domingo, 23 de agosto de 2020

Bayern e PSG apostam em artilharia pesada para levar a Champions - Lewandowski e Neymar lideram suas equipes na decisão europeia

 "Neymar, o extraterrestre" foi a manchete de capa do jornal francês L'Equipe na última sexta-feira (21), às vésperas da final da Champions League.

O título chamativo se referia à capacidade mostrada pelo brasileiro em Lisboa de enfim liderar o Paris Saint-Germain rumo ao título europeu, principal projeto do clube há anos e razão pela qual o atacante trocou o Barcelona pela equipe parisiense, em 2017.

Apesar da mensagem positiva na capa, o conteúdo do jornal trazia uma outra reportagem com um alerta: embora tenha feito apresentações decisivas contra Atalanta e RB Leipzig, com assistências nos dois jogos, Neymar perdeu gols nesta reta final que não está acostumado a desperdiçar.

É o tipo de perdão ao adversário que pode ser fatal nesse estágio. Robert Lewandowski, artilheiro da atual edição da Champions, sabe bem disso, e se caracteriza justamente por não perdoar os rivais na frente do gol. Já são 15 na competição, e o polonês, goleador do Bayern de Munique, quer mais.

Neste domingo (23), no Estádio da Luz, ambos serão as principais atrações de suas equipes na decisão do principal torneio de clubes do mundo.

A partida, que não terá a presença de torcedores no estádio, começa às 16h (de Brasília), com transmissão da TNT e da página do Esporte Interativo no Facebook –basta ter uma conta na rede social para poder acessar o jogo ao vivo.

"Nesses pequenos detalhes é que são definidos os jogos da elite. É difícil que apareçam tantas oportunidades de gol. Por outro lado, com a capacidade que tem Neymar, ele sempre terá muitas chances dentro de um jogo", disse o ex-atacante peruano Claudio Pizarro, campeão da Champions com o Bayern em 2013.

A análise fria dos números de Neymar, 28, nesta Champions não dá a dimensão de sua importância para que o PSG alcançasse sua primeira final do torneio na história.

O atacante perdeu os quatro primeiros jogos da fase de grupos, dois por suspensão em razão de atos de indisciplina (fora de campo) na eliminação do time na edição anterior, e outros dois por lesão muscular.

Havia uma cobrança sobre o camisa 10 por ter ficado fora, lesionado, das eliminações consecutivas da equipe nos mata-matas de 2018 e 2019. Mas uma temporada livre de problemas físicos mais graves permitiu ao brasileiro não só participar dos confrontos eliminatórios, como ser decisivo.

Diante do Borussia Dortmund, nas oitavas de final, marcou na derrota por 2 a 1 na Alemanha e também na partida de volta, em Paris, que terminou com triunfo por 2 a 0 e classificação.

Nas quartas de final, já no formato de jogos únicos elaborado pela Uefa para a fase final em Lisboa, liderou o PSG na virada contra a Atalanta nos acréscimos.

Ante o RB Leipzig, dessa vez melhor municiado por um meio de campo mais criativo, o que lhe permitiu atuar mais perto do gol, e com Mbappé desde o início, teve outra boa atuação. Com mais uma assistência, ajudou o PSG a confirmar um lugar na final.

Neymar e Mbappé, juntos, anotaram 49 gols na temporada, 8 na Champions League. O jovem atacante francês de 21 anos é goleador dos parienses na temporada e tem mostrado ser bastante efetivo na frente dos goleiros: foram 30 gols em 36 partidas até aqui, média de 0,83 gol por jogo, maior que a de Neymar, com 0,73.

O bom entendimento entre os dois astros do Paris Saint-Germain, que ganharam o importante retorno de Di María na semifinal, parece ser o caminho para que o time, forte principalmente por suas individualidades, conquiste o sonhado título europeu.

Robert Lewandowski, atacante do Bayern de Munique e artilheiro da Champions com 15 gols, e seu colega de equipe, Thomas Müller comemoram gol
Robert Lewandowski, atacante do Bayern de Munique e artilheiro da Champions com 15 gols, e seu colega de equipe, Thomas Müller (ao fundo) - Franck Fife - 08.ago.20/AFP

Por outro lado, se Neymar não tem conseguido transformar suas melhores chances em gol, Robert Lewandowski é sinônimo de efetividade. Com média de 1,2 gol por jogo, o polonês de 32 anos faz a sua melhor temporada desde que chegou no Bayern de Munique, em 2014.

Artilheiro da Bundesliga, é também o goleador desta edição da Champions. Autor de 15 gols no torneio, está a apenas dois do recorde em uma única edição, que pertence a Cristiano Ronaldo.

Para Lewandowski, a conquista em Lisboa será a coroação do auge de sua carreira, mas principalmente a resolução de uma conta pendente para o atacante.

Na Champions de 2012/2013, o polonês era um dos destaques do Borussia Dortmund que fez a final alemã do torneio diante do Bayern. Os bávaros ficaram com a taça e encerraram a temporada com a tríplice coroa, algo que tanto o PSG como o próprio Bayern (de novo) poderão alcançar neste domingo.

Duas temporadas depois, Lewandowski desembarcou na Baviera em busca do título europeu, engasgado desde a final em Wembley. Em suas cinco campanhas anteriores, o centroavante não conseguiu superar a marca de dez gols.

Nas últimas duas eliminações do Bayern, para Liverpool nas oitavas de final (2018/2019) e Real Madrid na semi (2018/2018), o polonês passou em branco, e os adversários que eliminaram os bávaros conquistariam mais adiante o troféu.

Os questionamentos com relação ao seu real poder de decisão contra os rivais europeus eram similares aos de Neymar, que também tinha sucesso nas competições domésticas com o PSG, mas falhava na Champions.

Lewandowski, entretanto, eliminou qualquer dúvida sobre sua capacidade de decidir a favor do Bayern com os gols e as assistências da atual edição que, somados, contribuíram diretamente para 21 gols do Bayern.

Mas o atacante de 32 anos, diferentemente de Neymar, que é ao mesmo tempo arco e flecha de sua equipe, é só a ponta de um time organizado e totalmente voltado ao ataque, com um grande poder de pressionar o adversário em seu próprio campo e recuperar a bola mais perto da meta rival.

Nesse trabalho de pressão, Lewandowski conta com a companhia de um mestre no assunto, Thomas Müller. O alemão, campeão europeu em 2013 e da Copa do Mundo de 2014, estava em baixa na temporada com o técnico anterior Niko Kovac, mas a troca de comando fez bem ao atacante.

Recuperado por Hansi Flick, Müller terminou a Bundesliga com oito gols e foi o líder de assistências, com 21. No torneio europeu, marcou quatro vezes e deu três passes para gol.

Ao lado da dupla de ataque, quem também chega em alta para a decisão é Serge Gnabry. Autor de dois gols diante do Lyon, o alemão de 25 anos tem nove na competição e é o vice-goleador do time, com média de um gol por jogo na Champions.

Com Lewandowski e Neymar liderando os seus ataques, o título da Champions poderá definir ainda o ganhador do prêmio de melhor do mundo. Com Messi e Cristiano Ronaldo eliminados antes mesmo das semifinais, o torneio abriu o caminho para que a Fifa premie um "novo Modric".

Em 2018, o croata foi campeão europeu com o Real Madrid e vice-campeão do mundo com sua seleção, o que o levou a ser eleito o melhor do planeta.

Mas este ano não terá Mundial nem outros torneios importantes de seleções. Isso é, para os que almejam o reconhecimento individual, e Neymar e Lewandowski estão bem próximos disso, a nota de corte será estabelecida, fundamentalmente, por aquilo que eles farão ou deixarão de fazer neste domingo, no Estádio da Luz.

Bruno Rodrigues, Folha de São Paulo