E-mails encontrados pela Polícia Federal em um dos notebooks de Marcelo Odebrecht revelam que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pediu doações ao empresário durante as eleições de 2010.
O laudo da PF foi anexado ao processo que investiga o ex-presidente Lula pelo recebimento de vantagens indevidas da Odebrecht na forma da aquisição de um terreno que serviria de sede para o Instituto Lula.
As mensagens começam em setembro de 2010, com um e-mail enviado pelo tucano pedindo um "SOS" para Marcelo Odebrecht. Na mensagem, FH envia os dados bancários da conta criada para a campanha de Antero Paes de Barros, candidato ao Senado por Mato Grosso nas eleições daquele ano.
"O candidato ao senado pelo PSDB, Antero Paes de Barros, ainda está em segundo lugar, porém a pressão do governismo, ancorada em muitos recursos, está fortíssima. Seria possível ajudá-lo?", escreve.
Marcelo, em outro e-mail, responde que o apoio a Antero teria sido atendido. Na resposta, o ex-presidente da Odebrecht indica que outros apoios e reforços foram feitos a pedido de Fernando Henrique e que o resumo seria apresentado ao ex-presidente.
"Fique tranquilo (no que depender de nós). Depois aproveito, e lhe dou o feedback dos demais apoios e reforços que fizemos na linha do que conversamos", disse.
Duas semanas depois, Fernando Henrique envia outro e-mail para Marcelo Odebrecht e, dessa vez, também para Benjamin Steinbruch, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. O e-mail tem como assunto "o de sempre". Na mensagem, Fernando Henrique pede "atenção" para dois candidatos a senadores: novamente Antero Paes de Barros e Flexa Ribeiro, do Pará.
"Ainda há tempo para eles alcançarem, no caso na verdade é manterem, a posição que os leva ao êxito", afirma.
Em dezembro de 2010, após a eleição, Marcelo Odebrecht recebe outra mensagem de Andre Amaro, então presidente da Odebrecht Defesa e Tecnologia, com o assunto "iFHC", referência ao Instituto Fernando Henrique Cardoso. De acordo com o e-mail, o valor da contribuição deria de R$ 1,8 milhão em 24 meses, que teria sido acertado em um encontro de empresários no Instituto.
ALCKMIN: 'NINGUÉM ESTÁ ACIMA DA LEI'
Em nota, Fernando Henrique Cardoso afirmou que "pode ter pedido" doações, mas que elas eram lícitas.
"Não sei se deram e não foi a troco de decisões minhas, pois na época eu estava fora dos governos, da República e do Estado", afirmou.
Em sabatina do jornal "Correio Brasiliense", o pré-candidato Geraldo Alckmin disse que "ninguém está acima da lei", ao comentar o pedido do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a Marcelo Odebrecht em 2010.
— Olha, não mudamos. Todos estamos submetidos à lei. Ninguém pode estar acima da lei. Se precisar investigar, investigue-se — disse o candidato.
Cristiane Jungblut e Bruno Góes, O Globo