sábado, 14 de julho de 2018

"Gigantes bons de bola", por Tostão

A Copa reforçou o que já se sabia, que os jogadores são cada vez mais fortes, altos, velozes e capazes de atuar em maiores espaços. São os gigantes, touros bons de bola.
Nas últimas décadas, aumentou, em todo o mundo, o tamanho da população e dos atletas, mas diminuiu a diferença de altura entre sul-americanos e europeus.
Quando eu enfrentava os zagueiros da Europa, sentia-me um baixinho diante dos gigantes. Nelson Rodrigues, com suas hipérboles e exageros, me chamou de "anão de Velázquez", em referência ao anão do quadro "As meninas", do famoso pintor espanhol.
Não basta ser grandalhão e forte para ser um grande jogador. É necessário ter, em proporções variáveis, habilidade, técnica, criatividade e ser emocionalmente forte. A habilidade é o domínio da bola, sem perdê-la, diante do adversário e em pequenos espaços. Costuma ser acompanhada de efeitos especiais, fantasias e também eficiência, como o magistral lance de Mbappé contra a Bélgica. A técnica é a lucidez para tomar as decisões corretas e para executar os fundamentos técnicos da posição. A criatividade é a capacidade de antever, improvisar, surpreender e inventar.
Com a saída precoce dos três maiores jogadores do mundo (Cristiano RonaldoMessi e Neymar), outros craques brilham intensamente e são mais valorizados pela mídia. O mundo descobriu Modric, que joga demais, desde a época de Tottenham. Sterling é hábil, veloz, mas tem pouquíssima técnica. Ameaça uma grande jogada e erra. Parece craque, mas não é. Griezmann é o oposto, essencialmente técnico. Brilha em poucos e decisivos lances, um craque. Mbappé é hábil, veloz, técnico e criativo. É candidato a ser um fenômeno. Ainda não é. Pogba é alto, forte, técnico, habilidoso, criativo, mas costuma tentar fazer coisas impossíveis e erra. Poderia ser ainda melhor. Kroos é o oposto, o craque do passe certo, que nunca tenta a jogada errada.
Tenho de escrever outra coluna para falar de tantos craques, como Hazard, De Bruyne, Coutinho, Thiago Silva, Rakitic, Iniesta e muitos outros. É um prazer e um privilégio vê-los em campo.
Alguns acham que, em um futuro breve, para ser um craque, será obrigatório ser alto, forte e veloz, um superatleta. Não é por aí.
São os transgressores, fantasistas, gigantes ou não, que enriquecem e embelezam o futebol, desde que tenham ótima técnica.
Tostão
Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Folha de São Paulo