O governo se reuniu nesta terça-feira para tratar dos últimos detalhes da fusão entre a Embraer e a Boeing. Segundo interlocutores do Planalto, as negociações evoluíram para a fase de elaboração de documentos, e a expectativa é que o negócio seja concretizado nas próximas semanas. O presidente Michel Temer aguarda uma proposta formal das duas empresas para bater o martelo.
De acordo com fontes envolvidas nas discussões, para assegurar questões relacionadas à soberania nacional, pois a Embraer desenvolve projetos para as Forças Armadas, o negócio resultará na criação de duas empresas: uma exclusivamente comercial, voltada para a fabricação de aviões de porte médio (entre 90 e 144 passageiros), na qual a Boeing terá controle acionário, com participação de cerca de 80%. Outra será na área de defesa e aviação executiva (jatos), na qual a companhia nacional terá participação majoritária, também em torno de 80%.
As discussões estão de tal forma adiantadas que, segundo uma fonte, a Embraer deve apresentar um plano a seu Conselho de Administração e divulgar um fato relevante nos próximos dias.
Em dezembro, a Boeing apresentou uma proposta agressiva, que previa a aquisição de toda a Embraer, mas os termos foram rejeitados pelo governo brasileiro. Questões relacionadas a informações estratégicas dos projetos militares foram o principal ponto de objeção. Diante do impasse, a gigante americana fez, então, uma nova proposta em janeiro, deixando com a Embraer apenas a divisão de defesa, o que também não foi aceito. Dessa vez, pesou o argumento da falta de sustentabilidade, uma vez que o segmento sobrevive graças ao orçamento público, cada vez mais restrito.
MAIOR ACESSO AO MERCADO
Na última fase de discussões, o arcabouço foi desenhado por um grupo de trabalho, formado por representantes das duas empresas e do governo brasileiro. Segundo técnicos envolvidos nas negociações, o momento agora é de definir os ajustes finais do negócio. Os termos são mantidos sob sigilo porque a transação envolve bilhões.
Segundo fontes do governo, a transação é positiva para as duas empresas, com potencial “enorme” para a Embraer, que poderá ficar para trás num prazo de cinco anos, se não conseguir fechar uma parceria de uma magnitude como essa com a Boeing. Sua maior concorrente, a canadense Bombardier, por exemplo, já se associou à Airbus.
A Boeing é a maior exportadora dos Estados Unidos, com um faturamento anual de mais de US$ 90 bilhões, enquanto a Embraer fatura US$ 6 bilhões. A parceria vai permitir à companhia brasileira maior acesso ao mercado internacional (venda de aeronaves, inclusive militares) e compra de insumos por um custo menor, além de preservar empregos no Brasil, disse um técnico da área econômica.
Geralda Doca, O Globo