terça-feira, 3 de julho de 2018

"Transmissão de energia atrai mais investidores", editorial do Estadão

O mais bem-sucedido de todos os leilões de transmissão de eletricidade promovidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) foi vencido por uma empresa indiana, a Sterlite Power. Os deságios oferecidos foram recordistas, confirmando que quando há confiança na segurança jurídica dos contratos cresce o interesse de investidores externos e internos em aplicações de longo prazo.
“Nenhum país do mundo tem um histórico de 20 anos de concessões de transmissão de energia como o Brasil”, declarou o presidente mundial da companhia vencedora, Pratik Agarwal. Tão ou mais importante é a afirmação do executivo indiano de que “não acreditamos que nenhum partido (que ganhe a eleição presidencial de outubro), seja de direita ou de esquerda, vá interferir em projetos antigos”. A empresa venceu seis dos principais lotes oferecidos pela agência reguladora e já havia arrematado lotes em leilões de transmissão realizados no País em abril e dezembro do ano passado.
O leilão recente ofertou 20 lotes em 16 Estados, envolvendo uma extensão de 2,6 mil km de linhas de transmissão. Os investimentos previstos são de R$ 6 bilhões e os vencedores ofereceram deságio médio de 55%. O deságio mais alto atingiu 74% e foi proposto pela colombiana ISA Cteep, que opera no Estado de São Paulo.
Houve outros nove vencedores, indicando diversificação de investidores externos e internos. A moldagem do certame foi feita com vistas a atrair empresas de menor porte, favorecendo intensa disputa por vários lotes. O diretor da Aneel André Pepitone enfatizou o êxito do leilão. O deságio oferecido, calcula ele, permitirá uma economia vultosa para os consumidores, estimada em R$ 14,1 bilhões durante o prazo dos contratos.
A opção por atrair mais empresas menores do que em leilões passados ajuda a evitar a concentração de riscos, nos casos de insolvência do vencedor. Num dos maiores projetos de geração do País (Belo Monte), o grupo vencedor do linhão de transmissão (o espanhol Abengoa) abandonou a construção em 2015, sendo substituído pela chinesa State Grid e pela estatal Eletrobrás. Temeu-se pela entrega do projeto.
Com raras exceções, os investimentos em transmissão são vistos como atraentes pelos investidores locais e estrangeiros por oferecerem remuneração estável no longo prazo.