quarta-feira, 25 de abril de 2018

Dólar avança pelo 5º dia seguido e encosta em R$ 3,51, na maior cotação em quase 2 anos; Bolsa cai 1%


Notas de dólar antes de serem cortadas. - Andrew Harrer / Bloomberg


Rennan Setti, O Globo


O dólar sobe contra o real pelo 5º dia seguindo nesta quarta-feira, acompanhando a atendência de valorização global da moeda americana diante da expectativa de que os juros dos Estados Unidos devem subir mais rapidamente do que se esperava . A divisa americana sobe 0,95%, negociada a R$ 3,503 para venda. Na máxima da sessão, a divisa encostou nos R$ 3,51, atingindo R$ 3,509. Foi a maior cotação já atingida em um pregão desde 16 de junho de 2016, há quase dois anos. Mesmo antes da valorização desta quarta-feira, corretoras de câmbio do Rio já comercializavam o dólar turismo por até R$ 3,83 na tarde de ontem. Em cenários turbulentos como esses, especialistas recomendam cuidado redobrado na hora de comprar dólares para viagens.

No mercado de ações, a B3 (antiga BM&FBovespa) opera em queda, com o Ibovespa, índice de referência da Bolsa, recuando 1,09%, aos 84.533 pontos. O índice local acompanha seus pares internacionais, com as Bolsas estrangeiras caindo diante de resultandos corporativos aquém das expectativas.

ALTA DO DÓLAR, UM FENÔNEMO GLOBAL

A valorização do dólar é um fenômeno global, com o índice Dollar Spot - que mede sua força frente a uma cesta das dez divisas mais importantes do mundo - avança 0,45% e está no maior nível em três meses. Mesmo diante de uma cesta mais ampla, o dólar sobe contra as 31 moedas mais relevantes, exercendo maior pressão sobre o rublo russo (alta de 1,31%), o peso mexicano (1,19%) e o peso colombiano (0,95%).

Mais uma vez, o dólar é pressionado pelos títulos do Tesouro americano, os chamados Treasuries, cujos juros ultrapassaram os 3% pela primeira vez desde 2014 ontem. O Treasuries de 10 anos é considerado um dos papéis mais importantes das finanças globais. 

A taxa de juros associada a ele — chamada de “yield” pelos agentes do mercado — reflete quanto estão cobrando os investidores para emprestar ao governo americano. Nesta manhã, o Treasuries de 10 anos voltou a quebrar a barreira dos 3%, registrando yield de 3,01% agora.

A recente alta se explica, segundo analistas, pela expectativa de que o aquecimento da economia dos EUA levará o Federal Reserve (Fed, banco central americano) a acelerar o ritmo de elevação de sua taxa de juros básica. Isso eleva o custo de captação de recursos para os investidores, fazendo com que eles cobrem mais do governo.

- É mesmo a hora de o Fed agir mais rapidamente, abandonando o gradualismo que marcou esse ambiente de juros nominais perto de zero. O ritmo da economia é muito forte: os EUA vão crescer 2,9% este ano e quase o mesmo ritmo em 2019, segundo o FMI. Isso está acima da média dos países avançados e mais próximos da média dos países emergentes. Adicione-se a essa tendência o estímulo fiscal da recente reforma tributária de Trump - explicou o diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Há também um componente interno influenciando o câmbio. Segundo Italo Lombardi, estrategista para América Latina do Crédit Agricole CIB em Nova York, a queda dos juros brasileiros no momento em que o Fed eleva suas taxas reduz o diferencial de juros entre os dois países. Assim, fica menos atraente para especulares tomarem dinheiro lá fora a taxas baixas para aplicá-lo em títulos públicos brasileiros, operação conhecida como "carry trade". Como menos dólares entrando no país, sua cotação tende a subir.

- Internamente, acredito que o principal componente seja o menor apetite para o "carry trade". Mesmo após a redução da Selic em março, o BC deixou a porta aberta para novo corte. Temos visto um BC mais "dovish" (jargão de mercado para autoridades monetárias mais propensas a afrouxamento de juros) - afirmou.