A Bolsa brasileira nunca viu uma saída tão grande de capital estrangeiro em tão pouco tempo, um claro reflexo da turbulência econômica e política que o País atravessa. Em maio, deixaram a B3 R$ 8,43 bilhões, um número recorde – superando os R$ 7,62 bilhões de julho de 2008, no auge da crise do subprime nos Estados Unidos.
Neste mês, apenas nos quatro primeiros pregões, saíram mais R$ 2 bilhões. No acumulado do ano, o saldo está negativo em R$ 6,06 bilhões – em 2017, houve uma entrada recorde de R$ 14 bilhões.
Essa “fuga” teve início em fevereiro, quando se tornaram mais claros os sinais de que os EUA iriam subir mais os juros que o inicialmente previsto – o que torna os títulos americanos mais atrativos para os investidores, prejudicando principalmente os países emergentes. Mas há no Brasil um ingrediente extra: um cenário eleitoral completamente indefinido, com o mercado cada vez mais temeroso de um segundo turno sem nenhum candidato de centro.
Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, os emergentes como um todo têm sofrido com a virada do humor com relação aos juros nos EUA e também com a ameaça de uma guerra comercial liderada pelo presidente americano, Donald Trump, contra a China. Mas, no Brasil, a questão política pesa cada vez mais.
“Na cena doméstica, do ponto de vista político, existe a percepção de que muito do que foi ‘conseguido’ pelo governo de Michel Temer não está andando muito bem. Desde a questão fiscal, que está absolutamente descontrolada, a questões pontuais que mostraram fragilidade, como a situação envolvendo a Petrobrás”, disse, referindo-se à greve dos caminhoneiros, que teve como um dos efeitos a saída do presidente da estatal, Pedro Parente.
Sérgio Goldman, estrategista da corretora Magliano, diz que a fuga de estrangeiros deve continuar, mas talvez em volumes menores. Ele considera, porém, exagerada a visão de que a economia brasileira pode vir a sofrer como a da Turquia ou da Argentina. “O Brasil tem muitas reservas e contas relativamente equacionadas, mesmo diante de atual risco de uma deterioração crescente”, disse. Para ele, o clima de cautela deve prevalecer ao menos até agosto, quando começa a propaganda eleitoral na TV e o cenário tende a ficar um pouco mais claro.
Karel Luketic, analista-chefe da XP, tem visão parecida. Para ele, há muitas incertezas relativas à economia americana, mas, nos próximos dois meses, a cena política deve predominar. “Independentemente da visão do candidato que é melhor ou pior para o mercado, a volatilidade deve permanecer pelo menos até a realização das convenções partidárias”, disse.
Karin Sato e Fabiana Holtz, O Estado de S.Paulo