sábado, 29 de agosto de 2020

'Quero colocar foco na Fiesp', diz Roriz ao anunciar candidatura à presidência da entidade

 Em junho, José Ricardo Roriz Coelho, vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), escreveu um artigo publicado afirmando que “a Federação e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp) precisam mudar”.

Agora, após o anúncio de que Paulo Skaf, presidente das instituições desde 2004, não iria tentar se reeleger novamente, Roriz resolveu lançar sua candidatura.

José Ricardo Roriz Coelho, vice-presidente da Fiesp e presidente da Abiplast
José Ricardo Roriz Coelho, vice-presidente da Fiesp e presidente da Abiplast - Karime Xavier - 08.jul.2018/Folhapress

O senhor é o vice do Skaf... Do Skaf não, sou da Fiesp. Foi uma chapa única na última eleição. Sou presidente de um sindicado importante do país e fui eleito vice-presidente da federação. Nos afastamos, pelo que eu tenho conhecimento, porque ele nunca me disse isso, por termos visões diferentes dos rumos que as instituições deveriam tomar.

Que tipo de visão diferente? Fiesp tem de se caracterizar para ser de excelência em termos de gestão, para ter um compliance [abertura na divulgação de informações] que seja exemplo para toda a indústria de São Paulo e do Brasil. Deve ter reuniões de qualidade. Atrair empresários. Não só os da Paulista mas os de pequenas fábricas na periferia e no interior.

Existem 130 mil empresas industriais no estado, a Fiesp não pode ser um centro de indústria para poucos empresários.

Mas, mesmo sendo vice dele, o sr. decidiu se candidatar agora numa chapa de oposição. Quando decidiu ser candidato? Estava aguardando. Segundo relatos, o Skaf estava se movimentando para mudar o estatuto e tentar a permanecer nas entidades por mais um período. Decidi me candidatar e comentei isso com alguns presidentes de sindicatos e empresários, hoje tem muitos empresários que estão fora das entidades e que me encorajaram a fazer isso. Coloco minha candidatura para fazer as mudanças que precisam ser feitas e colocar um novo ciclo.

Um das minhas primeiras ações seria determinar que o presidente fique no máximo uma reeleição, com mandatos mais curtos. Até para ter uma alternância, e também para que os diversos setores que compõe a indústria possam ter a experiência de ter um representante na presidência.

Mas quando essas visões diferentes que o sr. mencionou ficaram mais evidentes?

Acho que foi quando eu assumi como presidente [Roriz esteve na presidência de maio a outubro de 2018, durante a campanha de Skaf ao governo de São Paulo]. Muitas vezes, quando tem uma pessoa pessoa que fica muito tempo num cargo, pode misturar agenda pessoal com a agenda da indústria. E eu acho que foi isso que aconteceu.

Mas lá eu acho que cumpri o meu papel, embora o tempo na presidência tenha sido curto e eu não pudesse contar com toda equipe, porque alguns saíram para a campanha do Paulo. Mas independentemente disso, consegui tirar o foco das entidades da eleição. E hoje eu me sinto muito mais bem preparado.

Mas vocês chegaram a romper? Não rompi com ninguém. Tenho um ótimo relacionamento com todos da Fiesp e do Ciesp. Mas, quando o Paulo voltou da eleição, ele foi esvaziando meu papel dentro das casas, e, com o tempo, apesar de ser segundo vice-presidente, eu praticamente não fui convidado a participar dos grandes debates da casa.

Dizem que o candidato do Skaf é Josué Gomes da Silva [filho do José Alencar]?É isso? Tive notícia de que ele vai lançar um candidato, como se ele não precisasse consultar os empresários de São Paulo. Porque não é o candidato do presidente da Fiesp, é o candidato dos empresários de São Paulo.

O ideal é que a pessoa participe da agenda de São Paulo, que tenha uma presença marcante, que conheça interior, quais são as demandas dos empresários. Eu só quero defender que o processo eleitoral seja amplo e transparente. Com regras claras e acessíveis. Isso não pode ser decidido usando as estruturas das casas em benefício de um candidato. O presidente não pode usar da estrutura das casas para impor um ou outro nome.

Como assim? Não pode fazer almoços, reuniões, usar o prédio e a infraestrutura para defender o candidato dele.

Caso seja eleito, o senhor pretende fazer uma investigação na federação? O objetivo não é esse. Meu objetivo é trazer quem está fora para dentro, quero colocar foco. Dar oportunidade para que diversos segmentos e tamanhos de empresas possam participar das decisões. O ciclo dele [Skaf] já passou. Não vou olhar para trás, quero olhar para a frente.

No ciclo dele, algumas coisas boas ocorreram, mas agora existe a necessidade de mudança. Pretendo diminuir para três anos o prazo para a presidência [hoje, são quatro], com direito a uma reeleição. Não pode personalizar.

Sinto o setor do agro, por exemplo, extremamente organizado.

Não tem personalização, nem vaidade. A indústria ganhou protagonismo nacional neste ano com o grupo conhecido por Coalizão, do qual você faz parte. A Fiesp está enfraquecida? Falta unidade na indústria para que tenham as propostas que sejam discutidas no âmbito nacional. Falta uma convergência que deveria existir entre as federações. O foco é o desafio para lidar com tecnologias que têm que ser incorporadas, como 5G, por exemplo. Para ter uma indústria competitiva e moderna.

Bruna Narcizo, Folha de São Paulo