo presidente na tarefa de recolocar o Brasil nos trilhos. “A democracia não sobreviverá sem um consenso político, qualquer que seja o presidente eleito”, explica Datena, pedindo a adoção de um processo de união nacional em torno do futuro mandatário do País. Os entusiastas da candidatura Datena sonham muito mais alto: esperam que, se ele mantiver um perfil distante das práticas da velha política, terá potencial para alcançar o Planalto. Senão agora, mais adiante.
Um outsider no Senado
>> O jornalista José Luiz Datena (DEM) mal anunciou que será candidato ao Senado por São Paulo e já lidera a corrida por uma das duas vagas de senador do Estado. Ele é o prenúncio de mais um fenômeno eleitoral, pois seu perfil é o que o eleitor deseja: não ter ligações com os políticos tradicionais