A semana foi difícil para os investidores – o Índice Bovespa acumulou perda de 5,56%, enquanto o dólar chegou a se aproximar dos R$ 4. Não há apenas um motivo para o que aconteceu. Em âmbito externo, as apostas de elevação dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) dá força ao movimento “flight to quality” (fuga para a qualidade), no qual muitos investidores preferem os títulos da dívida americana às aplicações em ativos de países emergentes.
Internamente, o receio quanto aos resultados das eleições presidenciais e a falta de confiança no atual governo, que se mostrou fragilizado durante os protestos dos caminhoneiros, também causaram volatilidade nos mercados.
Em busca de proteção, analistas promoveram mudanças em suas carteiras - Petrobrás, papel bastante exposto à instabilidade do cenário econômico e político, foi retirado das carteiras da XP Investimentos e da Magliano, por exemplo. A preferência passa a ser por empresas com receitas expostas ao dólar, que podem se beneficiar do movimento cambial.
Assim, a XP trocou a Petrobrás pela Suzano, exportadora do setor de papel e celulose. O papel teve a segunda maior variação entre as indicações dos analistas da semana passada. “Acreditamos que os fundamentos saudáveis da indústria de celulose irão se sustentar e que a Suzano potencialmente se beneficiará de sinergias capturadas na fusão com a Fibria. Além disso, acreditamos que as ações sejam uma opção interessante para proteger a carteira da volatilidade cambial”, explicou a equipe de análise da corretora.
A Suzano e a então concorrente Fibria chegaram a um acordo de fusão em março que pode gerar a maior companhia de celulose do mundo, com potencial de valor de mercado combinado de cerca de R$ 70 bilhões, conforme calcularam analistas na ocasião. Porém, cabe lembrar que a operação ainda necessita do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para se concretizar.
O analista da Planner, Mário Roberto Mariante, disse que a oscilação nos mercados de câmbio e de juros é uma consequência do quadro doméstico negativo e repleto de incertezas. “A continuidade deste ambiente adverso deverá sustentar o dólar em alta, mesmo com a atuação do Banco Central com seus leilões de swap”, opina.
Por sua vez, o avanço dos juros futuros nesta semana indicou que o cenário para a inflação já começa a mudar, acrescentou Mariante. Esse movimento levou a perdas de ações de empresas dependentes do consumo na última quinta-feira (07), quando o Índice Bovespa recuou 2,98%, aos 73.851 pontos. Para citar alguns exemplos, Via Varejo caiu 9,13%; B2W ON, 7,59%; e Magazine Luiza ON, 6,94%. A Planner trocou Ultrapar e CCR por Klabin e Hypera.
Para Sergio Goldman, analista da Magliano, a indicação para o investidor pessoa física é de redução da exposição à bolsa. “Quem optar por permanecer na bolsa deve buscar ações mais defensivas. Exportadoras devem se beneficiar”, disse.
“Os eventos dessa semana são a confirmação da falta de visibilidade do cenário macroeconômico para o período após as eleições. Até recentemente, o consenso de mercado era que o próximo presidente da República implementaria uma agenda reformista. Mas o comportamento do mercado nesta semana demonstra que esse consenso se reverteu”, afirmou Goldman. O analista optou por substituir Cemig, Itaú Unibanco, Sabesp e Petrobras por Bradesco, Embraer, Pão de Açúcar e CCR.
Karin Sato, O Estado de S.Paulo