sexta-feira, 30 de maio de 2014

Com investimento e consumo em baixa, PIB não tem força para crescer

Veja

Mais preocupante do que a pífia expansão de 0,2% no primeiro trimestre é o fraco desempenho de indicadores que permitiriam acreditar numa recuperação da economia nos próximos meses

Crédito pessoal e financiamento de veículos são os destaques do segmento de pessoas físicas.
Crédito pessoal e financiamento de veículos estão mais restritos em 2014


Motor do crescimento da economia brasileira nos últimos anos, o consumo das famílias recuou pela primeira vez em nove trimestres - retração de 0,1% de janeiro a março em relação ao quarto trimestre de 2013. Com inflação em alta, maiores restrições de crédito e maior nível de endividamento, inicia-se uma tendência preocupante para a manutenção do baixo crescimento do país nos próximos meses.

"Fazia tempo que não se via um consumo negativo", diz Flávio Serrano, economista-sênior do Espírito Santo Investment Bank (Besi). "Não se observa uma possibilidade de alteração significativa nesse quadro, o que diminui a chance de um número positivo do PIB em 2014". O Produto Interno Bruto (PIB) foi de 0,2% nesse primeiro trimestre.

A taxa de poupança (economia de empresas, famílias e governo) de 12,7% nos primeiros três meses do ano ante 13,7% no mesmo período do ano passado é a menor para primeiros trimestres da série histórica (desde 2000) apresentada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para confirmar a má notícia, outro pilar que segura a expansão está cada vez mais fraco. A taxa de investimento em relação ao PIB de 17,7% no primeiro trimestre de 2014 (ante 18,2% no trimestre anterior) é a menor do governo Dilma Rousseff, que durante o período das eleições prometia uma relação investimento/PIB de 25%. "Quando a presidente Dilma iniciou o governo a taxa era de 19,5%", destaca Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria. "Para a economia no futuro, esse dado é uma má noticia."

Com a revisão na metodologia de pesquisa da produção industrial, a formação bruta de capital fixo, que indica os investimentos em bens de produção, ficou negativa no segundo semestre do ano passado. A queda de 2,1% neste início de 2014 é um ponto dramático para a um país com crescimento baixo. "Chama a atenção na revisão da série histórica do PIB a redução do nível da formação bruta de capital fixo. Isso levanta dúvidas sobre o potencial de crescimento da economia brasileira no médio prazo", escreveu Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. "Por ora, entendemos que o PIB neste segundo trimestre deva repetir o desempenho dos três primeiros meses do ano."

Enquanto consumo e investimentos estão em desaceleração, os gastos do governo estão em alta - de 0,7% no trimestre. Para Serrano, do Besi, o governo vai continuar gastando, mas a conjuntura não deve ter alterações e a dinâmica no PIB deve se manter nesse patamar baixo. "Temos uma realidade onde a demanda privada desacelera e a pública segura o crescimento", afirma Alessandra, da Tendências.

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(Com Estadão Conteúdo)