terça-feira, 24 de julho de 2018

Alckmin diz que recusa de Josué não ameaça aliança com centrão


Fraco desempenho eleitoral em São Paulo, estado que governou por 13 anos, intriga a própria equipe do tucano - Daniel Marenco / Agência O Globo

Gustavo Schmitt, O Globo


O pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB-SP) afirmou no final da noite desta-segunda-feira que uma eventual recusa do empresário Josué Gomes em sua chapa ao Planalto não colocará em risco a aliança com os partidos do chamado centrão (DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade).

— Eu não sei quem vai ser o vice. Seja ou não candidato, Josué é um grande nome. Se não for ele, vamos juntos buscar outro nome. Mas o bloco é ótimo. Tem excelentes quadros - disse o pré-candidato do PSDB, ao sinalizar que o centrão terá a prerrogativa de manter a escolha do vice. A declaração foi feita em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.

O tucano se reuniu duas vezes nesta segunda-feira com Josué, filho do ex-presidente José de Alencar. O nome do empresário foi sugerido pelos partidos do blocão ao ex-governador na semana passada, quando as lideranças selaram o apoio ao pré-candidato. No entanto, Alckmin acabou surpreendido. Josué teria dito que agregaria pouco a chapa e que o tucano poderia ficar livre para fazer sua escolha.

Alckmin minimizou e disse que o encontro com Josué foi "apenas uma primeira conversa". O empresário deve se encontrar nesta terça-feira na capital paulista com o governador Fernando Pimentel (PT-MG), que também tenta atraí-lo para vice em sua pré-candidatura à reeleição.

Alckmin rebateu críticas de adversários como Marina Silva, da Rede, e Jair Bolsonaro (PSL) contra o acordo político com o Centrão. Bolsonaro disse que o tucano reuniu a "nata da corrupção". Já Marina afirmou que os partidos eram o "condomínio da Dilma", numa alusão à base de sustentação dos partidos que levaram a ex-presidente petista ao Planalto.

— É como o caso do rapaz mal educado que vai paquerar e leva um fora. Todo mundo foi lá pedir apoio - alfinetou.

Em outro ponto polêmico que envolve sua aliança com os partidos do blocão, Alckmin descartou a volta imposto sindical, extinto pela reforma trabalhista do governo do presidente Michel. A questão da contribuição sindical foi uma exigência do deputado federal Paulinho da Força, presidente do Solidariedade e que também líder de uma entidade de classe.

Alckmin defendeu a criação de um marco regulatório para os sindicatos, mas não detalhou a proposta.

— Não há hipótese de voltar imposto sindical. O Brasil tem mais de 16 mil sindicatos. Desses 11500 são sindicatos de trabalhadores e tem mais de 5 mil patronais. A reforma vai possibilitar um número menor - concluiu.

A proposta de Paulinho, no entanto, não é recriar o imposto, mas sim deixar para que trabalhadores possam aprovar em Assembleia, desde que com apoio de 20% da categoria, a criação de uma contribuição sindical. O deputado afirmou que Alckmin que concordou com a proposta numa reunião no domingo entre ambos para afinar o discurso.

O pedido de Paulinho foi apenas para que o governo não se intrometesse na negociação. Nesse sentido, a fala do tucano pareceu alinhada com o pedido do seu aliado:

— Os trabalhadores é que vão se organizar. Se vai ter ou não contribuição, é uma questão dos trabalhadores - disse o pré-candidato do PSDB.

O pré-candidato não fugiu ao seu estilo. Citou expressões em latim e disse que seu passatempo predileto é ir a Pindamonhangaba, sua cidade natal, para visitar suas irmãs e tomar cafezinho. Ele voltou a repetir o mantra de que será o candidato do "emprego e renda", que pretende ser um conciliador para governar e disse acreditar em seu crescimento nas pesquisas de intenção de voto (ele está estacionado com 7% nos últimos levantamentos) com a entrada da propaganda eleitoral na TV a partir de 31 de agosto. 

Também reiterou que pretende fazer reformas política, tributária e na previdência. Na educação, disse que pretende priorizar a educação básica infantil (de crianças de zero a seis anos) e adiantou que deve apresentar um estudo para tentar dobrar o salários dos professores, que teriam seu modelo de contratação modificado. Ele não detalhou como isso seria feito e nem de quais rubricas do orçamento sairiam esses recursos.

ALCKMIN DEFENDE ALIADO ACUSADO DE CORRUPÇÃO

Em um momento de maior tensão, Alckmin saiu em defesa de aliados ao ser questionado sobre acusações de corrupção apontadas pela Polícia Federal (PF), que apura desvios de até R$ 600 milhões nas obras do Rodoanel Norte. O caso levou ao indiciamento de Laurence Casagrande, ex-secretário de Transportes de Alckmin e de outras 11 pessoas.
Alckmin disse que acompanhou o caso pessoalmente. Ele afirmou que acredita que Casagrande seja uma pessoa "correta". E reiterou que defende que o caso seja investigados:

—O sempre foi uma pessoa exemplar. Eu acredito que é uma pessoa correta. E que pode estar sendo vítima de uma grande injustiça — disse o tucano.

Para Alckmin, a Dersa, estatal paulista alvo das denúncias, agiu de maneira cuidadosa. O ex-governador explicou que as empresas responsável pela obra pediram reajuste do preço por meio de aditivos porque surgiram rochas no meio do caminho. E que por isso foi formada uma comissão com técnicos que concordaram com o reequilíbrio do contrato, ao contrário do Tribunal de Contas da União. Ele pediu cautela e disse que o caso ainda precisa ser julgado:

— Foram designadas três autoridades de rocha que por unanimidade perceberam que a situação estava correta. Mas um técnico do TCU disse 'eu não concordo' - explicou o ex-governador.