quinta-feira, 7 de junho de 2018

Pessimismo com política faz dólar fechar a R$ 3,925

Dólar, a moeda oficial dos EUA - Mark Lennihan/Reuters



O pessimismo com o ambiente político fez o dólar renovar as suas máximas em mais de dois anos mesmo com a atuação do Banco Central (BC) no mercado de câmbio. A moeda americna fechou a R$ 3,925, uma alta de 2,24% ante o real. Esse é o maior valor desde 1º de março de 2016. Já o Ibovespa, principal indicador do mercado local, derretia 3,16%, aos 73.794 pontos nos minutos finais de negociação.

A escalada do dólar ocorre mesmo com o reforço da autoridade monetária na venda de contratos de "swap cambial", que equilvalem a uma venda de moeda no mercado futuro. Foi feito no final da manhã um leilão extra de 40 mil contratos, o equivalente a US$ 2 bilhões.

Além disso, no início do negócio, já havia sido ofertado um lote de 15 mil contratos (US$ 750 milhões), que vem sendo feito diariamente desde o mês passado. Na máxima, a moeda atingiu R$ 3,968.

A pressão sobre o dólar, que está no maior patamar desde o final de fevereiro de 2016, decorre da incerteza em relação à disputa eleitoral e à fragilidade do quadro fiscal.

Na avaliação de Julio Hegedus Netto, economista-chefe da consultoria Lopes & Filho, essa valorização do dólar decorre também das frustrações com a agenda econômica, em um ambiente que as reformas não avançam, e da fragilidade do governo. Junto a isso, o mercado já aguarda mais uma alta de juros nos Estados Unidos na reunião do Federal Reserve (Fed, o BC americano) na próxima semana.

— O mercado apostou em um agenda econômica que não saiu. O governo até tentou novas medidas, mas é um pato manco. Do lado das eleições, os dois candidatos que se destacam têm caráter mais populista. Tudo isso ajuda a retrair o capital — avaliou.

Os candidatos considerados de centro, e que agradam os agentes do mercado financeiro por defenderem reformas econômicas, não conseguem destaque nas pesquisas de intenções de voto. 

Além disso, com crescimento mais lento da economia do que o esperado, o governo federal continuará com dificuldades em fazer superávits primários, ou seja, gastar menos do que arrecada, e melhorar a relação entre dívida e PIB (Produto Interno Bruto), um dos indicadores que servem para avaliar a saúde fiscal de um país. 



— O nosso quadro fiscal e os ricos eleitorais ainda deverão trazer pressão do dólar ante o real — avaliou Guilherme França Esquelbek, analista da Correparti Corretora de Câmbio.

Além disso, pesquisas de opinião pública mostrando o apoio da população a um maior controle nos preços dos combustíveis e a rejeição de grande parte do eleitorado a uma eventual privatização da Petrobras fizeram crescer a avaliação de que um candidato reformista terá menos chances nas eleições presidenciais.


Além do dólar, os juros futuros seguem em alta. E, por isso, o Banco Central realizou uma oferta de R$ 10 bilhões em títulos públicos no mercado financeiro, em transações de prazo mais longo do que o de costume. O objetivo do BC é reduzir a pressão sobre os juros negociados no mercado e, com isso, dissipar as apostas de parte do mercado de que a autoridade monetária fará uma alta na taxa básica Selic.

POSSÍVEL ALTA DA SELIC

O pessimismo com o ambiente político também afeta os negócios em Bolsa e faz com que os investidores elevem as suas projeções para os juros, esperando elevações da Selic ainda neste ano.

Na avaliação de Pedro Galdi, analista corretora Mirae Asset, o exterior contribui para a desvalorização dos ativos brasileiros, mas como o ambiente interno é muito ruim, a pressão acaba sendo ainda pior. 



- Há uma contaminação interna muito grande. Não há nada de positivo para amenizar esse cenário. Hoje acaba sendo um dia de pânico e então as perdas são ampliadas. Há um fluxo grande de investidores saindo da Bolsa - disse. 



Segundo operadores, o que ocorre nos momentos de maior aversão ao risco é que os investidores começam a "realizar o prejuízo", ou seja, quando a perda atinge um determinado patamar, o "stop", eles passam a vender as ações, contribuindo ainda mais para a queda e para que outros mecanismos de venda sejam disparados. 

A corretora com maior volume líquido de venda de ações é a JP Morgan. Na compra comprado, uma instituição estrangeira também lidera, a Merril Lynch.

Até a semana passada, o consenso no mercado era de que a Selic ficaria estável nos atuais 6,5% ao ano até o primeiro semestre de 2019. Mas, com a alta nas taxas de juros dos contratos interbancários ontem, essa previsão começa a ser revista. Com jruos mais elevados, os investimentos em ações ficam menos atrativos.

A turbulência no mercado brasileiro ocorre em meio a uma forte volatilidade com ativos de países emergentes. A perspectiva de uma alta de juros mais forte nos Estados Unidos tem levado investidores a venderem suas ações e moedas de economias consideradas mais arriscadas. No mês passado, após uma forte alta do dólar frente ao peso, a Argentina subiu juros, anunciou um maior aperto fiscal e foi pedir um socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI). A Turquia, por sua vez, voltou a subir a taxa para 17,75% ao ano.

Na quarta-feira, o economista Mohamed El-Erian, um especialista em mercados emergentes, questionou se o Brasil não seria a bola da vez entre os emergentes.

Em sua conta no Twitter, El-Erian escreveu: "Depois da Argentina e da Turquia, será o Brasil o próximo?"

BOLSA EM QUEDA

No mercado acionário, todas as ações do índice operam em queda - no pior momento do pregão, o índice chegou a cair 6,96%. No caso das mais negociadas, as preferenciais (PNs, sem direito a voto) da Petrobras recuam 5,32%, cotadas a R$ 15,46. As ordinárias (ONs, com direito a voto) recuam 2,95%, a R$ 18,70. Essa desvalorização ocorre mesmo com a alta do petróleo no mercado internacional. O barril do tipo Brent sobe 2,15%, a US$ 76,98.

O pregão também é de queda para a Vale, que cai 4,42%. Os bancos, de maior peso no Ibovespa, também estão em terreno negativo. As preferenciais do Itaú Unibanco e Bradesco recuam, respectivamente, 3,12% e 2,30%.

A queda, no entanto, é liderada pelos papéis da Smiles, que recuam 12,55%. No caso da Via Varejo, o tombo é de 9,83%.
No exterior, o Dow Jones sobe 0,38% e o S&P 500 tem leve queda de 0,10%.

Por Ana Paula Ribeiro, O Globo