Os ajustes no governo e as entregas preocupam um presidente em campanha pela reeleição. Uma campanha antecipada pelo próprio ritmo imposto por Bolsonaro com seu estilo de bater duro nos adversários e largar alguns corpos pelo caminho sem dó, piedade ou gratidão. Além dele, já estão na estrada o ministro Sergio Moro e Luciano Huck. Outros virão, especialmente da esquerda.
Em Davos, Luciano Huck foi chamado de o próximo presidente do Brasil, afagado por banqueiros e homens de negócios. Bateu duro no discurso nazista do ex-secretário de Cultura Roberto Alvim e semana passada ultrapassou Bolsonaro em relevância nas redes sociais. Huck tende a crescer, principalmente durante as eleições municipais deste ano apoiando candidatos. Homem do entretenimento, sabe perfeitamente o que fazer, como fazer, qual figurino. Tem carisma e é virgem de urna.
No mesmo rumo está o ministro Sergio Moro. Outro virgem de urna que tem aprendido rápido a fazer campanha e ocupar espaços. Seus embates com Bolsonaro renderam a ele mais relevância nas redes, seguidores e popularidade. Como dizia Leonel Brizola, é um político pão de ló: quanto mais apanha, mais cresce. Moro bateu de frente com o presidente da República, o presidente da Câmara Rodrigo Maia, a esquerda e boa parte do Parlamento. Apanhou um bocado, mas não parou de crescer.
Dos 3 postulantes em campanha aberta é aquele com discurso capaz de seduzir amplos setores do eleitorado, tanto de centro quanto de direita. Moro pode dizer –e o fará no momento certo– que condenou mais de 100 pessoas quando era juiz da Lava Jato. Entre elas, não havia nenhum pobre, nenhum negro e nenhum gay. Apenas homens brancos, ricos e poderosos. A maior parte deles confessou ter roubado dinheiro público que poderia ter sido usado para construir hospitais, escolas, investido em transporte público, melhorado a vida das pessoas. Este discurso do DNA anticorrupção só Sergio Moro pode fazer e todas as pesquisas com circulação reservada indicam sua ampla aderência na classe média e por parte do eleitorado conservador das regiões metropolitanas que começa a dar sinais de desilusão com o Bolsonaro.
Estes sinais surgem quando a economia começa a ficar cada vez mais descolada da política. Paulo Guedes, ao contrário dos seus antecessores, incluindo o competente Henrique Meirelles, anda pelas próprias pernas. Ou seja: manda. Está cada vez mais confortável, especialmente depois de ajudar a tocaiar e estrangular Onyx Lorenzoni, o único ministro que não tinha medo de enfrentá-lo, limpando o caminho para impor seu ritmo e ocupar toda a pista.
Se conseguir fazer o Brasil crescer, como tudo indica, Guedes pode não dividir com Bolsonaro todos louros, sobretudo se ficar clara para o respeitável público a percepção de que ele não é um subordinado do presidente, mas um parceiro de poder. Ainda é cedo para saber até onde o sucesso de Paulo Guedes se transformará em alavanca de ambição política. Isso só o tempo dirá, mas não é impossível nem improvável que ele esteja fora do jogo da sucessão em 2022.
A campanha prematura leva os atores políticos mais astutos e experientes esperarem a hora certa para entrar em cena. Este ano teremos eleições municipais. No ano que vem mudará o comando da Câmara e do Senado. Até a eleição presidencial será uma guerra disputada palmo a palmo. Por isso, é sempre bom lembrar do general Sun Tzu (Arte da Guerra), ensinando que o objetivo final num conflito é sempre a vitória, porém é muito importante “manter intacto o maior número possível de bens sociais e materiais e não destruir todas as pessoas e coisas que estejam no caminho”. É o que Sun chama de princípio da conservação geral; vencer sem o desgaste da luta corpo a corpo. Numa campanha isso significa somar e vencer fazendo política antes, durante e depois. E principalmente errando pouco.
Poder360