segunda-feira, 26 de maio de 2014

“Está tão ruim? Então vende o negócio e muda de país!”, diz Luiza Trajano

Blog Rodrigo Constantino - Veja


 
 
A empresária Luiza Trajano, em entrevista ao ZH, disse que prefere focar no lado otimista do Brasil, enxergar o copo meio cheio, e que os incomodados é que devem se mudar. Seu alerta contra o derrotismo, o pessimismo crônico, faz até sentido; mas seus elogios ao momento atual são totalmente infundados. Abaixo, alguns trechos da entrevista com meus comentários.
 
 
Uma de suas marcas é o otimismo sobre o Brasil. É avaliação de cenário ou é nato?

Não é que eu seja otimista e ache que tudo está certo. Apenas costumo ressaltar também as coisas positivas. Vivemos uma onda de pessimismo. O Brasil incluiu 5 milhões de pessoas no mercado de trabalho e parece que não foi nada. Uma década atrás, quando tínhamos uma loja com 50 vagas ficavam 2 mil pessoas na fila por um emprego.
 
 
E agora, mudou?

Agora abrimos uma outra filial na mesma cidade no interior de São Paulo, Rio Preto, tinha só 100 pessoas. E metade já tinha emprego. Sou daquelas que gosta de ver o copo do lado cheio. O lado vazio tem muita gente para mostrar. O Brasil precisa de líderes que também saibam ver o lado positivo.
 
O mercado de trabalho está mesmo aquecido, mas é preciso levar em conta algumas variáveis. Em primeiro lugar, muitos deixaram de procurar emprego, o que reduz o nível de desemprego. Alguns estão estudando, mas outros fazem parte da geração “nem-nem”: nem estudam, nem trabalham.
Temos ainda as esmolas estatais, que afastam muitas pessoas da busca por empregos formais. Por fim, boa parte desse crescimento no nível de emprego se deve a fatores externos e insustentáveis. Não é que os trabalhadores brasileiros tenham ficado, de repente, mais produtivos e eficientes; houve um forte crescimento calcado no crédito artificial e no estímulo ao consumo, que não se sustentam sem um choque de produtividade do lado da oferta.
 
 
Há motivos para as queixas dos empresários?

Eu costumo dizer para os colegas empresários que pensam muito negativo: “Está tão ruim? Então, vende o negócio e muda de país”. Trabalha aqui, ganha dinheiro aqui e acha que está tudo ruim? O Brasil é nosso. Não adianta eu reclamar de mim mesma. À medida que eu estou reclamando do país eu estou reclamando de mim. O que eu posso fazer para ajudar? Não é um otimismo sem participação. É se sentir responsável por construir um país melhor. Quem se sente responsável não aponta dedo.
 
Essa mensagem lembra aquela do regime militar: Brasil, ame-o ou deixe-o. Há um tom de ufanismo no discurso da empresária que parece descolado da realidade brasileira. O país sob o governo do PT caminha a passos largos na direção errada, concentrando poder em demasia no estado, flertando com modelos fracassados e autoritários como o bolivariano.
 
O Brasil é nosso? Sim, mas está sob o comando de uma patota criminosa, de uma máfia que ignora os interesses nacionais e governa apenas de olho em seus próprios interesses. Basta ver o caso mais evidente da Petrobras. O petróleo é nosso!, diz o slogan ufanista. Na prática, a Petrobras é deles, da corja corrupta que “privatizou” a estatal e a transformou em braço partidário, destruindo valor para os milhões de acionistas.
 
Quem se sente responsável e deseja construir um país melhor deve justamente apontar o dedo para aquilo que considera errado. De onde a empresária tirou essa ideia maluca de que o patriota não pode criticar seu governo? Governo não é sinônimo de país. É exatamente pelo fato de sonharmos com um Brasil melhor que criticamos tanto a incompetência e o autoritarismo desse governo.
 
 
Há um certo ranço do mercado em relação ao governo?

A campanha eleitoral começou muito cedo este ano e isso traz muita coisa à tona. Temos muitos problemas para vencer. A infraestrutura está sendo enfrentada. Mesmo assim, temos conquistas. O país passou por uma crise global (2008) quase ileso. Afetou todo mundo e nós não sentimos. Dia desses recebi um empresário espanhol que me contou que os jovens na Espanha não têm emprego. E nossos jovens têm. Há coisas para melhorar, mas só nós conseguiremos isso. A renda triplicou em 10 anos.
 
Já mencionei acima que tais “avanços” são insustentáveis e se devem basicamente aos ventos externos. Devemos nos sentir bem só porque a Espanha está em uma enorme crise? Que tal olhar para os países emergentes que têm crescido muito mais que a gente, com muito menos inflação? Há alguns na América Latina mesmo, aqueles que rejeitaram o modelo bolivariano e partiram para receitas mais ortodoxas. Vamos nos comparar sempre aos piores?
 
 
A senhora foi chamada de garota-propaganda do governo. O rótulo incomoda?

Não. Sou garota-propaganda daquilo que dá certo. Qualquer coisa que for. Não tenho partido político. Faço propaganda do Brasil que dá certo. O que não funciona, muita gente mostra e eu não preciso falar. Visito várias comunidades carentes, tenho ligação direta com o povo. Estive com 400 mulheres metalúrgicas há pouco tempo, vejo um Brasil que se esforça para dar certo. E sinto que a maioria gosta disso. Claro que tem gente que mete o pau, critica, diz que sou do governo. Mas a gente nunca consegue agradar a todos. Mas tenho uma missão, que é ajudar a construir o Brasil para meus netos e as gerações futuras.
 
 
Tem candidato à Presidência?
 
Não gostaria de falar sobre isso.
 
O problema é que há tão pouca coisa dando certo no governo Dilma que tanto elogio parece no mínimo suspeito sim. Quem tem como missão ajudar a construir o Brasil para gerações futuras não deveria, jamais!, em hipótese alguma!, atuar como garota-propaganda de um governo como o do PT. Não faz o menor sentido!
 
Mas entende-se a empresária não querer falar sobre eleição e candidato. Não pega bem. E também não é preciso, pois dá muito na cara. Também, não é todo empresário brasileiro que consegue um programa de governo feito sob medida para impulsionar seu negócio, como o “Minha Casa Melhor”, não é mesmo?