A Operação Tris in Idem, deflagrada nesta sexta, 28, revelou uma série de suspeitas do Ministério Público Federal (MPF) sobre a gestão Wilson Witzel (PSC). Além do próprio governador do Rio, que já é alvo de um processo de impeachment na Assembleia Legislativa por denúncias de irregularidades em contratações emergenciais na pandemia, seu vice, Cláudio Castro (PSC), e pelo menos cinco secretários em exercício ou exonerados são investigados pela Procuradoria.
Documento
O inquérito enfraquece o governo, que já vem isolado politicamente, e arrasta membros do alto escalão para o centro da apuração criminal. Além de Edmar Santos, ex-secretário de Saúde que fechou acordo de delação premiada com as autoridades, de seu ‘número dois’ na pasta, Gabriell Neves, preso em maio por denúncias de improbidade, suspeitas sobre o envolvimento de outras secretarias em diferentes frentes de irregularidades constam na representação de 403 páginas assinada pela subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo.
Segundo o documento, o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão, preso na operação de ontem, atuaria como interlocutor entre o governo e Mário Peixoto para alinhar detalhes do suposto esquema de direcionamento de licitações em favor de organizações sociais controladas pelo empresário. Classificado como ‘pessoa de confiança’ de Witzel e de Peixoto, ele é suspeito de participar da operacionalização do plano para ocultar, através de seu próprio escritório e do escritório da primeira-dama, Helena Witzel, o recebimento de propinas pagas pelo empresário.
Também supostamente ligados a Mário Peixoto, os secretários de Educação, Pedro Fernandes, e de Ciência e Tecnologia, Leonardo Rodrigues, teriam sido indicados pelo executivo. Rodrigues ainda teria recebido propinas de um segundo empresário, José Carlos de Melo, para garantir contratos a empresas ‘agenciadas’ por ele.
Alvos de buscas na operação de ontem, os secretários de Governo, Cleiton Rodrigues, e da Casa Civil, André Moura (PSC), são suspeitos de encabeçarem suposto esquema de loteamento de cargos para apadrinhados de deputados estaduais. Em delação, Edmar Santos afirmou que cerca de 1.800 vagas de porteiros, auxiliares de limpeza, seguranças e funções de nível técnico foram oferecidas a deputados em troca de apoio politico. O MPF também indicou foi apurado que parlamentares podem ter se beneficiado de desvios de dinheiro público relacionados a sobras dos duodécimos do Legislativo.
O secretário de Cidades, Juarez Fialho, que também é tesoureiro do PSC, é citado na representação do Ministério Público Federal como sócio de um suposto operador financeiro do Pastor Everaldo, apontado como coordenador de um dos grupos beneficiados sistematicamente por contratações irregularidades do governo. A Procuradoria também chamou atenção para o participação de Fialho como sócio de empresas interligadas e como titular de uma offshore na Suíça.
COM A PALAVRA, O GOVERNADOR WILSON WITZEL
Em nota, o governador afirmou: “A defesa do governador Wilson Witzel recebe com grande surpresa a decisão, tomada de forma monocrática e com tamanha gravidade. Os advogados aguardam o acesso ao conteúdo da decisão para tomar as medidas cabíveis”.
Em pronunciamento o governador afastado se disse ‘indignado’ e ‘vítima de perseguição política’.
COM A PALAVRA, OS ADVOGADOS ERIC TROTTE E BRUNO ALVERNAZ, QUE REPRESENTAM O SECRETÁRIO LEONARDO RODRIGUES
Acerca dos fatos relacionados à Operação “Tris in Idem” noticiados pela imprensa, o Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Leonardo Rodrigues, vem através dos seus advogados, informar que ainda não teve acesso aos autos do inquérito. Ressalta, no entanto, que não praticou qualquer crime e que as afirmações do delator Edmar Santos não passam de meras ilações desprovidas de relação com a realidade fática.
Ademais, em que pese a empresa da qual o secretário é sócio tenha sido alvo de busca e apreensão, nada foi apreendido na sua sede, o que demonstra a inexistência de qualquer ato ilícito relacionado à empresa e ao Secretário.
COM A PALAVRA, OS DEMAIS SECRETÁRIOS DE WITZEL
A reportagem busca contato com os secretários citados na representação do Ministério Público Federal. O espaço está aberto para manifestações (rayssa.motta@estadao.com).
COM A PALAVRA, O PASTOR EVERALDO
O Pastor Everaldo informa que, no dia 19 de agosto, encaminhou petição ao STJ solicitando para ser ouvido.
Na manhã desta sexta-feira, foi surpreendido com sua prisão e com a busca e apreensão realizadas em seus endereços.
Após ser preso, o Pastor Everaldo pediu para ser ouvido ainda hoje. O depoimento, no entanto, só deve acontecer na próxima segunda-feira, dia 31.
O Pastor Everaldo reitera sua confiança na Justiça.
Rayssa Motta, Pepita Ortega, Paulo Roberto Netto, Fausto Macedo, Rafael Moraes Moura e Caio Sartori, O Estado de São Paulo