sábado, 14 de julho de 2018

"O declínio dos medalhões da política", por Ruy Fabiano

A pouco mais de dois meses das eleições, configura-se um fenômeno sem precedentes na política brasileira: os grandes partidos, hegemônicos há décadas, não conseguem emplacar seus pré-candidatos. PT, PSDB, MDB, DEM: todos patinam nas pesquisas.
Nomes de peso na vida pública, como o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), o ex-ministro Henrique Meirelles (MDB) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), não chegam a pontuar dois dígitos nas pesquisas. Preocupado, o ex-presidente FHC tentou encontrar um nome de consenso para unir o centro político.
Constatou que o centro político hoje nem chega a existir. Ou por outra, confunde-se com algo vagamente denominado Centrão, amontoado de siglas fisiológicas que integram o baixo clero. Também ali não há nomes ou consensos. Só interesses, muitos interesses.
O pânico dos medalhões da política é a aversão crescente do eleitor aos políticos e à política tradicionais. O discurso institucional, conciliador, já não o sensibiliza – e, ao contrário, o irrita.
O volume e a gravidade dos problemas nacionais – corrupção, desemprego, insegurança pública e ganância estatal por tributos – desmoralizam a retórica clássica, o que talvez explique, ao menos em parte, o êxito da candidatura Jair Bolsonaro, do inexpressivo PSL.
Contra todas as expectativas, ele se mantém líder disparado nas pesquisas, beneficiário do colapso do establishment político, levado ao paroxismo pela Lava Jato. Algumas já o colocam como vencedor no segundo turno, o que até há pouco parecia impensável.
Sem apoio de governos ou prefeituras, e sem qualquer base em sindicatos ou entidades de porte da sociedade civil – e, ao contrário, alvo da hostilidade de todos eles -, capitaliza os desacertos e mazelas do assim chamado sistema.
É o único dos presidenciáveis, goste-se ou não, capaz de levar multidões a recepcioná-lo nos aeroportos de todo o país.
Simboliza, neste momento, o espírito de vingança do eleitor. Vingança contra a degradação das instituições, que o tinham como o patinho feio da política nacional, o que, diante da reviravolta dos quatro últimos anos, reverteu em seu benefício.
É ele o coveiro da Nova República, que, a partir de 1985, marca o retorno do poder civil, após duas décadas de regime militar.
O eleitor inicial de Bolsonaro postulava soluções simplistas para questões complexas, quase todas focadas na segurança pública. Hoje, esse espectro ampliou-se e agrega amplas camadas da classe média, mais preocupadas em remover políticos corruptos que propriamente em saber o que será colocado em seu lugar.
Diante desse potencial eleitoral, Bolsonaro começou a atrair empresários e financistas. A presença do economista liberal Paulo Guedes como seu principal assessor econômico – e, na eventualidade de vitória, futuro ministro da Fazenda – sinalizou aos empresários que, ao menos nesse setor, não haverá aventuras.
Sua performance na sabatina dos presidenciáveis na Confederação Nacional da Indústria, há uma semana, confirmou essa assertiva. Foi de todos o mais aplaudido, chegando mesmo, em alguns momentos, a ser ovacionado.
O que se tem, neste momento, é apenas um instantâneo da realidade. A campanha, com o horário gratuito de rádio e TV, ainda não começou. Os demais candidatos projetam ali uma expectativa de reviravolta, já que Bolsonaro terá apenas segundos de exposição.
Mas as redes sociais e o agravamento da crise – política, econômica e moral -, sem dúvida, jogam a favor do capitão-deputado.
Ruy Fabiano é jornalista 
Com Blog do Noblat, Veja